Vocês passaram muitos anos juntos. Passearam lado a lado e se divertiram com pequenas coisas. Até que um dia você percebe que ele está mais quieto e que já não tem os mesmos interesses de antes. Pois é, seu animal de estimação – seja cão, seja gato – também está envelhecendo e vai exigir cuidados especiais nessa fase.
“Nos últimos anos, tem crescido a consciência de que o animal idoso é uma pérola que precisa de atenção”, destaca a veterinária Emília Correia Souza, 73 anos. A longevidade e o bem-estar do bichinho dependem diretamente do dono.
Na prática, significa que aquele amigo fiel vai demandar atenção em relação à saúde. É como a consulta de rotina com o médico – nesse caso, com o veterinário. Segundo o veterinário Fernando Patitucci, 73 anos, cães devem passar por acompanhamento anual a partir dos 8 anos de idade; gatos, dos 6.
Patitucci explica que são pedidos exames laboratoriais – sangue e urina. “Eles podem revelar, por exemplo, processos renais, que são silenciosos e que levam a doenças crônicas, principalmente em gatos”.
A boa notícia é que os animais de estimação, assim como os humanos, também têm vivido mais. “A medicina veterinária vem evoluindo vertiginosamente”, diz ele. O segredo, além dos cuidados em saúde, é dar amor, mas tratar o animal de estimação como um bicho de estimação, não como um humano, segundo Patitucci. Os bichos precisam de exercício, ar livre e alimentação adequada, “não ração batida”, exemplifica ele.
Primeiros sinais
Cães e gatos possuem traços comuns no envelhecimento: brincam menos e dormem mais. Não é doença, mas um processo natural pelo qual vão passar ao longo dos anos.
Cor do pelo
Nos cães, os pelos do focinho e do maxilar começam a ficar mais claros – algo entre branco e acinzentado. Esse processo, esclarece a veterinária, começa entre os 6 e 7 anos de idade.
Dentes
Dê uma olhada na boca do animal – ou peça ao veterinário. Com o tempo, há acúmulo de tártaro, que tem de ser removido no consultório. “Mais do que perda dos dentes, ele pode causar problemas hepáticos, renais e cardíacos”, sinaliza o veterinário.
O acompanhamento anual dos dentes deve começar aos 5 anos de idade. Algumas raças têm mais propensão a problemas odontológicos e precisam de monitoramento mais frequente.
Patitucci recomenda dar ossos de boi, que são duros. Ao roê-los, o animal de estimação fica menos propenso a desenvolver tártaro. E a não oferecer doces ou ração batida, cujos restos ficam presos nos dentes, o que propicia o acúmulo de bactéria.
Mas atenção: ossos de galinha podem perfurar órgãos dos bichos. Mantenha-os bem longe do pet.
Alimentação
Com o envelhecimento, o metabolismo muda, o que faz com que os cães precisem de menos proteína. “Ela é absorvida com mais dificuldade”, destaca Souza. O ideal, segundo ela, é fazer ajustes na comida.
Há opções de ração específica para cães e gatos mais velhos. Elas vêm com antioxidantes e componentes nutricionais equilibrados para o animal de estimação que está envelhecendo. Mas a troca, explica o especialista, deve ser feita sob a supervisão do veterinário, que vai avaliar os exames e verificar a necessidade de alteração.
Se o cão ou o gato está rejeitando o alimento, podem ser os dentes. Nesse caso, vale umedecer a ração com um pouco de água.
Se, no limite, você decidir dar comida, atenção às quantidades. Souza ensina a combinar 25% de proteína, 25% de cereal e 25% de legumes.
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Sinais de atenção
Incontinência urinária: Se seu pet está liberando umas gotas de xixi fora do lugar, procure um especialista. O sintoma pode estar relacionado a doenças renais. “O rim é o órgão mais precioso do organismo”, sinaliza Souza.
Sangue na urina: Também tem relação com os rins e exige ação imediata.
Opacidade do olho: Pode ser tanto um processo natural quanto um sinal de catarata, por exemplo. Existem tratamentos para retardar a doença.
Falta de apetite: É quase um pedido de ajuda. Quando o animal perde a fome, é sinal de que algo está fora do lugar. Pode ser um problema simples, como vermes. Mas, na dúvida, é melhor marcar uma consulta.
Excesso de apetite e de sede, com grande volume de urina: Alerta para diabetes. Exames podem confirmar ou não o quadro, o que significará mudanças, como a de alimentação.
Convulsão: Encare como emergência. Em caso de epilepsia, o tratamento com medicação oral freia as crises.
Obesidade: O excesso de peso pode levar a diabetes.
Nódulos: Ao pentear o animal de estimação, verifique se ele tem nódulos pelo corpo. Nas fêmeas, é bom prestar atenção às mamas. Se notar irregularidades, marque uma consulta.
Irregularidade do cio: Se o período dura muito ou se está chegando com espaçamento diferente, pode haver algum problema no sistema reprodutor.
O que fazer quando o animal de estimação…
- ficou cego: Tente não mudar os móveis de lugar. Os bichos têm memória e podem encontrar com perfeição o banheiro, o pote de comida e a vasilha de água.
- começou a perder a memória: Como os humanos, ele também passa a esquecer. Procure atividades que fortaleçam o cérebro, como esconder brinquedos.
- não ouve direito: Procure não assustá-lo, com movimentos bruscos ou gritos. Ao se mover, o pet pode levantar de mau jeito e ter pinçamento de nervo, que é doloroso e tem recuperação demorada.
- perdeu o olfato: Alimente o animal na boca, para que ele comece a comer.
- deixou de subir no sofá: A musculatura e as articulações já não são mais as mesmas de um animal jovem. Com o tempo, é natural evitar movimentos que exijam mais do corpo.
- ficou velhinho: “Dê carinho e amor, aumente o tempo que passa com ele, converse com ele”, ensina Patitucci.
Quando dizer adeus
Esse é um tema difícil. Souza conta que há pessoas que não querem se despedir do animal de estimação. Ela lembra do atendimento a um cachorro que passou meses sem andar, em estado terminal, e desenvolveu escaras – feridas na pele. O bichinho “uivava de dor, mas o dono não queria sacrificá-lo”.
“Os animais são corajosos”, ressalta ela, “levantam e seguem em frente enquanto tiverem forças”. Quando não há mais esperança e o bichinho está sofrendo, Souza recomenda a eutanásia, feita com anestésico. “O grande amor é terminar o sofrimento da forma mais humana possível. É preciso deixar passar o apego e se desprender do egoísmo”, finaliza ela.