Aos 75 anos, o jornalista econômico Carlos Sardenberg está incansável. Há anos atuando na linha de frente do jornalismo brasileiro, ele está longe de parar – e nem pensa nisso por enquanto.
Mesmo com todas as mudanças da profissão, Sardenberg se mantém atualizado – e interessado – com as novas tecnologias e buscando novos espaços para falar sobre aquilo que sabe tão bem: economia.
Em uma entrevista exclusiva com Antonio Leitão, gerente do Instituto de Longevidade, o jornalista falou um pouco sobre sua carreira tão longeva e o que pensa em fazer agora para continuar ativo na profissão.
Ele também aproveitou para dar algumas dicas sobre investimento e poupança, e contou o que pensa sobre Educação Financeira nas escolas.
ANTONIO LEITÃO: Você é um homem do século XX, entrou no século XIX, e continua trabalhando. Uma coisa que aconteceu, e que é uma pauta importante aqui pro Instituto, é o crescimento da expectativa de vida. Isso está acontecendo e está trazendo muitos impactos para a esfera econômica.
Falando sobre o mercado de trabalho e um pouco sobre a sua própria experiência, um dos desafios que vêm com essa questão da longevidade é o mercado de trabalho.
Então as pessoas estão ficando mais tempo no mercado de trabalho, que às vezes limita a participação de pessoas mais velhas, e às vezes nem tão velhas assim.
Como você avalia isso? E como é no jornalismo?
CARLOS SARDENBERG: Eu fiquei 25 anos na imprensa escrita e passei por vários veículos. Depois fiquei 25 anos na CBN, na Globo, então eu nunca trabalhei em outra rádio, outra emissora. Pra você ver, hoje, na Globo, entre os jornalistas ativos, eu sou o segundo mais velho. O mais velho é o Gabeira, tá com 80 e eu tô com 76. O Pontual é mais novo, tem 73.
Então o resto é tudo muito jovem, e a gente sobrou. Se você olha os tempos recentes da Globo e de outras emissoras, os mais velhos foram saindo e ficamos lá nós três. O fato é que eu me adaptei muito bem aos novos meios. Eu fiz várias coisas na TV que foram pioneiras… E nós começamos isso no Jornal da Globo. Embora eu fosse o mais velho da turma, na verdade eu que comecei com essas tecnologias novas.
Mas, pra falar sinceramente, acho que meu ciclo na imprensa, assim de primeira linha, eu acho que tá chegando ao fim. Eu acho que esse negócio de você estar na linha de frente, na linha de combate… Eu tô encerrando o ciclo. Não quer dizer que vou parar de trabalhar, mas vou fazer outras coisas diferentes.
ANTONIO LEITÃO: Eu queria falar um pouco de economia, olhando um pouco por sua perspectiva como jornalista econômico que tá aí há muitas décadas, acompanhando a esfera pública e o setor público.
O comportamento financeiro da população brasileira mudou nas últimas décadas? A gente sabe que saiu de uma época de inflação, entrou no Real…
O que mudou no comportamento financeiro do brasileiro nas últimas décadas e o que influenciou essas mudanças?
CARLOS SARDENBERG: Olha, certamente mudou. Mudou o comportamento financeiro. Hoje, embora falte Educação Financeira para uma parcela importante da população, acho que uma parcela muito grande, especialmente a classe média, aprendeu algumas coisas, especialmente a guardar dinheiro. Porque na época da super inflação, quando comecei no Jornalismo, nós tínhamos uma inflação atrás da outra, uma moeda atrás da outra.
Depois do Real, quando houve a estabilização da economia, aí com certeza a população começou realmente a poupar dinheiro. Houve uma entrada muito grande de pessoas no investimento de ações e na compra de investimentos de renda fixa. E acho que houve uma mudança significativa no comportamento das pessoas.
Eu lembro que nos primeiros cadernos de economia e de finanças, a gente explicava o bê-á-bá, que era: "O que é poupança?". Hoje, todo mundo sabe. Hoje, a gente diz na rádio: “Tá melhor aplicar em renda fixa do que em poupança”. Nosso público entende e participa.
ANTONIO LEITÃO: A gente viu alguns debates acontecendo sobre a formalização da Educação Financeira, disso estar no ensino escolar de fato. Você acha que isso é relevante?
CARLOS SARDENBERG: Acho muito importante. E vou te dar um exemplo. Um dos meus filhos mora nos Estados Unidos e o filho mais velho dele tem 13 anos agora.
Quando ele tinha 10, 11, ele aprendia na escola taxa de juros. Ele me ligava, mostrava a lição dele, poupança, taxa de juros, valor do dinheiro, aprendia isso em aula regular na escola. Me mostrou um caderno e eu fiquei muito bem impressionado.
Porque era exatamente Educação Financeira para uma criança de 12 anos. Ele sabe poupar dinheiro, sabe a ideia de guardar para o futuro, ele tem essa noção. Eles até me chamaram para uma live com a classe dele e perguntaram disso, de guardar dinheiro, quanto era, como faz, enfim. Educação financeira formal. Sou 100% a favor, e desde o primário, desde o Ensino Fundamental.
ANTONIO LEITÃO: Você, como economista, deve ser abordado com frequência nesses temas: “O que eu faço com meu dinheiro?”, “Como me preparo pra ter uma poupança?”, “Como me preparo pra minha aposentadoria?”, “Onde eu invisto?”. Sabemos que são muitas frentes e trabalhamos isso num conceito chamado Longevidade Financeira.
Qual a dica que você dá às pessoas que chegam em você pedindo uma orientação, o que você recomenda que elas façam?
CARLOS SARDENBERG: Pra simplificar, e é claro que depende de pessoa pra pessoa, do grau de educação das pessoas, mas pra simplificar, eu digo o seguinte: se você é jovem, bolsa de valores. Pronto.
Por duas razões: primeiro porque as empresas valorizam. Se você olhar num longo prazo, a bolsa flutua muito, mas você escolhendo ações corretas, empresas boas e tal, dá certo. E o jovem pode fazer isso, porque tem tempo de recuperar. Porque a bolsa cai e você perde dinheiro, mas sendo jovem, você tem tempo de recuperar.
E se não é jovem, tesouro direto, renda fixa. Ponto final.
ANTONIO LEITÃO: E se você fosse dizer um número mágico aí, onde seria o ponto de virada dessa mudança de um cenário pra outro que você acabou de descrever? Uns 40, 45 anos?
CARLOS SARDENBERG: No meu caso, foi aos 50. Foi nos 50 que pensei…
ANTONIO LEITÃO: Vou mudar minha estratégia?
CARLOS SARDENBERG: Isso. Eu fiz 50 e tive um câncer, então eu levei um susto. Falei “Bom, gente, então vamos com calma. Vamos trilhar na segurança”.
Eu tô na TV há bastante tempo, né. E no Jornalismo Econômico na TV, tem a regra que eu não posso comprar ações. Eu não posso comprar ações da Petrobrás e depois ir na TV e dizer que a Petrobrás tá bem ou tá mal. Então ações eu não compro mesmo por razões do nosso código de ética. Mas tenho fundos e tal. Se você olhar o meu perfil hoje, ele é claramente conservador e de manutenção.
No meu caso, a virada foi aos 50 anos, por esses dois episódios. Eu levei um baque.
Agora, eu tô entrando numa fase de gastar o que guardei. O único problema, agora, de você gastar o que juntou, é que você fez uma poupança e tal, e é razoável pensar “Agora vou aproveitar um pouco mais da vida”. Mas o problema é o seguinte: quantos anos você vai viver? Eu vou gastar, sei lá, 30 mil por mês? Eu calculo com o que eu tenho e vejo que dá. Aí você vive mais, e aí?
Aliás, outro dia eu fui no médico, fiz uma porção de exames e tal, e ele falou pra mim: “Eu tenho pra você uma boa e uma má notícia. A boa notícia é que os exames estão ótimos e você vai viver muito. A má notícia é que você vai precisar de mais dinheiro”.
ANTONIO LEITÃO: Por isso que, mesmo com a sua saída da linha de frente do Jornalismo, você continue trabalhando e fazendo uma renda aqui e ali, né?
CARLOS SARDENBERG: Perfeitamente. Necessariamente, talvez.
Para assistir à entrevista na íntegra com Carlos Sardenberg, dê play no vídeo abaixo:
E para seguir as dicas de Sardenberg, baixe o Guia da Longevidade Financeira e comece a se planejar financeiramente agora mesmo.