As relações de amizade são mais importantes para o bem-estar do que as familiares, principalmente na velhice. É o que mostra um estudo publicado na revista científica “Personal Relationships”, desenvolvido pela Universidade Estadual de Michigan, dos Estados Unidos.
Para chegar a essa constatação, foram analisadas duas pesquisas, que envolveram 278.534 pessoas (clique aqui para ler o resumo em inglês). Na primeira, que contou com 271.053 indivíduos de cerca de 100 países, foi verificado que tanto os relacionamentos familiares quanto os de amizade estavam ligados à boa saúde e à felicidade. Mas as relações entre os amigos eram um indicador mais forte de bem-estar em idades mais avançadas.
Na segunda, 7.481 idosos norte-americanos foram avaliados quanto a relacionamentos sociais. Pessoas com amigos que geram tensão relataram mais doenças crônicas. Quando havia apoio e confiança entre elas, no entanto, constatou-se um aumento de felicidade.
Uma das hipóteses levantadas pelo coordenador do estudo, o psicólogo Willian Chopik, para explicar a diferença é a natureza dos relacionamentos. Ao longo do tempo, as pessoas mantêm os amigos dos quais gostam e que as fazem se sentir bem – e descartar os demais. “Amizade vem com a questão da escolha. Muitas vezes, buscamos amigos por semelhança – e encontramos pessoas como nós”, sinaliza o psicólogo Roberto Debski, diretor da Clínica Ser Integral, de Santos (SP).
O estudo mostra ainda que os amigos são fonte de apoio para quem não tem cônjuge ou não gosta de depender da família. Além disso, constata Chopik no trabalho, os eles colaboram na prevenção da solidão entre adultos mais velhos e são responsáveis por ajudar a redescobrir a vida social após a aposentadoria.
Segundo ele, os relacionamentos familiares também são agradáveis. Mas, por vezes, envolvem interações mais sérias, negativas e monótonas. “Nem sempre a convivência em família é boa”, considera Debski.
Se a pessoa não conseguiu criar vínculos duradouros, a primeira pergunta que tem de fazer a si mesma é: Por quê?
O psicólogo brasileiro explica que a Organização Mundial de Saúde colocou o relacionamento interpessoal entre os pilares de qualidade de vida. “Ele impacta saúde física e mental” afirma.
Em uma amizade saudável, diz Debski, há dinâmicas de troca, que estreita o vínculo entre as pessoas. Quando não há retribuição, uma delas sai da relação. “Nesse caso, há um desequilíbrio que tem reflexos na sustentabilidade da relação.”
Mas é possível fazer amizades fortes na maturidade? Debski garante que sim. Mas, diz ele, se a pessoa não conseguiu criar vínculos duradouros, a primeira pergunta que tem de fazer a si mesma é: Por quê? É preciso olhar as dinâmicas dos relacionamentos anteriores para perceber o que aconteceu. “As pessoas têm padrões de relacionamento e comportamento – consciente ou inconscientemente”, explica.
Se não conseguir responder após o retrospecto, há sempre opções para ajudar, diz ele. Terapia ou constelação familiar, por exemplo, são recursos que permitem identificar o problema com mais clareza. O certo, finaliza Debski, é que “em qualquer fase da vida é possível cultivar bons vínculos”.
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