Aos 50 anos, com os dois filhos já crescidos, talvez como uma forma de preencher o ninho vazio, Luiz Roberto Santos Scott se tornou voluntário em sua área de especialidade: a odontologia. Ele se uniu a ONG Turma do Bem, que oferece tratamento dentário gratuito a crianças e jovens carentes do Brasil, de mais dez países da América Latina e de Portugal.

“Minha mulher viu o trabalho da organização e me disse: ‘Isso tem a sua cara’. Fui conferir, e tinha mesmo. O melhor é que ela nem pode reclamar do meu envolvimento…” A dedicação é grande. Embora o foco do trabalho voluntário de Scott seja o atendimento, sua atuação vai muito além.

A ONG Turma do Bem tem uma rede de 16 mil dentistas voluntários e isso pede organização e hierarquização. Scott é um dos coordenadores regionais em São Paulo e por isso está sempre próximo ao escritório. “Palpito sempre”, conta, lembrando que não tem um dia em que não comente com alguém alguma coisa sobre a ONG Turma do Bem.

“É uma questão de ser também voluntarioso. Eu ajudo no que for preciso: a arrecadar mais recursos, a apresentar nosso trabalho, a buscar mais crianças e dentistas… Banco o fotógrafo em eventos, carrego cadeira. E se for preciso empurrar um ônibus para que as crianças cheguem, eu empurro. Na verdade, acho que a menor coisa que a gente faz é ser dentista.”

E a profissão de Scott tem lá sua solidão intrínseca: trabalhar fechado num consultório com um paciente, quase sempre do mesmo grupo social, sem muito contato com outras classes.

“A odontologia é elitista. Meu trabalho voluntário me coloca em contato com realidades que eu provavelmente não conheceria. São pessoas com histórias riquíssimas e isso é sensacional. Você pega jovens que estão na fase de evoluir e, por um problema de saúde, estão estagnados. Como o trabalho é contínuo até os 18 anos do beneficiário, você acompanha o crescimento, a mudança no comportamento… Isso é inestimável.”

“Me dei conta de que, com uma pequena ação, podemos fazer grandes mudanças”

O dentista Luiz Roberto Santos Scott avalia criança durante triagem. Crédito: Divulgação

Segundo o dentista, as histórias dos pacientes são bem diferentes, mas há algumas características que se repetem: seja pela dor seja pela baixa autoestima, todos chegam para a primeira consulta cabisbaixos, sem olhar para ninguém cara a cara, silenciosos, tristes.

Quando iniciam o tratamento, começam a se sentir confiantes. “Voltam a sorrir, a ter brilho no olhar. É um processo de construção. É muito gratificante ver os jovens saindo do programa e conquistando coisas. E tudo isso por que passaram a ter um sorriso saudável.”

As mudanças não acontecem só com quem recebe o tratamento, é uma via de mão dupla, que acaba alterando também o comportamento do voluntário. “Outro dia um paciente antigo comentou comigo como eu tinha mudado depois de ter virado um Dentista do Bem. Que estava mais calmo e mais evoluído espiritualmente. Não deve ser só pela maturidade…”

Aos 57 anos, Scott diz que às vezes chega estressado ao consultório e, depois de ouvir as histórias das crianças, percebe que não tenho problema nenhum. “Também me dei conta de que, com uma pequena ação, podemos fazer grandes mudanças, graças aos muitos outros voluntários que trabalham com o mesmo objetivo. O olhar solidário alimenta a alma”, garante.

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