Quem tem um animal de estimação geralmente é bem enfático ao relatar as alegrias e momentos divertidos proporcionados ao compartilhar o dia a dia com um bichinho. No entanto, muitos de nós ainda permanecem alheios aos benefícios físicos e mentais que podem acompanhar o prazer de conviver com um pet.
O fato é que ter um bicho de estimação em casa pode mudar uma vida. Os animais trazem inúmeros benefícios à saúde – e isso só tende a aumentar conforme vamos ficando mais velhos. Estudos apontam que eles interferem e são capazes até de elevar a expectativa de vida de quem está atravessando a terceira idade.
Segundo pesquisa realizada pela Universidade de Michigan/EUA (divulgada em 2019), a convivência com os pets promove um envelhecimento com mais bem-estar e qualidade. Entre os participantes (2 mil pessoas de 50 a 80 anos), 90% daqueles que têm cães, gatos e pássaros dizem que o animal os ajuda a aproveitar a vida e se sentir amados; 80% garantem que os bichos reduzem o estresse e mais de 60% das pessoas que têm um pet relatam que eles são importantes quando é preciso lidar com problemas como depressão, isolamento social e solidão.
Outro benefício apontado foi o estímulo para se manter fisicamente ativo, uma vez que os bichinhos demandam cuidados diários e, muitas vezes, passeios (em especial os cães), além de lhes dar um propósito na vida.
É possível dizer então que não é à toa que os cachorros são apontados como os melhores amigos do homem. Mais do que amizade, amor incondicional e companheirismo, eles contribuem no controle de fatores de risco para doenças que afetam o coração, entre elas a obesidade, hipertensão arterial, triglicérides, colesterol e até mesmo na prevenção e recuperação de eventos cardiovasculares graves, a exemplo do infarto e acidente vascular cerebral. E justiça seja feita! Não são apenas os cães, mas os gatos e outros pets, como aves e hamsters, também entram nesse grupo.
Entre todos os pets, os cachorros são apontados como os melhores amigos do homem. Foto: Yuttana Jaowattana / Shutterstock.
Efeito calmante e terapêutico
O contato com bichos de estimação estimula a produção de diversos hormônios. Aqui podemos citar alguns: a endorfina, a prolactina e a oxitocina, substâncias que atuam na regulação das taxas de cortisol, hormônio relacionado ao estado de alerta, o que contribuí no combate ao estresse. Já a acetilcolina, também liberado no organismo por conta dessa interação homem-animal, está relacionada com a redução da pressão arterial, da frequência cardíaca e respiratória.
Algumas pesquisas sugerem, por exemplo, que as pessoas que vivem com cães experimentam menor reatividade cardiovascular durante os momentos de estresse, ou seja, o ritmo cardíaco e pressão sobem menos e voltam ao normal mais rapidamente, minimizando os efeitos sobre o corpo.
Uma das razões para isso é que os animais de estimação satisfazem a necessidade básica de contato. Mesmo criminosos que vivem na prisão mostram mudanças de comportamento em longo prazo após interagirem com animais, muitos deles experimentando afeição mútua pela primeira vez. Afagar, abraçar ou de outra forma tocar um animal amoroso pode ser um calmante natural em quadros de estresse e ansiedade.
Além do mais, os bichinhos evoluíram e estão fortemente sintonizados com os humanos, seus comportamentos e emoções. Os cães, por exemplo, são capazes de entender as palavras que usamos e interpretar o tom de voz, linguagem corporal e gestos de seu dono. É como se conseguissem avaliar nosso estado emocional para entender o que estamos pensando e sentindo. Os animais são compreensíveis, solidários e fiéis, o que proporciona o estabelecimento de uma relação de confiança e afeto homem-animal.
Desta forma, a sensação de bem-estar, felicidade e conforto gerada no convívio com os pets resulta também na diminuição dos níveis de adrenalina (substância ligada à elevação da pressão arterial) e no aumento de serotonina e dopamina, que estimulam o relaxamento.
Para dar fim a solidão
Ter um animal de estimação é ter sempre companhia. Pessoas que vivem sozinhas são beneficiadas com esta relação, uma vez que com o bichinho é possível falar, brincar, passear e se distrair. Quem tem um pet sabe como é chegar em casa e ser recebido com festa e carinho.
Eles proporcionam um companheirismo valioso. Os bichos de estimação preenchem os momentos de solidão e carência e são capazes de manter em dia a saúde mental. Apenas com suas demonstrações de afeto, ajudam a reduzir a sensação de isolamento social e mais uma vez a tratar determinadas doenças, como a depressão e crises de ansiedade - fatores desencadeantes de problemas no sistema cardiovascular. Cuidar de um animal nos ajuda ainda a sentir-se necessário e desejado, e tirar o foco de problemas.
Neste sentido, segundo especialistas, os pets também promovem uma interação social mais intensa, crucial para uma faixa etária em que a solidão chega a ser comum. A tendência é conhecer gente diferente, criar vínculos com outros donos de animais. Os bichos motivam a comunicação, o que é bom para a saúde emocional e cognitiva.
De modo geral, as pessoas respondem visualmente e verbalmente melhor a alguém que caminha pela vizinhança com um bichinho de estimação. Cachorros e gatos instantaneamente "quebram o gelo" entre pessoas e despertam a interação. Muitos gostam de contar histórias sobre os seus pets, servindo como um ponto de partida para o diálogo com conhecidos, amigos, vizinhos, visitas ou familiares.
Pets instantaneamente quebram o gelo entre pessoas e despertam interação. Foto: Yuttana Jaowattana / Shutterstock.
Estímulo para manter o corpo em movimento
A necessidade de passeios e atividades regulares que alguns animais necessitam traz uma motivação extra para a prática de atividades físicas, deixando de lado assim o sedentarismo – outro fator de risco para as doenças cardiovasculares.
Levar um cão para passear, caminhar ou correr são maneiras divertidas e gratificantes de encaixar exercícios na rotina. Quando movimentamos o corpo, a tendência é elevar a disposição e a sensação de bem-estar.
Mais do que manter o corpo ativo, vários estudos relacionam o fato de ter um pet com a perda de peso. Um deles, do Instituto Wellness no Northwestern Memorial Hospital (EUA), revela que passear com um cão com excesso de peso ajudou tanto os animais quanto seus donos a perderem quilos indesejados. Os pesquisadores descobriram que os cães davam apoio de maneira semelhante a um companheiro de exercício humano, mas com maior consistência e sem qualquer influência negativa.
Papel em tratamentos e recuperações
Por fim, é interessante ainda ressaltar a importância dos animais nos tratamentos e na recuperação de pacientes, inclusive aqueles com problemas cardíacos. É crescente os casos de pets liberados para visitar seus tutores internados, visando melhorar ou acelerar o processo. Outro ponto é o clima que os bichinhos trazem ao ambiente. Em lares de repouso para idosos, os animais têm o poder de criar uma atmosfera “caseira”. Sendo assim, mesmo sem condições de criar um pet, é interessante encontrar oportunidades para passar um tempinho com animais.
Porém, aqui valem algumas ressalvas. A companhia de um bicho de estimação faz parte de uma estratégia geral para a redução de riscos de doenças cardiovasculares e demais questões de saúde. Isto não significa que os outros cuidados devem ser deixados de lado. Além disso, temos alguns aspectos negativos desse convívio que precisam ser considerados, como dificuldades para viajar ou mesmo sair e manter uma rotina fora de casa, gastos financeiros, alergias e quedas ou machucados.
Com os devidos cuidados e possíveis adaptações, os benefícios prevalecem. Zelar por outro ser dá propósito à vida. Um animal traz alegria e amor para o dia a dia. Envelhecer ao lado de um amigo pet pode ser muito gratificante – e até, porque não dizer, rejuvenescedor. Os bichos de estimação podem nos ajudar a ter uma vida mais longa e melhor.
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