Comprar carro, adquirir moto, usar ônibus, ir com app de transporte, pedalar numa bike, pedir um táxi ou alugar um veículo por hora? As opções são muitas e evidenciam um dilema: afinal, qual é o meio de transporte mais barato no dia a dia?
Essa foi a pergunta que o engenheiro Tadeu Campos, 54 anos, teve de responder quando perdeu o emprego, há três anos. Com as reservas financeiras em níveis considerados críticos, ele colocou na ponta do lápis se valeria a pena manter um veículo, ainda em financiamento, na garagem.
Na conta, entraram alguns prós: comodidade para a família de quatro pessoas; divisão de custos com a esposa, que passaria também a usar o veículo e a dividir o valor das então 8 parcelas de cerca de R$ 2.000 restantes para a quitação; economia de tempo. E outros contras: valor do seguro, alta do combustível, IPVA e desvalorização do bem.
Houve ainda uma simulação para saber se a família terminaria de comprar o carro ou utilizaria outros meios. Ponderou transporte público (ônibus e metrô), apps de viagem (Uber e 99) e aluguel de carro por ano. “Não incluí bicicleta, porque moro na Pompéia e teria que encarar as ladeiras”, disse ele, em referência às ruas íngremes do bairro paulistano.
O transporte no orçamento familiar
Os gastos com transporte comprometem quase 10% do orçamento das famílias mais pobres e cerca de 15% do orçamento das mais ricas, segundo pesquisa do IBGE sobre orçamento familiar de 2019.
“Como apresenta um valor significativo no orçamento familiar e é um componente necessário para a sobrevivência, as pessoas começam a fazer análises de escolha para verificar qual é o tipo mais adequado para as suas necessidades e desejos”, explicam Rui Marcos e Taiana Jung, especialistas da Logos Consultoria.
Para isso, é preciso colocar na planilha dados objetivos:
Tipo de transporte: carro próprio, aplicativos, ônibus, trem, metrô, bicicleta e aluguel de veículos, entre outros.
Frequência de utilização: diário, semanal, mensal ou pontual.
Tempo de viagem: duração do percurso.
Preço da tarifa: valor de cada um deles, considerando variações como as tarifas dinâmicas dos apps (que automaticamente consideram maior procura pelo serviço para determinar o preço).
Preço de compra/manutenção: valor para a aquisição do bem e custos como seguro e impostos. Vale acrescentar manutenção, no caso de carro e bicicleta, além de combustível.
Uso: estimativas de multas, estacionamento e pedágios, quando for o caso.
Quando é considerado apenas o atributo econômico (preço), estudos demonstram haver uma regra, segundo os consultores da Logos. “Se a pessoa ou família, diariamente, realizam deslocamentos de longa distância, será mais vantajoso o carro. Fazendo a análise inversa, caso a família ou pessoa faça viagens pontuais ou deslocamentos curtos diários, será mais econômico utilizar app ou táxi”, esclarecem.
Comprar carro: fatores subjetivos
Mas os especialistas fazem uma ressalva importante: essa escolha é complexa. Os critérios a serem avaliados são múltiplos. “Tentar fazer mensurações exclusivamente pelos atributos econômicos, sem levar em consideração outros fatores, pode ser visto como algo subestimado. Isso porque não retratará as reais necessidades e desejos das pessoas.”
Para isso, é preciso considerar também:
Espera: quanto tempo será preciso aguardar pelo serviço.
Pontos inicial e final: distância entre moradia e trabalho, por exemplo, dos locais de embarque e desembarque.
Segurança: condições tanto durante a espera quanto na viagem.
Conforto: inclui comodidade e hábitos.
Número de meios de transporte: quantos serão utilizados durante as viagens.
Saúde: não tem a ver necessariamente com o deslocamento, mas pedalar e caminhar trazem benefícios como melhora das condições físicas e mentais.
Para mensurar, Rui e Taiana indicam fazer um levantamento dos atributos que devem ser levados em conta. Depois, o ideal é avaliar os pontos positivos e negativos de cada um deles. Em seguida, deve-se ponderar se a alternativa escolhida é viável em curto, médio e longo prazos.
“Outra dica importante: sempre que for possível no seu processo de escolha, leve em consideração a capacidade de deslocamento do modo de transporte de forma sustentável. Afinal, devemos ter em mente que buscamos uma cidade que ofereça uma circulação de bens e pessoas de forma ágil e menos poluente”, ponderam.
Crédito: Syda Productions/Shutterstock
Sem perder de vista o transporte público, que é um direito de todos e que deve ter baixo custo, com tempo de deslocamento adequado, e que ofereça bem-estar. “Cabe ao poder público inovar e criar políticas, processos e ferramentas para diminuição dos preços das tarifas, agilidade no acesso e no deslocamento, oferta de segurança e qualidade nas viagens”, sinalizam os consultores. E, aos cidadãos, compete pressioná-lo por melhorias.
Decisão final: comprar carro ou não?
O engenheiro Tadeu Campos considerou aspectos objetivos – e também os subjetivos na época. E foram esses últimos que pesaram na balança a favor do deixar de comprar carro por uma combinação de apps, ônibus, metrô e locação de bicicleta por hora, “quando o percurso for plano”. Usar o automóvel dos pais, que, segundo ele, costumava ficar parado, também fez parte do plano.
“Nessa mistura, tenho que andar mais, o que me parece mais saudável”, diz. Mas, de acordo com o profissional, o maior benefício é o de estar tranquilo em relação a dívidas. “As parcelas do financiamento estavam pesadas demais. Eu me sinto mais leve.”
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