O estudo realizado pelo Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde) revelou que a desigualdade no acesso a consultas e cuidadores impacta diretamente o envelhecimento da população brasileira. De acordo com a pesquisa, pessoas idosas 80+ com maior renda alegam ter uma saúde melhor ao comparar com os mais pobres, dez a 15 anos mais novos. Naqueles com maior renda, 52% dizem ter uma saúde boa ou muito boa. Já para aqueles entre 65 a 69 anos, a taxa variou entre 35% e 40%.

A análise foi feita com base no sistema público de saúde e na sociedade em geral a partir de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), entre outras.

Essa desigualdade também é evidenciada no acesso aos serviços de saúde. Pessoas entre 60 e 64 anos, com maior renda, tiveram mais chances de realizar consulta médica no último ano. Por outro lado, aqueles com 80 anos ou mais, com menor renda, não tiveram a mesma oportunidade.

Desigualdade social e aumento da população idosa dificultam acesso a consultas e cuidadores

Segundo o IBGE, houve um aumento na taxa de domicílios com idosos. Em 1998, a taxa era de 19,9%, enquanto em 2019, 23,4%. O aumento da longevidade dos brasileiros também provoca o aumento da necessidade de acesso a consultas e cuidadores, serviços de saúde e ajuda nas atividades cotidianas.

A proporção de idosos enfrentando dificuldades em atividades diárias varia de acordo com faixas etárias. Cerca de 25% dos idosos com até 69 anos relatam algum grau de dificuldade. Esse número aumenta para 41% na faixa etária de 75 a 79 anos e atinge 57% entre os idosos com 80 anos ou mais.

A mudança demográfica relacionada ao envelhecimento também difere entre os países. Por exemplo, na França, a proporção de idosos duplicou ao longo de 140 anos. Passando de 10% para 20%. No Reino Unido, essa mudança ocorreu em um período de 80 anos. Nos Estados Unidos levou 75 anos.

Já no Brasil, espera-se que essa transição demográfica aconteça em apenas 25 anos, entre 2010 e 2035. Esse período é mais curto em comparação com a Índia (40 anos) e semelhante ao da China (25 anos) e do conjunto da América Latina (30 anos).

Médico sentado com paciente em hora de consulta. Imagem para ilustrar matéria sobre acesso a consultas e cuidadores. Crédito: Kzenon/shutterstock

Acesso a cuidadores é ainda pior

Segundo o estudo, a contratação de cuidadores é relevante apenas para famílias de maior renda. Apenas 0,4% dos idosos de baixa renda têm acesso a esses profissionais. O que reforça a desigualmente no acesso a consultas e cuidadores. No entanto, entre os idosos de renda mais alta, esses números variam de 27% a 69%.

A situação pode ser ainda mais agravante. Isso porque o país não está preparado para atender às demandas da população idosa em termos de recursos humanos. Apenas 0,5% dos graduados em programas de residência médica concluíram o curso de geriatria, de acordo com o relatório Demografia Médica Brasileira 2023.

Por outro lado, observou-se que 9,8% dos residentes optaram pela especialização em pediatria. Cerca de 7,5% escolheram obstetrícia e ginecologia. As áreas de dermatologia e cirurgia plástica foram escolhidas por 2,3% e 1,6% dos residentes, respectivamente.

E como fica o sistema de saúde?

O acesso a consultas e cuidadores está prejudicado, principalmente por causa de problemas no sistema de saúde. A pouca oferta de leitos de longa permanência, por exemplo, é um problema crítico. Eles costumam ser destinados a pacientes que não apresentam condições graves, mas possuem necessidade de reabilitação. Muitos deles são idosos.

Segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), houve uma diminuição na oferta desses leitos na última década. Em 2010, havia 0,6 leito crônico ou de reabilitação para cada mil idosos no Brasil. Em 2021, essa proporção diminuiu para 0,4 leito para cada mil idosos.

A falta desses leitos resulta na permanência prolongada de pacientes com alta dependência nas salas de urgência. Ou mesmo nos leitos de internação geral e até em UTIs. Esses serviços poderiam ser usados de forma mais eficiente e com outras finalidades.

Apenas 36% dos municípios brasileiros possuem leitos de longa permanência. A maioria deles está concentrada em instituições privadas.


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