A mulher com mais de 50 anos está em fase de reavaliação e reinvenção. Seus papéis não cabem na representação da idosa frágil e cuja única função era cuidar dos netos. E essa percepção fez surgir uma sensação de invisibilidade diante dos outros.

“A geração que hoje está na faixa dos 60 anos é a dos baby boomers, a que já revolucionou a história das mulheres uma vez, com a entrada em peso no mercado de trabalho”, afirma a jornalista Marcia Neder, 64 anos, autora do livro “A Revolução das Sete Mulheres”

“Esse grupo não vai aceitar o script tradicional de se aposentar, sentar e morrer. Hoje você chega à idade de se aposentar e ainda tem 20, 30 anos pela frente”, completa.

A avaliação foi feita na última quarta-feira (1º), durante o evento “Geração 5.0: reinvenção da maturidade feminina”. Também estiveram presentes a antropóloga Mirian Goldenberg e o médico Drauzio Varella, em debate mediado pela apresentadora Astrid Fontenelle e promovido pela Plenitud no Mis (Museu da Imagem e do Som).

Astrid Fontenelle e Marcia Neder no evento “Geração 5.0” em São Paulo. Crédito: José Roberto Greb Vazquez

“Ouvi de uma presidente de uma empresa, mulher poderosa, que se sente invisível. Imagine uma pobre mortal!”

Em suas pesquisas, Marcia evidenciou uma queixa comum entre as mulheres maduras: a de que não são notadas. “Ouvi de uma presidente de uma empresa, mulher poderosa, que se sente invisível. Imagine uma pobre mortal!”

Para ela, a questão crucial é a da representação da mulher na faixa dos 50 e 60 anos. “Ou você é jovem ou é velhinho, frágil, dependente. A própria placa que identifica o idoso reforça essa invisibilidade, com um velhinho de bengala. Se você não cabe nessas caricaturas, você não existe”, afirma.

Mirian Goldenberg e Drauzio Varella durante evento no MIS. Crédito: José Roberto Greb Vazquez

“Na juventude, o corpo é o capital da mulher brasileira. Na velhice, para as que têm até 60 anos, é o marido”

A antropóloga Mirian Goldenberg, 59 anos, reforça essa percepção. Em 1.700 entrevistas com mulheres de 40 a 90 anos de idade, diz ter ouvido também a queixa de mulheres que se sentem “transparentes”, não desejadas pelos homens. “É como se tivessem deixado de ser mulheres.”

“Na juventude, o corpo é o capital da mulher brasileira. Na velhice, para as que têm até 60 anos, é o marido. Para as com mais de 60, não é o corpo nem o marido: o principal capital é o tempo. É a primeira vez na vida que elas se sentem livres e querem cuidar de si”, afirma Goldenberg, autora do livro “Velho é lindo!”

A preocupação exagerada com o envelhecimento, para a antropóloga, é cultural. “Se as brasileiras soubessem que o medo de envelhecer é cultural, sofreriam menos. A mulher com 35 anos já está com pânico e não enxerga beleza na velhice. Em outras culturas, não é assim. Precisamos nos libertar dessa visão.”

Para Goldenberg, “a mulher é prisioneira de coisas ligadas ao corpo. Temos muita vergonha de coisas naturais. Não podemos soltar um peidinho.” Neder emenda: “Você não tem que representar o papel que esperam de você”.

“A mulher é um vulcão de hormônios, e a produção de estrógeno e progesterona, que têm impacto óbvio no organismo, de repente, para”

Além das mudanças físicas, há as biológicas, com a chegada da menopausa. Drauzio Varella, 73 anos, pontuou que, para a mulher, a faixa dos 50 anos é a mais crucial de sua vida.

“É mais importante do que quando ela teve a menarca [primeira menstruação], porque agora ela tem uma história de vida e vai se preparar para viver mais 30 anos. Os problemas hormonais podem provocar rupturas sérias em sua vida, mas ela precisa se preparar e tocar em frente.”

Para os homens não há esse risco, pois a diminuição da produção de testosterona é gradual. A mulher, lembra Varella, “é um vulcão de hormônios, e a produção de estrógeno e progesterona, que têm impacto óbvio no organismo, de repente, para”.

“Por isso que as mulheres dizem que os homens são todos iguais. E os homens, que não conseguem entender as mulheres”, brinca o médico.

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