No último dia 29, a atriz Vera Fischer publicou em seu perfil no Instagram uma foto antiga, de 1977, em que aparece nua na praia de Santa Catarina.
Quero dizer, não completamente nua. Ela teve que tampar os mamilos para que a foto fosse aprovada pela plataforma, que costuma bloquear imagens quando essas partes do corpo são expostas.
Isto é, quando são corpos de mulheres.
O mesmo não acontece com homens, que proliferam nas redes sociais sem camisa, exibindo o torso nu sem nenhum tipo de constrangimento.
Na legenda da foto, Vera Fischer escreve: “Os homens podem, as mulheres não”. Qual a diferença, então? Por que o pudor em relação ao próprio corpo é reservado apenas às mulheres?
A imagem, junto ao tom sarcástico na legenda, levantou vários elogios à atriz, mas muitas pessoas se sentiram incomodadas. Por que o corpo nu de uma mulher causa tanta revolta? E vou mais a fundo: por que uma mulher com quase 70 anos espanta ao ter orgulho do próprio corpo?
Existem duas coisas sobre as quais precisamos ponderar:
1. O corpo feminino é visto sob duas óticas principais: como meio reprodutor e como desejo sexual masculino. Quando uma mulher desafia esses dois conceitos e assume o poder em relação ao próprio corpo, ela entra em conflito com aquilo que se espera dela, e passa a ser “malvista”. Ou seja, é esperado que ela não tenha direito ao próprio corpo. Tanto é que, quando um corpo feminino é exibido na publicidade ou para proveito masculino, tudo bem. O problema é quando essa mesma mulher resolve assumir autonomia e ditar a forma como deseja ser vista.
2. O corpo idoso não é visto como algo belo. “Bonito é o novo”, alguns dizem. Assim, uma mulher de 69 com orgulho do próprio corpo causa desconforto. Por mais que a foto seja antiga, ainda assim o envelhecimento gera estranheza, mesmo que seja uma das coisas mais naturais da vida. O preconceito surge a partir do momento em que não é aceitável uma mulher bonita envelhecer e, pasmem, continuar bonita, continuar se aceitando e continuar tendo orgulho de si mesma.
Outro ponto importante a ser considerado neste caso é que Vera Fischer é atriz e, como atriz, seu corpo é seu principal instrumento.
E, tentando espantar alguns preconceitos que temos enraizados, é importante entendermos como o corpo se posiciona na construção de cada indivíduo, seja pessoalmente, seja profissionalmente. Estando ele nu ou não, ele deve ser visto mais do que uma fonte de desejo.
Ele é, mais do que qualquer coisa, identidade, história e memória.