Em maio do ano passado, Ivani Schmidt recebeu uma caixinha de seu filho mais novo, João. Dentro, havia uma foto dele beijando a barriga da mulher e o exame de gravidez. “Foi uma festa só! E aí caiu a ficha: Vou ser vovó aos 55 anos!”, conta. Meses depois, recebeu a notícia que a filha do meio, Vivian, também vai ser mãe.

Avó de primeira viagem, Ivani conta que acompanhou à distância a gravidez, já que o filho mora na Europa. “Via por foto, vídeo, mas não deu para participar muito.” Em dezembro, ela conheceu a neta, Antonella. “É uma emoção diferente, única. É uma bebezinha, que já é sempre lindinha, mas é a filha do meu filho, uma continuação minha, tem um pouquinho de mim.”

Para a microempresária, segurança é a palavra que diferencia a sensação de ser mãe e avó. Mãe aos 22 anos de Rafael, o primogênito, ela lembra que ficava muito preocupada e chegava até a chorar. Hoje, com três filhos criados, diz que está preparada para ajudar: “Você sabe cuidar. E fica até prestando atenção para ver se a mãe está insegura e precisa de algo”.


Notícias, matérias e entrevistas sobre tudo o que você precisa saber. Clique aqui e participe do grupo de Whatsapp do Instituto de Longevidade!


“Os avós tendem a querer passar para os recentes pais toda sua experiência em relação aos cuidados para com o bebê”, diz Rita Bizon, mestre em psicologia e psicanálise. “Mas é importante que saibam respeitar e dar espaço para que os pais de primeira viagem ganhem experiência no dia a dia com o cuidado com os pequenos. É primordial que tenham um espaço para fazerem seu papel de pais.”

Para Ivani, “o desafio é ser a avó querida” sem colocar em prática o ditado de que “filho é para cuidar, avó é para estragar”. “Os avós querem mimar, pois estão com tempo para isso”, pontua a psicóloga. “Querem fazer o que não tiveram tempo de fazer com os filhos, mas é dos pais a responsabilidade de educar, tarefa esta que não deve ser atribuída a outras pessoas ou instituições.”

“Escutar os avós é sempre bom, mas as conclusões devem ser dos pais”

“Os avós não querem deixar o netinho decepcionado, falando ‘minha vó brigou comigo’. Então, a gente acaba aceitando mais coisas de neto. Mas, com certeza, vou corrigir e não deixar fazer nada de errado”, diz Ivani. “A criança precisa aprender a ter bons modos e limites desde bem pequena, não importa o local onde esteja”, reforça Rita.

O papel dos avós de primeira viagem

Escutar os avós é sempre bom, mas as conclusões devem ser dos pais. Por exemplo, antigamente, tinha-se o costume de dar uma sobremesa para o bebê; hoje, sabe-se que é desnecessário e não se deve acostumar a criança com a ingestão de açúcar. “Os conhecimentos trazidos pelos avós são bem-vindos, mas é preciso bom senso”, diz.

“Muitos são válidos, porém outros são crendices, que, avaliadas pela ciência, caíram em desuso”, exemplifica a especialista. Contudo, algumas estratégias que foram usadas por eles, hoje, são comprovadas como eficazes, como a de que bebês adoram rotina e que alguns alimentos que a mãe lactante ingere podem provocar dor de barriga na criança.

A psicóloga, entretanto, lembra que “os avós de hoje não podem ser comparados com aquela figura dos de antigamente, que tricotavam e faziam bolo”. “Posso até fazer um bolo quando vierem”, diz Ivani, que já avisou aos filhos que não quer o compromisso de cuidar de netos todos os dias. “Quero manter uma vida ativa para ser uma vovó enxuta”, brinca. “E gosto de fazer cursos e sair com amigos.”

A microempresária, no entanto, já se vê pensando em programas para fazer com as netas. Mas diz que será mais a avó passeadora do que a avó que senta para brincar no chão. “Esses afazeres de fazer roupinhas de boneca e lançar pião estão ficando meio de lado, pois tanto as crianças quanto os avós estão focados em outras atividades”, comenta Rita. “Os pequenos gostam de ver vídeos, brincar no celular, com jogos interativos, enfim, as brincadeiras estão mudando.”

Compartilhe com seus amigos