Diga-me que gorduras você come e eu te direi as chances de viver mais. Isso é possível graças aos avanços da ciência da nutrição nos últimos anos, principalmente ao fazer estudos científicos rigorosos, que acompanham centenas ou até milhares de pessoas por anos.
Um dos maiores dessa área, chamado de PREDIMED (de PREvenção com DIeta MEDiterrânea), incluiu 7.447 pessoas com alto risco para doença cardiovascular, devido a condições como diabete, hipertensão, colesterol alto e fumo.
Elas foram divididas em três grupos: um com dieta com pouca gordura em geral e dois grupos com dieta mediterrânea, sendo que, em um deles, recomendou-se comer bastante azeite de oliva (pelo menos 50 ml por dia) e no outro, muitas nozes, castanhas e amendoim (pelo menos 30 gramas por dia).
Mas, primeiro, é preciso entender o que é a dieta mediterrânea. Baseada nos hábitos alimentares tradicionais encontrados no início de 1960 na Grécia, no sul da Itália, na Espanha e em outros países de cultura da oliveira da bacia do Mediterrâneo, ela recomenda:
- quantidades generosas de azeite de oliva como principal gordura culinária e alto consumo de alimentos de origem vegetal (frutas, verduras, legumes, nozes e sementes, além de cereais integrais);
- ingestão frequente mas moderada de vinho (especialmente o tinto), geralmente com refeições;
- consumo moderado de frutos do mar, aves, ovos e produtos lácteos (especialmente iogurte e queijo, mas não leite integral nem manteiga ou creme);
- baixo consumo de sobremesas doces, refrigerantes, carnes vermelhas e processadas.
Com esse estudo, uma grande questão sobre as gorduras foi colocada à prova: é melhor evitá-las ou é melhor comer as “boas” gorduras em maior quantidade?
Os resultados de quase cinco anos acompanhando essas pessoas mostraram que a dieta mediterrânea levou a uma redução de 30% da chance de ter alguma doença cardíaca ou derrame (acidente vascular cerebral); 50% de ter alguma doença arterial periférica; 55% de ter câncer de mama.
E mais: os números foram bem mais expressivos para quem aderia direitinho à dieta, chegando a 53% da redução da chance de doença cardíaca ou derrame.
Na comparação dos grupos com dieta mediterrânea, houve uma vantagem moderada para o grupo que consumiu azeite em doses generosas. E que, por sinal, não tiveram ganho de peso por causa disso, mesmo ele sendo muito gorduroso. Ou seja, a gordura certa pode ser uma grande aliada da saúde.