O envelhecimento populacional e o aumento na expectativa de vida têm impactado diretamente os padrões familiares. Com essas mudanças, vemos um número crescente de mulheres idosas que vivem em moradias independentes. Porém, proporcionar qualidade de vida e dignidade para idosos que moram sozinhos é um desafio para toda a sociedade.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), publicada em 2022 e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), evidencia diversas mudanças na estrutura populacional brasileira. Um dos exemplos é que a população brasileira está mais velha e cada vez mais morando sozinha.

Os dados indicam que 7,5 milhões de domicílios no Brasil contam com um único morador. Entre o grupo de idosos que moram sozinhos, 60% são mulheres com 60 anos ou mais. Ou seja, 57,5% das mulheres que moram sozinhas são idosas.

Idosos que moram sozinhos: quais os maiores desafios?

Antonio Leitão, gerontólogo e gerente institucional do Instituto de Longevidade diz que “a questão da moradia solitária se torna um problema em associação a fatores de risco específicos”. Ele aponta dois fatores de risco com grande nível de importância para idosos que moram sozinhos: renda e saúde. Segundo o especialista:

“Pessoas de baixa renda que morem sozinhas e que porventura precisem de cuidados em razão de alguma limitação funcional, podem ficar desassistidas para ter uma alimentação de qualidade, ou se manter higienizadas, por exemplo. Isso é menos provável para pessoas em situação mais confortável, do ponto de vista financeiro.”

No que diz respeito à saúde, ele conta que “se a pessoa está com funções físicas e cognitivas preservadas, ela tem condições de se manter ativa, envolvida de acordo com seus interesses em atividades sociais, mesmo que more sozinha”.

Antonio ainda pondera que para mulheres idosas a situação da renda pode ser ainda mais complicada. Isso porque, no geral, elas envelhecem com menos estabilidade de renda que os homens.

Proteção e segurança para mulheres idosas que moram sozinhas

De acordo com a terapeuta ocupacional e docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Carla Santana, a questão da segurança dos idosos, em especial das mulheres, é um ponto importante  a ser destacado.

Carla conta que, em primeiro lugar, é necessário adotar diferentes perspectivas para pensar na questão da segurança da pessoa idosa. Para ela:

“O primeiro aspecto está na direção da possibilidade de poder morar sozinha, pois muitas mulheres (homens também) são influenciadas por familiares e amigos para não ficarem sozinhos. Especialmente quando grandes eventos de vida ocorrem, como a viuvez por exemplo. Então, a premissa aqui é a garantia de que muitos idosos conseguem e podem ter uma vida plena, mesmo morando sozinhos. E viver sozinha como mulher pode ser empoderador e libertador, mas traz desafios e preocupações únicas. Uma das preocupações mais importantes para as mulheres que vivem sozinhas é garantir sua segurança e proteção.”

A especialista sinaliza três pontos principais para garantir essa segurança:

1. Estabelecer uma rede de apoio pessoal e de serviços

Tarefas ou serviços domésticos, quando necessário, podem ser feitos por alguém de confiança do morador. Especialmente as mais difíceis como uma troca de lâmpadas, algum ajuste no chuveiro ou mesmo a limpeza pesada. "Há muito pouco tempo atrás, a contratação de serviços era basicamente feita pelo homem. Assim, há um desafio na adaptação para algumas tarefas cotidianas, especialmente aquelas ligadas à contratação de serviços de telefonia, internet, TV a cabo”, conta Carla.

2. Melhorar a proteção residencial

“Uma casa segura é a chave para o morador se sentir seguro. A instalação de fechaduras, vigilância e outros sistemas de segurança ajuda muito a tornar uma casa mais segura. Neste sentido, também é possível a contratação de serviços de segurança de resposta rápida, para eventos de saúde ou ainda de proteção.”

Para a especialista, entre os cuidados que podem ser tomados, estão:

  • Troca de fechadura das portas e portões após a mudança;
  • Instalação de olho mágico ou campainha de vídeo - para identificar com facilidade os visitantes;
  • Uso de dispositivos domésticos inteligentes para segurança, como câmeras;
  • Investimento em iluminação da casa, especialmente à noite - para que, mesmo ausente, seja possível considerar que a casa está ocupada, evitando a presença de intrusos.

3. Prestar atenção ao entorno da casa

A terapeuta ocupacional diz que idosos que moram sozinhos precisam ter olhos atentos. 

“Observar o que acontece ao redor, como regra geral, pode trazer respostas rápidas e antecipadas. Como, por exemplo, evitar andar por lugares escuros e sozinhos, deixar portas abertas, objetos de valor à vista. Ao sair sozinho, informar a amigos próximos e familiares e mantê-los atualizados. Além disso, configurar contatos de emergência pode ser útil em caso de eventos inesperados.”

Idosos que moram sozinhos precisam cuidar de sua Longevidade Financeira

A autonomia de pessoas idosas que vivem sozinhas também depende do cuidado com as finanças. De uma forma geral, especialistas em finanças indicam que reservas financeiras sejam feitas desde que a juventude. Essa é uma forma de garantir um envelhecimento mais seguro financeiramente. Contudo, nem todos têm o hábito ou conseguem poupar ao longo da vida.

Antonio pontua que idosos têm direito a benefícios do governo. O assistencialismo é uma maneira de dar suporte para aqueles que mais necessitam. “O Brasil conta com um programa de transferência de renda não-contributivo que é o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que assiste idosos em situação de vulnerabilidade financeira. Aqui estamos falando de pessoas com nível de renda realmente baixo. Mas, justo por isso, esse programa é fundamental e deve ser mencionado”, comenta.

Além disso, Antonio diz que ter o controle das finanças é uma maneira de ter maior estabilidade. “Para pessoas que conseguiram alguma aposentadoria, a questão está em administrar com cuidado os recursos. E se houver energia e condições, uma boa ideia é buscar fazer uma renda extra com competências existentes, como cozinhar ou dar aulas particulares”, completa.

Programas e políticas que dão suporte para idosos que moram sozinhos

De acordo com o gerontólogo, a Pastoral da Pessoa Idosa é uma organização da esfera não-governamental que oferece um serviço exemplar. “Eles acompanham mais de 100 mil idosos em situação de vulnerabilidade, com base no trabalho de voluntários”, comenta Antonio.

Já na esfera governamental, alguns estados e cidades promovem programas para pessoas idosas. “Um caso conhecido e de muito sucesso é o Programa de Acompanhante de Idosos, da Prefeitura de São Paulo”, diz o especialista.
Mulher idosa brasileira usando tablet digital em casa. Imagem para ilustrar matéria sobre idosos que moram sozinhos.Crédito: Kleber Cordeiro/Shutterstock

Mais do que uma casa, um lar

De acordo com Carla, uma casa em que vive um idoso deve ser pensada como um lar para uma pessoa com suas individualidades. Envelhecer faz parte de um processo natural e que requer mudanças. Como não existem padrões de moradias pensadas no conforto e nas necessidades de pessoas mais velhas, estratégias precisam ser feitas para garantir a segurança e a acessibilidade do morador.

Entre eles, a especialista destaca as seguintes adaptações:

  • Presença de barras de apoio;
  • Redução de pequenos degraus;
  • Corrimãos em áreas de escada;
  • Retirada de pisos derrapantes ou que ofusquem a visão;
  • Boa iluminação;
  • Controle de temperatura.

Um lar também é construído com a personalidade do morador. Por isso, Carla ainda pontua a importância de um “ambiente que seja interessante, confortável, aconchegante, que expresse o estilo de vida de seu morador. Cenários vivos de experiências e vivências”.

“Hoje, a oferta de formas diferentes de moradia se ampliou e tem sido muito interessante, como as opções de co-housing, co-living, condomínios específicos para pessoas idosas etc. A ideia não é estabelecer uma linha de base etária, mas nas necessidades do morador. E nesse sentido, a receita é que a moradia garanta a funcionalidade, a segurança, o conforto e o bem estar do morador, no conjunto.”

Independência e autonomia

Segundo Carla, o primeiro passo para garantir a autonomia é ter clareza do que pode ser feito com independência ou não. Dessa forma é possível evitar acidentes, como queda de bancos ou escadas, ao tentar alcançar algum objeto, por exemplo. Ainda, pensar em aparatos facilitadores para o dia a dia também é uma opção favorável para ter mais autonomia.

Equipamentos que facilitem o alcance de objetos altos, um alarme de fumaça, um relógio de timer para afazeres culinários, iluminação acionada por presença, ou que ilumine o trajeto durante a noite para um caminhar seguro, são algumas estratégias. Carla ainda diz que serviços de entrega a domicílio também são opções válidas para evitar que a pessoa idosa saia de casa desnecessariamente. Seja para comprar comida ou remédios.

Adaptações, porém, podem ir além de equipamentos. A simples troca de objetos dentro de um armário já pode colaborar para a acessibilidade. Já no quesito serviços, a especialista torce para que existam mais opções com foco em pessoas idosas. “Isso vai desde uma limpeza residencial ao transporte especializado. Não quer dizer ‘produtos e serviços para idosos', mas produtos e serviços que levem em conta as necessidades e desejos dos idosos. Que façam parte como consumidores relevantes que são”, comenta.

Pensar em longevidade é um dever de todos

Carla ainda destaca que é necessário que todos pensem em um futuro capaz de suprir as necessidades daqueles que envelhecem, principalmente dos idosos que moram sozinhos.

“Preciso destacar que a longevidade é certa. Como pessoas e sociedade precisamos pensar sobre como será o nosso presente e futuro como pessoas mais velhas. E as decisões para o futuro se tomam no presente. Então, a saúde, a segurança, as finanças, a moradia, o lazer, o trabalho, a mobilidade, as atividades diárias, a comunicação precisam entrar na nossa conta hoje e urgentemente, para que esteja sob o nosso controle e possam ser desejadas, decididas e cuidadas com autonomia. E isso passa pela via da política e participação social.”


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