Para pessoas mais novas, a vida após os 60 anos pode parecer um mistério. Envolvida em preconceitos, a velhice acaba sendo vista como algo negativo, quando, no entanto, é um período repleto de possibilidades.

“O envelhecimento envolve múltiplos aspectos”, comenta Tássia Monique Chiarelli, escritora, gerontóloga e doutoranda em Gerontologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). “Esse processo de construção e desconstrução sobre a velhice se faz necessário para revermos o que são mitos e o que de fato acontece com a população idosa”.

Se você já passou dos 60 anos, vai se identificar com a análise da especialista. Se não, leia para aprender mais sobre essa fase da vida que um dia chegará para você.

Os preconceitos do envelhecimento

  • Pessoas idosas são todas iguais

Para Tássia, um dos principais erros é ter uma visão homogênea sobre a velhice. Ou seja, acreditar que todas as pessoas com mais de 60 anos são iguais. “Na verdade, é justamente o contrário”, afirma. “Essa é a fase da vida mais diversa que existe. À medida que uma pessoa vai crescendo, se desenvolvendo e envelhecendo, ela vai se diferenciando dos seus pares”.

A gerontóloga explica que o envelhecimento é um processo individual. Porém, sofre influência de aspectos internos, assim como do meio no qual a pessoa está inserida. Esse conjunto de variáveis resulta em indivíduos com características, necessidades e projetos de vida diversos. “Ao rotular as pessoas idosas como iguais, posso contribuir com a criação ou o fortalecimento de outros estereótipos. A dentificação das especificidades fica mais difícil”, aponta Tássia.

  • A infantilização dos idosos

Outro estereótipo que deve ser quebrado é o da infantilização de pessoas com mais de 60 anos. “O idoso não volta a ser criança, mas continua seguindo a sua trajetória de vida. Caracterizar um idoso como uma criança é reduzir e tornar invisível o que ele construiu ao longo dos anos enquanto ser humano”.

Para a gerontóloga, a velhice é uma manifestação de todas as outras fases da vida. É justamente nisso que está a sua beleza. Tudo que transcorreu durante a infância, a adolescência, a juventude, a fase adulta e a maturidade de uma pessoa estão ali, reunidas na velhice. “Temos em nossa bagagem, a criança e o jovem do passado, mas seguimos ativos, construindo quem somos hoje”.

O mito da infantilização do idoso pode ser perpetuado porque, às vezes, a pessoa mais velha precisa de ajuda em função de uma demência ou porque o seu nível de dependência aumentou. No entanto, isso não significa que deva ser tratada como uma criança.

“Quando nos projetamos no lugar da pessoa idosa, podemos observar com maior clareza o impacto da infantilização sobre o seu bem-estar e sua autoestima.” Tássia reforça que o idoso deve ser tratado conforme a sua idade. Além disso, sua história de vida não deve ser deixada de lado.

  • Pessoas com mais de 60 anos não fazem sexo

Enxergar a pessoa idosa como um ser assexuado também é um estereótipo amplamente difundido na sociedade, mesmo que não seja um tema discutido tão abertamente. “É importante termos a clareza de que o amor e o desejo não têm idade. A expressão da sexualidade faz parte do ser humano”.

Tássia explica que muitas pessoas com mais de 60 anos acabam sendo limitadas aos papéis de pais e avó e às funções que devem desempenhar dentro da família. “Elas precisam ser entendidas em sua totalidade, sem que se sintam envergonhadas em manifestar sua sexualidade, seja em relações heterossexuais, como homossexuais”.

  • Velhice é sinônimo de doença

Um estereótipo que fortalece o medo e a ansiedade acerca do envelhecimento é relacioná-lo a doenças. Para a gerontóloga, ao fazer essa associação, pode-se passar uma ideia errônea de que a velhice precisa ser curada ou até mesmo combatida. “Em uma conversa corriqueira em que um jovem comenta que está com dor nas costas, é comum ouvirmos ‘Ixi, está ficando velho?’”.

60 anosCrédito: Jacob Lund/shutterstock

No entanto, o conceito de saúde não se limita à ausência de doenças. Mesmo indivíduos com doenças controladas podem viver plenamente. “Além disso, precisamos incentivar as pessoas a adquirirem hábitos saudáveis ao longo da vida. Uma velhice mais saudável também depende das suas escolhas durante o ciclo vital”, reforça Tássia.

Como é a vida após os 60 anos?

Vamos quebrar alguns estereótipos sobre o envelhecimento? O Instituto de Longevidade elencou afirmações e questionamentos que as pessoas costumam fazer sobre idosos. Em seguida, Tássia explicou o que é mito e o que é verdade. 

Pessoas com mais de 60 anos...

  • Estão fragilizadas?

Existem idosos que estão frágeis, mas não são todos. “Sempre é importante lembrar da diversidade desse público para que a população não fique desassistida”. Para a gerontóloga, é imprescindível compreender o que é a fragilidade e como avaliá-la para, assim, fornecer cuidado e prevenir problemas. “De qualquer modo, é importante que o estímulo da autonomia e independência seja incentivado tanto em idosos não frágeis, como em pré-frágeis e frágeis”.

  • Podem namorar?

“Se a pessoa idosa quiser, por que não?”, se questiona Tássia. Sua recomendação é apenas para que as orientações e os cuidados com a saúde sejam seguidos. Isso porque o número de doenças sexualmente transmissíveis em pessoas acima de 60 anos de idade tem aumentado. “Prevenção é fundamental. Para isso, os profissionais também precisam estar atentos para educar sobre saúde, deixando de lado preconceitos e tabus”.

60 anosCrédito: Monkey Business Images/shutterstock

  • São teimosas?

A teimosia não está relacionada com a idade, mas sim com características individuais. Dessa forma, algumas pessoas realmente podem ser mais teimosas do que outras, mas não porque são mais velhas. “Se uma pessoa que tem 30 anos de idade possui a teimosia como uma de suas principais características, a tendência é que ela continue assim quando for idosa”.

  • Precisam cuidar mais da saúde?

“O cuidado com a saúde precisa ser ao longo da vida, e não apenas na velhice”, pontua a gerontóloga.

  • Podem praticar esportes?

A atividade física é um dos aspectos que contribuem para o envelhecimento saudável. Dessa forma, Tássia recomenda que a escolha do esporte ou do tipo de exercício a ser praticado tenha em consideração os interesses e o perfil da pessoa idosa.

  • Podem recomeçar profissionalmente?

Ter mais de 60 anos não é um empecilho para recomeçar, seja profissionalmente ou em qualquer outro aspecto de sua vida, como repensar hábitos mais saudáveis, se reconciliar com pessoas queridas e até mesmo retomar um hobbie. “Especificando para a vida profissional, a pessoa idosa tem potencial para aprender novas competências, assim como aproveitar o seu conhecimento e a sua experiência acumulada para contribuir com o mercado de trabalho”.

  • Podem aprender algo novo?

“Não só podem, como é recomendado”, afirma Tássia. De acordo com a gerontóloga, novas aprendizagens auxiliam no desenvolvimento pessoal, ampliam a inclusão social e estimulam o envelhecimento ativo.

  • Podem morar sozinhas?

“A maior parte das pessoas idosas pode morar sozinha, se assim desejar”, comenta. No entanto, é deve-se lembrar que existe uma diferença entre morar sozinho e estar isolado. “Independentemente do tipo de moradia, é importante que haja uma rede de apoio e que a própria residência esteja em condições de suprir e estimular a independência da pessoa com mais de 60 anos.


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