Durante o climatério, Leila Rodrigues, 52 anos, se isolou, chorou, riu, achou que iria morrer, procurou uma nova esposa para seu marido. Começou a engordar, foi se autoreceitar e acabou com a “boca mais proeminente que a da Angelina Jolie, o corpo todo empolado e a glote quase fechando”.  Colecionou histórias divertidas, mas também momentos de angústia e solidão. Esse turbilhão fez com que a empresária da área de tecnologia se reinventasse, se sentisse uma pessoa mais feliz e decidisse escrever “Hormônios, Me Ouçam”, recém-lançado pela Literare Books International. “Menopausa ainda é um tabu. A gente vai mudar essa história, mas ainda vai levar um tempinho.”

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Quando você entendeu que estava no climatério? 

Recebi o diagnóstico bem no começo. Fazia controle com o endocrinologista para tratar hipotireoidismo. Ele me pediu uns exames e detectou que eu já estava no climatério. Eu era muito jovem: tinha 41 anos.  

Você diz que sua mãe não conversou contigo sobre isso.  

Não. Nossas mães nos preparam para ficar mocinhas, nos ajudam quando temos filhos. Mas, nesse momento do climatério, é um momento de muita solidão. Não sou uma pessoa tímida, não tenho dificuldade de relacionamento. Mas, durante o climatério e a menopausa, eu tive, sabe? Foi um período de muita solidão. 

Você foi falar com ela? 

Sim. Mas a minha mãe teve uma menopausa situacional, por um baque muito grande, porque perdeu uma amiga. Ela não teve nada. Menstruou por 20 dias seguidos e depois passou. Para você ver que a menopausa é muito singular, muito pessoal. 

Conseguiu manter o bom-humor? 

Houve dias muito duros, difíceis. Mas primeiro você passa por um processo de aceitação. O maior desafio é entender que esse problema é físico, que iria acontecer um dia. A gente fica culpando: “Ah, será que é a vida que eu levei?”. Depois, você compreende e para de se culpar. Aí, sim, começa essa transformação.  

Nesse processo de aceitação, você diz que sentiu muita raiva.  

Essa raiva passa. Você tem raiva quando está naquele esquema de competição, de vaidade, de querer se igualar com a outra.  

O que foi mais engraçado nesse período? 

Fiquei uma pessoa muito ciumenta durante o climatério.  

“No auge da minha loucura, eu tinha certeza que ia morrer e decidi encontrar uma mulher para o meu marido.”  

Seu marido entendeu?  

Olha, não posso reclamar do meu companheiro. Ele foi muito bacana, me ajudou a encontrar saídas.  Isso a partir do momento em que eu resolvi dividir o problema com ele. Vejo muitas mulheres tentando resolver sozinhas do lado de cá e os parceiros estão do lado de lá, sem saber o que fazer.  

Você decidiu procurar um novo amor para seu marido… 

[Risos] Sim, no auge da minha loucura. É quando eu falo que tenho certeza que vou morrer e que quero encontrar uma mulher para ele. 

Vocês conversam sobre isso? 

Sim, conversa e dá risada. A gente está tão louca, tão mexida por causa dos hormônios, que chega a fazer uma coisa como essa. 

Qual deve ser o papel do homem no suporte à mulher? 

Precisam estar juntos e em sintonia. É um processo físico – a enxaqueca, a insônia, o calorão e a secura vaginal existem.  Quando o outro está ciente de que a mulher está passando por isso, eles precisam se divertir, relaxar. Muitas vezes, meu parceiro teve que dizer para os meus filhos: “Olha, sua mãe hoje não vai fazer o jantar. Ela está cansada, com enxaqueca. Eu e vocês vamos cuidar do jantar”. Isso é muito importante.  

Demorou para você se abrir? 

Não foi simples, não. Demorou uns dois anos para ter boas e inteligentes conversas com meu parceiro. A gente fica reclusa, arredia. Nossa primeira reação é fugir da pessoa, do parceiro, do encontro, da conversa. Isso gera mais solidão ainda.  

E o papel dos filhos? 

Tenho dois meninos. Eles ficaram assustados porque tive insônia, enxaqueca. Hoje sabem de tudo, porque eu os mantinha informado. Os filhos têm que saber, para serem bons maridos para suas companheiras também. 

Em alguns momentos, você diz que usou a tática da pressão [dizendo que a pressão havia baixado quando tinha suadouro].  

Muita gente que não sabe o que é [a menopausa] e não entende. Nesse dia, que eu estava no consultório, só tinha gente jovem. Eles não tinham a menor noção do que estava acontecendo comigo. [Leila suava frio e tinha arrepios na sala de espera do dentista.] 

A menina olhava para mim e dizia: “A senhora está passando mal”. Eu dizia: “Não”. Ela dizia: “Tá passando mal”. Às vezes, a desinformação é tanta, que você fala: “É, estou tendo uma queda de pressão”. A mulher tem que se preparar porque a grande maioria é pega de surpresa. 

A libido você vai perdendo, vai baixando. Mas o que a gente faz? Faz vista grossa, corre do marido, reza para ele dormir para se deitar 

O que é essa preparação? 

Ela deve acontecer em três níveis. O primeiro é no aspecto clínico, de manter seus exames em dia, suas consultas. Embora seja falado para manter os exames preventivos em dia, muitas não fazem. A segunda é na vida, mexer na logística, a partir do momento em que ela vê que está ficando mais cansada. “Preciso me dar um tempo e cuidar de mim.” O terceiro ponto igualmente importante é o relacionamento. Porque, na questão da libido, você não vai perder da noite para o dia. Vai perdendo, vai baixando. Mas o que a gente faz? A gente faz vista grossa, corre do marido, reza para ele dormir para se deitar. Quando percebe o declínio hormonal, é hora de conversar. 

O que te motivou a escrever um livro? 

Faço crônicas há um bom tempo e tinha vontade de escrever um livro. Quando chegou a hora, quis falar do momento da minha vida que foi realmente relevante para mim. Foi tudo muito intenso, sofrido, doído. Mas foi de muita transformação, de muita descoberta. Merecia ser escrito. O segundo motivo exatamente para mudar o rumo dessa história de silêncio. A gente não precisa repetir a história de nossas mães e de nossas avós que sofreram caladas 

menopausa

Quando a menopausa finalmente chegou, o que você sentiu? 

Uma liberdade, uma alegria, um prazer de viver que eu nunca tinha sentido antes. [Eu me senti] uma outra mulher. Foi a minha metamorfose. Refiz a minha relação comigo. Quando você muda a sua relação consigo mesma, parece que o mundo inteiro mudou.  

Você se sente melhor hoje? 

Eu me sinto muito melhor. Sou outra mulher. Despreocupada em agradar, em atender expectativas do outro. Isso traz uma leveza muito grande. 

O que você diria para a mulher que está no climatério? 

A primeira coisa é ela conversar muito consigo mesma: “Hoje estou mais chorosa, comendo compulsivamente, falando. O que está acontecendo comigo?”. Depois, [é preciso] se informar, procurar profissionais, ser acompanhada. Porque os sintomas são muito particulares, não existe regra. Uma tem mais sintomas emocionais; outra, mais físicos. Essa mulher precisa de um acompanhamento. 

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