Buscar a saúde através da alimentação nunca esteve tão na moda. E as promessas de que alguns alimentos realizam milagres também. Por isso é importante cercar-se de informação, tarefa às vezes dificultada pela falta de resultados conclusivos nas pesquisas e pelas opiniões contraditórias dos especialistas. É o momento que está vivendo o óleo de coco.

Alardeado como possuidor de propriedades fortalecedoras do sistema imunológico, facilitadoras da digestão e da absorção de nutrientes, o alimento também é criticado pelo alto teor de gorduras saturadas. O ideal, segundo a nutricionista Andrea Filgueiras, do grupo de pesquisa de obesidade do departamento de fisiologia da nutrição da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), é nunca "apostar todas as fichas" em um alimento só.

"A ciência da nutrição está baseada nos pilares da harmonia, adequação, qualidade e quantidade. Isso significa que nenhum alimento sozinho pode conceder saúde a um indivíduo. Não existem superalimentos ou alimentos milagrosos", avisa.  Segundo ela, é consenso na comunidade científica que somente um estilo de vida adequado - alimentação saudável, vida não sedentária, prevenção do estresse, manejo adequado da ansiedade etc.  -  pode influenciar na prevenção e no tratamento de diversas doenças crônicas não transmissíveis.

Mesmo os entusiastas do óleo de coco fazem suas ressalvas: "O óleo de coco tem propriedades benéficas à saúde, mas não deve ser ingerido em grandes quantidades, devido à presença de gorduras saturadas", alerta o médico Roberto Debski, especialista em medicina ortomolecular e homeopatia e diretor da Clínica Ser Integral.

Então, o que fazer? Consumir ou não consumir? Para ajudar na sua decisão, leia os principais argumentos dos dois especialistas a respeito do tema:

Roberto Debski

óleo de coco Roberto Debski, especialista em medicina ortomolecular e homeopatia e diretor da Clínica Ser Integral; Crédito: Divulgação

AUXILIAR DO EMAGRECIMENTO

  • “O óleo de coco possui diversas propriedades nutricionais benéficas à saúde. Tem efeito estimulante do sistema imunológico, auxilia na digestão e no processo de emagrecimento. Esses efeitos se devem aos seus componentes, principalmente os triglicérides de cadeia média (TCM), o ácido cáprico, o ácido caprílico, o ácido capróico e o ácido láurico. São gorduras que, apesar de serem saturadas, fazem bem ao organismo. Têm propriedades semelhantes às dos antibióticos."

MODULADOR DA GLICOSE

  • "O óleo de coco ajuda a modular o metabolismo, absorver vitaminas lipossolúveis e modular os níveis de glicose e insulina no sangue."

RESTRIÇÕES

  • "O óleo de coco deve ser utilizado como outras gorduras na alimentação, com moderação. Cerca de 10% a 20% da dieta deve ser constituída de gorduras, preferencialmente saudáveis, evitando as gorduras trans."

QUANTIDADE RECOMENDADA

  • "Até duas colheres de sopa ao dia, para preparar os alimentos e como componente de receitas e pratos."

COZINHAR COM ÓLEO DE COCO?

  • "Sim. O óleo de coco pode ser aquecido que não perde suas propriedades nutricionais."

Andrea Filgueiras

óleo de coco Andrea Filgueiras, do grupo de pesquisa de obesidade do departamento de fisiologia da nutrição da UNIFESP; crédito: Arquivo Pessoal.

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

  • "Não podemos menosprezar o que é natural. O coco é mesmo uma fruta rica em nutrientes e pode ser consumido in natura integralmente ou fazendo parte de preparações caseiras, compondo uma alimentação saudável. Mas é preciso ter em mente que ainda não há conclusões definitivas com relação aos efeitos do óleo dessa fruta no meio científico."

PERIGOS DO CONSUMO

  • "Ao menos até o momento, sua ingestão moderada - e principalmente para aquelas populações que o consomem por fazer parte de sua cultura alimentar - não tem se revelado como perigosa à saúde. Ao mesmo tempo, um estudo de revisão publicado no Jornal Científico da Oxford University, no Reino Unido, avaliou o efeito do consumo do óleo de coco e a relação com os fatores de risco cardiovasculares em adultos. Os pesquisadores avaliaram 21 trabalhos científicos, sendo 8 ensaios clínicos e 13 estudos observacionais, e afirmaram que, devido às grandes diferenças de hábitos alimentares e estilo de vida, as conclusões não podem ser aplicadas a uma dieta típica ocidental."

AUXILIAR DO EMAGRECIMENTO

  • "O óleo de coco como suplemento ganhou popularidade pela promessa de que poderia auxiliar no emagrecimento, no entanto, as evidências do seu uso na forma de suplementação são insuficientes e, além dos benefícios desconhecidos, não sabemos os riscos que podem estar envolvidos."

RESTRIÇÕES

  • "Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o consumo de gorduras saturadas e trans é classicamente relacionado com o aumento do risco cardiovascular. Embora o óleo de coco seja rico em ácido láurico, que é conhecido por favorecer o perfil lipídico, ou seja, a relação HDL:LDL, quando comparado com outras gorduras saturadas, como o ácido mirístico e palmítico, o ácido láurico apresenta maior poder em elevar LDL-c e o HDL-c (circulantes no sangue). Por isso, portadores de colesterol elevado e doenças cardiovasculares não devem fazer uso do óleo, e sim optar por substituir a gordura saturada da dieta por mono e poli-insaturada."

QUANTIDADE RECOMENDADA

  • "O uso do óleo de coco deve respeitar a recomendação brasileira para consumo de gorduras saturadas, que não deve ultrapassar 10% do total de gorduras consumidas diariamente."

COZINHAR COM ÓLEO DE COCO?

  • "Não. O ponto de fumaça do óleo de coco não é adequado para aquecimentos elevados. Como a maioria da população não dispõe de termômetros adequados para medir temperatura de cocções em suas residências, seria mais um risco do que um benefício. Além disso, o uso de óleos vegetais e gorduras para cocção deve ser evitado o máximo possível. Para quem quer ter uma alimentação saudável, deve-se optar por alimentos grelhados ou assados sem adição de gorduras e cozidos."
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