Uma casa de vó nunca é só a casa da avó quando somos crianças. É refúgio, conforto e aconchego. São as brincadeiras com os primos, uma fuga dos pais e a liberdade longe da escola. São as explorações pelos corredores compridos cheios de mobília antiga, as poltronas largas na sala e os retratos cheios de memória na parede. É o cheiro de comida caseira e a risada dos tios na varanda.
Quando criança, não via meus avós o tempo todo. Meus avós maternos moravam em uma cidade próxima à nossa, há menos de uma hora de distância, então às vezes conseguíamos encontrá-los no almoço de domingo.
Já meus avós paternos moravam em outra região do país, em Catanduva, no interior de São Paulo, há cerca de oito horas de distância da minha casa em uma viagem de carro. Não éramos uma visita frequente, mas éramos certeza durante as férias da escola.
Dona Leonor, minha avó paterna, era o coração da família. A casa, da época em que meu pai e meus tios eram crianças, tinha espaço o suficiente para abrigar todos os netos, fosse para passar alguns dias, algumas semanas ou apenas algumas horas.
Crédito: arquivo pessoal
E como a Dona Leonor tinha netos! Mãe de sete filhos, não era de se estranhar que a casa estivesse sempre cheia, tanto com as crias de sangue, como aquelas de coração. E ela sabia como agradar cada um que cruzasse a porta. Mesmo com tanta gente para cuidar, eu sempre encontrava espaço em seu abraço generoso.
O Seu Antônio, também conhecido como vô Lazarin, morreu quando eu ainda era muito pequena, então minhas lembranças dele não são muito concretas. No entanto, tem algo do qual eu nunca esqueci. Durante um dos almoços de domingo na casa de um dos meus tios, eu me cansei e meu avô me levou de volta para casa no seu Escort cinza. Passamos o resto do dia juntos assistindo TV; ele em sua poltrona e eu em seu colo. Só nós dois.
Por outro lado, a casa dos meus avós em Anápolis, um pequeno pontinho no meio do Cerrado brasileiro, era só minha. Com aquela certeza de que aquele mundo me pertencia, eu era uma pequena princesa no reino da minha avó Jovita. Tanto é que ela criou um bolo só para mim, com o meu nome. Até hoje, é o meu bolo preferido. Eu confesso que não me lembro muito bem do sabor, mas sabia que era algo especial, feito pela minha vó para me fazer feliz.
Crédito: arquivo pessoal
Do meu avô Manoel, carrego a lembrança das nossas visitas um pouco antes que ele nos deixasse. Às vezes, durante os fins de semana, íamos visitá-lo e levá-lo para passear no parque. Sentávamos no banco e ele me ouvia contar sobre os meus dias e os meus amigos. Era um bom ouvinte e me deixava livre para falar, algo que eu não sabia fazer muito bem na época.
Mesmo que minhas lembranças dos meus avós não sejam muitas, tenho-as com muito carinho, alguns dias com mais intensidade, outras com menos, mas sempre com muita saudade. Agora, aos 30 anos, tenho mais consciência de todos os momentos que passamos e o que eles significam em minha vida.
E mesmo após tanto tempo, meus avós ainda fazem parte de mim e me ajudam a construir quem eu sou.