Meu melhor amigo, José Guedes, de 97 anos, todos os dias apanha sol na janela da sala do seu apartamento. Guedes me ensinou que o sol é alimento para o corpo e para a alma. Agora tenho um quartinho do sol. Todos os dias passei a meditar no quartinho:

“Neste momento eu estou bem. Neste momento todos os que eu amo estão bem”.

Guedes faz 30 minutos de caminhada dentro do apartamento e 30 minutos de pedalada. Agora, incentivada por ele, estou caminhando no corredor uma hora por dia.

Desde março, temos um joguinho de palavras que inventei. Ele adora, ri muito, cantarola, me ensina muitas palavras. Ele sempre me vence no joguinho, mas agora estou conseguindo vencer uma vez ou outra. Não é fácil, pois ele é a pessoa mais inteligente que eu conheço, tem uma memória inacreditável, ama aprender todos os dias. Há três meses estamos estudando "Os Lusíadas". Ele veio para o Brasil com 14 anos, de Portugal. Alguns versos ele sabe de cor. Ele lê para mim dois ou três versos, todos os dias. Amei os do Gigante Adamastor, que representa os nossos medos. Agora voltamos para a história trágica de Inês de Castro.

pandemia

Depois da nossa conversa diária, meu marido liga para ele. Meu marido o adotou como pai e, por isso, o nosso amigo mais querido ganhou dois bisnetinhos que vão fazer oito meses. Todos os dias meu marido envia uma "fornada quentinha" de fotos e vídeos dos bisnetinhos para ele. Guedes, Eulina (93 anos) e as filhas Lúcia e Angélica aguardam com alegria a fornada.

O amor que sinto pelo meu melhor amigo enche o meu coração e a minha alma de alegria e emoção. Ele, que é sempre alegre e otimista, anda pessimista com o momento trágico que estamos vivendo. Por isso, fiz uma aposta com ele: quem vai conseguir fazer primeiro a vacina? Ele votou na americana, minha doce e querida amiga Thaís, de 95 anos, também. Meu marido votou na de Oxford. Quem vencer, ganha três garrafas de vinho português e uma rodada da linguicinha e do pastel do boteco que o meu amigo saboreia com o maior prazer.

Muitos amigos me dizem que sentem falta de abraços. Sinceramente, eu não sinto falta de abraços, pois nunca senti e recebi tanto amor na minha vida. Aprendi que o abraço pode ser uma escuta amorosa, uma risada gostosa, uma emoção imensa por estar conectada e junto das pessoas que eu mais amo. Nunca me senti tão abraçada.

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