No palco, um imenso telão de led. O painel de última geração começa a exibir imagens de labaredas e se divide ao meio, abrindo passagem para uma motocicleta invocada. Na direção, uma pop star invade a ribalta ao som de um de seus principais hits. Em um universo de espetáculos recheados de parafernálias tecnológicas, a cena poderia passar batida como apenas mais uma megalomania do showbiz. Aqui, impressiona o fato diva em questão ter 71anos de idade e do sucesso ser Prova de Fogo, gravada em 1967. Sim, é Wanderléa, a rainha da Jovem Guarda, que acelera a moto e incendeia o cenário.
A entrada triunfal da eterna ternurinha derruba o queixo do público que lota a plateia do espetáculo “60! Década de Arromba” – um documentário musical que narra os principais acontecimentos artísticos, sociais, esportivos e políticos ocorridos no mundo entre 1960 e 1969 e está em cartaz em São Paulo, no Theatro Net, até o dia 30 de setembro. (Clique aqui para conferir datas e preços.)
Pouco antes de mais uma de suas cinco apresentações semanais, Wanderléa recebeu o Instituto de Longevidade Mongeral Aegon para falar sobre a capacidade do seu sucesso em vencer a passagem tempo, as diferenças entre cantar hoje e nos tempos do iê-iê-iê, o machismo do presente e do passado, os cuidados com procedimentos estéticos e aposentadoria.
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“60! Década de Arromba” é um espetáculo para todas as idades?
Eu acredito que sim. Os fãs que nos acompanharam durante a juventude trazem os filhos e os netos para nos prestigiar agora. É uma delícia!
“Nunca imaginei que com sete décadas de vida eu estivesse trabalhando em cima de coisas que fiz na adolescência”
Como ter 71 anos impactou o seu trabalho?
Nunca imaginei que com sete décadas de vida eu estivesse trabalhando em cima de coisas que fiz na adolescência. Isso é muito interessante e divertido, além de trazer muita alegria para o público e para mim.
Fazer sucesso há tanto tempo a deixa mais confortável na hora de subir ao palco?
Não… Ao subir ao palco, independentemente do tempo de carreira, sempre dá o mesmo friozinho na barriga. A expectativa, felizmente, é a mesma. O dia em que eu não sentir mais isso significa que não tem mais sentido subir ao palco.
“As pessoas me acompanharam durante a adolescência não acreditaram que eu envelheceria”
Já sofreu algum tipo de preconceito por causa da idade?
Ainda não. Acho que as pessoas me acompanharam durante a adolescência não acreditaram que eu envelheceria como todas as outras pessoas (risos). Para esse público serei sempre uma eterna teenager.
Qual a principal diferença entre cantar nos anos 60 e atualmente?
Agora eu canto com mais consciência. Antes era tudo mais improvisado. Hoje, existe mais tecnologia para te auxiliar: bons microfones, bons retornos… Coisas que não existiam naquela época.
O que você tem de mais importante para ensinar aos cantores em início de carreira?
Que é preciso ter certeza de que você realmente gosta de cantar, que isso é imprescindível para a sua vida. Você precisa perceber se ficará muito triste ou frustrada ao não abraçar essa carreira. É muito importante a gente fazer aquilo que gosta.
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“Você precisa trabalhar por amor e não por necessidade de provar algo aos outros”
O que considerava um grande aprendizado, mas que, com o tempo, percebeu que não te servia mais?
Com o passar do tempo, a gente aprende coisas novas. E os aprendizados da adolescência são diferentes dos da maturidade, mas é importante não levar o sucesso tão a sério nem deixá-lo subir à cabeça. Você precisa trabalhar por amor e não por necessidade de provar algo aos outros. Você precisa fazer por você, porque a sua alma escolheu esse trabalho.
Como lida com o envelhecimento?
Como todo ser humano, preferia ter 20 anos (risos). Mas procuro me cuidar para estar bem, principalmente porque trabalho para o público.
O que acha do abuso de cirurgias plástica e botox?
A tecnologia está à nossa disposição para nos ajudar a melhorar, mas é preciso ter critério para não exagerar e se deformar. O resultado de um procedimento precisa ser natural. Então, é necessário procurar um bom médico para ser bem assistida.
Pensa em aposentadoria?
Não… A gente não se aposenta nunca. Se você não faz mais aquilo que fazia na juventude, nos melhores anos de vida, pode escolher uma nova tarefa para desempenhar. Se aposentar é morrer.
“Os homens estão se transformando, mas o machismo ainda existe”
Como enxergava o machismo na década de 60 e como vê hoje?
Os homens estão se transformando, mas o machismo ainda existe. Somos nós, as mulheres, que estamos ensinando aos homens a serem mais flexíveis e participativos. Acho que eles até gostam, pois antes eram mais endurecidos com essa coisa de que homem não chora, não ajuda em casa…
Hoje, eles estão descobrindo que participar da vida doméstica, que ajudar criar os filhos com as suas mulheres é bastante prazeroso e que o companheirismo deixa o relacionamento mais leve para os dois lados. Porém, infelizmente, ainda existe muito machismo e muitos tabus a serem derrubados.