Num mundo que se mostra cada vez mais fácil de ser visitado, é cada dia mais comum dizermos tchau para conhecidos que embarcam rumo a outros continentes. Enquanto a maioria vai de férias, já prevendo retorno, outros tantos seguem carregados de malas e mais malas, sem passagem de volta, experimentando uma mudança de país.

"Ah! É coisa de gente jovem, que aproveita as facilidades modernas e encara o desafio de morar longe do Brasil", dirão os conservadores. É verdade que a turma de menos idade aproveita mais as oportunidades que surgem, mas há muitas pessoas com algumas décadas de vida que não têm medo de recomeçar longe da terra natal.

Mudança de país rumo a uma vida mais contemplativa

Mudança de país

Márcia Ribeiro Rocha, 57 anos, por exemplo, há 4 meses deixou a capital paulista – "com a cara e a coragem", como diz – para morar em Lisboa, a capital portuguesa. Publicitária e fotógrafa, foi sozinha. A vontade de trocar de domicílio, ou melhor, de país, surgiu há três anos, quando visitou a filha, uma cidadã do mundo, que residia, à época, em Sintra.


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"Conheci um templo budista e me apaixonei por aquela tradição. Fiquei como voluntária e, voltando ao Brasil, continuei os estudos. Já havia morado em Londres, em 2012, e fiquei com aquela ressaca de coisa linda na cabeça, o que voltei a sentir 4 anos depois, em Lisboa. Decidi vir para aprofundar meus estudos no Dharma e ter uma vida mais contemplativa, que não conseguia no Brasil, pela loucura que é viver em São Paulo", diz.

A decisão de enfrentar a mudança de país não veio de uma hora para outra. Márcia confessa que "virou a mesa" aos 50 anos, quando vendeu o estúdio de fotos que mantinha em Santos (litoral de São Paulo), alugou o apartamento e foi para Londres por dois meses. Logo depois, mudou-se para São Paulo, onde compartilhou casas com outras pessoas.

"Você joga para o universo, ele recebe o seu desejo e tudo vai caminhando para desembocar lá no corredor do aeroporto."

"O processo precisa começar dentro da gente. Depois, o resto vem como consequência. As causas e as condições vão se reunindo. Você joga para o universo, ele recebe o seu desejo e tudo vai caminhando para desembocar lá no corredor do aeroporto. Foi assim que ocorreu comigo. Nunca tive pressa, pois sabia que a hora certa iria chegar e eu iria saber", comenta.

Estar mais perto das filhas e se aprofundar na religião oriental deram à Márcia a força que precisava para a transição: "Não poderia ter vindo antes, pois não tinha noção da palavra desapego, o que aprendi com o budismo. Precisamos desapegar de coisas, pessoas, sentimentos e crenças, o que não é nada fácil pra quem vive no cotidiano pré-estabelecido, em uma sociedade de consumo como a nossa. No momento, minha vida se resume a duas malas e estou feliz assim!"

Oportunidade de trabalho com a mudança de país

Mudança de país

Outra paulista que também deixou o país recentemente foi a jardineira Regina Guidi Gonçalves, 59 anos. Há pouco mais de 6 meses, ela e o marido Wagner moram em Marietta, pequena cidade no estado da Geórgia, Estados Unidos. Mudaram-se para lá diante de uma boa oportunidade de trabalho.

Fazer uma transformação dessas quase aos 60 anos é muito louco, mas está sendo renovador. Me sinto rejuvenescida, aberta para o que vier.

Dois irmãos dela já residem há muito tempo em solo americano. Ano passado, o casal foi visitá-los. O marido se encantou de cara. Ela, ainda indecisa, pediu que ele esperasse um ano para se preparar, até que a mudança acontecesse. "Mas as oportunidades de trabalho estavam ficando cada vez mais escassas no Brasil. Seis meses depois, meu irmão abriu um negócio e queria o Wagner junto. Ele chegou antes e eu vim quatro meses depois", conta.

Mudança de país

A mudança não foi fácil, sobretudo sob o ponto de vista psicológico. "Foi complicado, passei por todas as fases, mas tive uma preparação boa e foi um processo bom de renovação", avalia Regina. A língua ainda é um grande desafio e fator limitante, sobretudo para ela exercer sua profissão, já que fala pouco o inglês – o que já está tentando resolver, com aulas. "Quando aprender a língua é que vou poder entrar na cultura do povo e me adaptar melhor", acredita.


Em contrapartida, tem achado incrível viver em um lugar com natureza tão abundante e exuberante e com a infraestrutura que os Estados Unidos têm. "A adaptação do espaço físico está tranquila", afirma. Não só isso, Regina sente que a mudança está valendo muito. "Me sinto renovada. Fazer uma transformação dessas quase aos 60 anos é muito louco, mas está sendo renovador. Me sinto rejuvenescida, aberta para o que vier", afirma.

Mudança de país para ficar perto dos netos

Mudança de país

Com filhos espalhados pela Europa, a enfermeira Eliane Torres de Ávila, 59 anos, e o médico Manoel Alonso de Ávila, 61 anos, seu marido, planejavam sair do país há algum tempo.

Quando a filha, mãe de seus netinhos, escolheu a Itália para morar, levando os "bambinos" para longe, eles não tiveram dúvidas: decidiram também estabelecer residência no país europeu, lugar que nunca haviam estado anteriormente.

Organizaram tudo e embarcaram rapidinho. "Sempre estivemos prontos para mudanças. Como já tínhamos planos, um mês foi suficiente para fazermos as malas e decidirmos o que iria e o que ficaria no Brasil", comenta Eliane. A mudança para Caselle Lurani, uma pequena cidade pertinho de Milão, ocorreu em julho passado.

"Pensamos que os primeiros anos com os netos definiriam as memórias deles. Sabemos que crescem rápido e logo não haveria tempo para nós na vidinha deles. Isso nos deu força para a decisão", revela a enfermeira.

“Estou descobrindo possibilidades que não existiam antes. Tudo tem um tempo certo, mas poderíamos ter feito isso antes”

A adaptação está sendo muito boa. Surgiram alguns entraves, é verdade, como alugar um apartamento – por conta da burocracia, das leis de inquilinato, da não fluência do idioma e do fato de serem estrangeiros, mesmo com cidadania italiana –, desafio que demorou três meses.

"Mas o povo é simpático, a comida é igual à do Brasil, só que mais barata, o idioma é muito próximo. E como é um país de pessoas mais velhas, na nossa idade estamos aptos para trabalhar. Há muito respeito!", diz Eliane. Ambos atuam em áreas diferentes da formação acadêmica, pois ainda não definiram se vão encarar os custos elevados e a burocracia para transferir os diplomas.

"Está sendo uma experiência bem positiva. Estou descobrindo possibilidades que não existiam antes. Tudo tem um tempo certo, mas poderíamos ter feito isso antes", avalia.

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