Embora a medicina considere a faixa dos 20 aos 30 anos como a ideal para uma gestação, a gravidez tardia já virou um fenômeno na sociedade moderna _ era pós-pílula anticoncepcional e das mulheres inseridas no mercado de trabalho.

ELAS ENGRAVIDARAM DEPOIS DOS 40

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Segundo dados do Sinasc (Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos), do Ministério da Saúde, confirmados pelos resultados do Censo Demográfico de 2010 (IBGE), entre 2000 e 2010, ocorreu no Brasil um envelhecimento da faixa etária das mulheres no momento do parto, com uma redução do percentual de mães com menos de 20 anos (de 23,5% para 19,3%) e um aumento daquelas com 30 anos ou mais (de 22,5% para 27,9%).

gravidez tardia A ginecologista e obstetra Tânia Schupp Machado, no seu consultório, em São Paulo; crédito: Arquivo Pessoal

No consultório da ginecologista e obstetra Tânia Schupp Machado, em São Paulo, o fenômeno é ainda mais presente: acima de 50% de suas pacientes gestantes são maduras. "Por causa da minha tese de doutorado, que foi com gestantes de 40 anos ou mais, a maioria das pacientes que me procura tem mais de 40 anos", conta.

Mas, afinal, qual é o marco em que a idade de uma mulher passa a ser considerada tardia para uma gestação? Segundo a especialista, no passado já foi de 35 anos, mas hoje se considera o grupo acima dos 40 anos.

"Muitos trabalhos da literatura estudam o resultado da gestação em mulheres com idade avançada. Alguns utilizam, para sua definição, o limite de 35 anos. Outros, a partir dos 40. Estudos mais recentes incluem ainda o conceito de idade materna "muito avançada", que envolve gestantes com idade de 45 anos ou mais."

O fenômeno, inclusive, levou a obstetra a se especializar em fertilização, já que um dos fatores associados ao avançar da idade feminina é a maior dificuldade para engravidar. "Muitas pacientes me procuravam por achar que eu fazia o processo de fertilização. Como eu gosto de entender todas as fases do processo, fiz uma pós-graduação em reprodução humana, para fazer o melhor acompanhamento pré-natal possível de quem faz o tratamento de fertilização."

Assim, embora não trabalhe especificamente com reprodução assistida, a obstetra se sente mais preparada para lidar com a diversidade de quadros que encontra em seu consultório.  Algumas doenças crônicas ocorrem mais em grupos populacionais de maior idade. No caso das gestantes com "idade avançada", as principais são hipertensão arterial e diabetes.

"Diagnosticadas precocemente, [as condições que podem afetar a mãe] podem ser tratadas, e a gestação, ir até o final sem nenhum problema"

Em seu estudo no doutorado, que acompanhou a gestação de 281 mulheres com 40 anos ou mais, atendidas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo entre julho de 1998 e julho de 2005, a obstetra registrou incidências de diabetes gestacional e de doença hipertensiva específica da gestação de 14,6% e 19,6%, respectivamente.

Vários autores citados na tese do estudo confirmam a incidência aumentada de diabetes gestacional relacionada com a maior idade materna: 16,6% em mães de primeira viagem com 35 anos ou mais, contra 2,8% em gestantes mais jovens. A prevalência de hipertensão arterial crônica em mulheres na faixa dos 25 aos 30 anos é de cerca de 1,5%, número que fica quase quatro vezes maior na década seguinte.

Ao lado disso, é mais frequente nessa faixa etária a ocorrência de abortamentos de primeiro trimestre, anomalias cromossômicas e mortalidade materna. Mas, para Tânia Schupp Machado, as gestantes tardias não devem perder o sono por causa disso. "Diagnosticadas precocemente, [as condições que podem afetar a mãe] podem ser tratadas, e a gestação, ir até o final sem nenhum problema."

Já o bebê pode apresentar Síndrome de Down, uma cromossomopatia que ocorre em mulheres mais velhas. "Mas hoje em dia temos um exame de sangue que a mãe faz com 10 semanas de gestação e que diagnostica essa síndrome", diz.

"Na minha opinião, o mais difícil para a mulher mais velha é ela conseguir engravidar; depois disso, se ela for acompanhada por um bom médico, todos os outros riscos são contornáveis e tratáveis."

Com as técnicas de fertilização cada vez mais avançadas e baratas, hoje mais mulheres podem realizar esse sonho, inclusive as mais velhas.

"Mas uma importante mensagem que deve ficar é que a fertilidade da mulher cai com a idade, sendo esta queda mais acentuada após os 35 anos. Se a mulher já sabe que vai querer engravidar mais tarde, ela pode fazer um tratamento de fertilização e guardar seus óvulos para quando quiser engravidar", adverte a especialista.

"Se ela fizer esta retirada dos óvulos, por exemplo, com 30 anos e decidir engravidar com 44, os riscos de o bebê ter síndrome de Down nessa gestação são os de uma mulher de 30 anos (idade em que os óvulos foram congelados). Este processo está cada dia ficando mais barato, sendo possível para uma maior faixa da população."

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