Muitos +50 estão empreendendo. Por necessidade financeira ou de saúde mental, mas estão.
Lembro-me, na minha infância e juventude, como pagar a aposentadoria era questão de honra. Podíamos nos apertar o quanto fosse necessário, mas a contribuição era essencial. Meu pai fez isso e a maioria dos pais que conheci também.
As mudanças aconteciam depois que nos tínhamos acostumado com a última, assim quando chegou a TV na minha cidade. Quem comprava primeiro abria a sala para que os vizinhos que ainda não tinham pudessem assistir a algum programa que nem era interessante, mas a forma de assistir era. Depois de muito tempo veio a TV a cores, depois as de tela plana e aí as mudanças não pararam mais.
Uso esse exemplo real para nos ajudar a compreender por que os 50+ demoram pra se acostumar a essa nova realidade em que temos que ser, cada um, donos do nosso próprio destino e em consequência de nossa aposentadoria. Nascemos e crescemos em uma vida com outra noção de tempo, parecia que 24 horas eram suficientes para fazermos tudo que fosse preciso e ainda sobrava tempo pra visitar amigos e parentes. Atualmente, o dia mal começou e já terminou nos levando a uma ansiedade constante e perigosa. E ainda tem a desvalorização da aposentadoria ou rendimentos frente a gastos cada vez maiores.
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A bomba relógio para o desespero está montada.
Muitos têm medo; outros, revolta ou ressentimento. Afinal, queriam passar a segunda metade de suas vidas sem preocupações e fazendo o que desse na telha. Começaram cedo a trabalhar e muitas vezes fazendo algo que detestavam, contando os dias que faltavam para a aposentadoria.
Outros se tornaram a empresa a que dedicaram suas vidas, misturando seu nome com o do local de trabalho, sendo chamados por “José, da Kodak”, “Iolanda, da Embraer” e por aí vai. Imaginavam que, ao deixar o trabalho, continuariam com o crachá do reconhecimento por serviços prestados pendurados no pescoço, abrindo portas e facilitando a vida. Quando se dão conta que passaram a ser somente José e Iolanda, o mundo parece ruir.
Durante 20 anos, eu fui a Claudia do (nome do meu ex-marido). Quando veio a separação, parecia que tinham tirado minha roupa e me jogado numa praça pública, onde todos estavam olhando e analisando. Sim, quando menos esperamos, já colocamos toda a responsabilidade por nossa felicidade nas costas de uma empresa ou de uma pessoa. E quando nos damos conta que agora somos somente nós, ficamos com medo.
E é aí que tudo pode mudar pra melhor. Eu comecei a analisar tudo que tinha feito na vida, filhos pequenos, doenças, solidão, renúncias, perdas, força, exaustão, solidariedade, fracassos, vitórias... e vi que não era incapaz coisa nenhuma, que posso usar tudo o que já vivi pra começar de novo, só que agora sabendo que é por mim.
Somos educados, principalmente as mulheres, para não lutar por desejos e ambições que não levem em conta a realização do marido e dos filhos. Acontece que todos preferem conviver com alguém feliz. Pensa comigo: se cada ser humano conseguisse sua própria realização, o mundo seria mais feliz e solidário. Egoísmo é quando não dividimos nossa felicidade com os outros, nosso conhecimento ou riqueza. Muito diferente de estar em busca do caminho para o qual afinal todo ser humano nasce: sentir-se bem nesse mundo.
Quando comecei a escrever, pensei que dividir minha experiência pudesse ser uma pequena luz na caminhada de vocês. Eu sou a pessoa mais improvável para estar gostando de tecnologia, do futuro, de aprendizado. Mas o que me fascina é que quanto melhor nós formos como seres humanos, melhor será o restante. E ser uma pessoa melhor e mais feliz só cabe a cada um buscar.
Então, bora colocar num papel tudo que você já fez na sua vida e depois pensar se estivesse lendo sobre outra pessoa: o que você diria a ela?