Em uma sociedade diversificada, tendemos a agrupar, de forma não intencional, pessoas com base no que enxergamos, como gênero, raça, deficiência. Fazendo isso, as estereotipamos e supomos que todos os membros de um “grupo” são iguais.

Estereotipar e discriminar indivíduos ou grupos com base em suas idades é chamado ageismo (1). É algo que afeta tanto jovens quanto idosos, mas adultos mais velhos tendem a sofrer o peso desse problema. Estereotipar é sempre problemático – especialmente porque, quando se fala em envelhecimento, a diversidade é grande em termos de idade.

O ageismo pode ter muitas formas, incluindo atitudes prejudiciais como:

- Categorizar os mais velhos como frágeis, onerosos ou dependentes;

- Instituir práticas discriminatórias, como racionar cuidados de saúde por idade;

- Adotar políticas institucionais que perpetuem crenças estereotipadas, como a aposentadoria compulsória.

Representações ageístas são prevalentes na linguagem do dia a dia e em uma gama de meios de comunicação, como televisão, música popular e mídias sociais(2, 3, 4).

Uma análise recente conduzida pela OMS (Organização Mundial de Saúde), com dados da World Values Survey (rede global de cientistas sociais que estudam mudanças de valores e seus impactos na visa social e política) em uma base de 83.034 adultos de 57 países, destaca o quão generalizado é o problema.

Sessenta por cento dos participantes relataram que adultos mais velhos não são respeitados – respondentes de países de maior renda têm mais probabilidade de relatar essa situação(5). No entanto, diferentemente de outros estereótipos e formas de discriminação, incluindo o sexismo e o racismo, o ageismo é amplamente aceito e comumente não contestado devido a sua natureza implícita e subconsciente(6,7).

“À medida que envelhecemos, não somos apenas sujeitos a discriminações externas – atitudes ageistas negativas tornam-se internalizadas em estereótipos inconscientes”

O ageismo preocupa todos nós. Crianças adotam atitudes e estereótipos do ambiente familiar ou cultural e estão cientes deles aos quatro anos de idade (8). À medida que envelhecemos, não somos apenas sujeitos a discriminações externas – atitudes ageistas negativas tornam-se internalizadas em estereótipos inconscientes. Prova disso são pessoas mais velhas tentando permanecer jovens, sentindo vergonha pelo envelhecimento e limitando o que pensam que pode fazer em vez de se orgulhar da idade (9).

Combater o ageismo – externo ou internalizado – tem grande potencial para melhorar a saúde física e mental dos adultos mais velhos. Pesquisas longitudinais realizadas nos Estados Unidos concluíram que quem tem autoestereótipos positivos se recupera melhor de deficiências e vive em média 7,5 anos mais do que quem tem atitudes negativas em relação ao envelhecimento (10,11).

Alterar o discurso público em torno do envelhecimento da população – que em grande parte retrata adultos mais velhos como encargos sobre o gasto público e o crescimento econômico – também pode ajudar a capitalizar a grande capacidade humana dos mais velhos. Eles fazem contribuições sociais e econômicas significativas para suas sociedades.

No Reino Unido, as contribuições dos idosos através da tributação, do consumo e de outras atividades economicamente valiosas (como a prestação de cuidados) chegaram a cerca de 40 bilhões de libras – o que significa mais do que as despesas com pensões, bem-estar e saúde combinados. Esse valor deve chegar a 77 bilhões de libras em 2030 (12).

Embora haja menos evidências em países de rendas baixa e média, a contribuição dessa população é igualmente significativa. No Quênia, por exemplo, a idade média dos pequenos agricultores é de 60 anos, tornando-os críticos para garantir a segurança alimentar (13).

Em maio, a Assembleia Mundial da Saúde adotou a primeira estratégia e plano de ação global sobre envelhecimento e saúde, que abrange o período de 15 anos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A visão é um mundo no qual tenhamos vidas longas e saudáveis. Uma prioridade é combater o envelhecimento.

O diretor-geral da OMS foi especificamente convidado a desenvolver, em cooperação com outros parceiros, uma campanha global para combater o ageismo, a fim de valorizar iniciativas locais e alcançar um objetivo final de melhorar a experiência cotidiana das pessoas idosas e otimizar as respostas em políticas públicas.

“Embora combater o envelhecimento seja um desafio monumental, a experiência com o sexismo e o racismo mostrou que a mudança das normas sociais é possível e pode resultar em sociedades mais prósperas, equitativas e saudáveis”

Temos uma série de ações propostas, mas estamos ansiosos para trabalhar com uma ampla coalizão de atores para decidir quais devem ser elas.

- Reunir evidências necessárias para ter uma comunicação eficaz e estabelecer ações concretas para combater o ageismo;

- Desenvolver uma coalizão global, já que o ageismo é problema de todos;

- Criar uma plataforma de comunicação que suporte uma campanha pública global para reformular o envelhecimento e combater o ageismo;

- Fazer mudanças estruturais na saúde e em políticas sociais, além de garantir treinamento, que será central para combater o ageismo.

Embora combater o envelhecimento seja um desafio monumental, a experiência com o sexismo e o racismo mostrou que a mudança das normas sociais é possível e pode resultar em sociedades mais prósperas, equitativas e saudáveis.

Pela primeira vez na história, a maioria das pessoas pode esperar viver além dos 60 anos de idade. Estamos vivendo em um mundo em envelhecimento, mas ele não tem que ser ageista. Como primeiro passo, todos nós devemos deixar de definir a nós mesmos e aos outros pela idade cronológica.

Referências:

1 Organization, W.H., World report on ageing and health J.R. Beard, Officer A.M., and Cassels A. K. , Editor. 2015, World Health Organization Geneva. p. 1- 246.

2 Zebrowitz, L.M., J., Too young, too old: Stigmatizing adolescents and elders, in The Psychology of Stigma, T. Heatherton, Kleck, R., Hebl, M. & Hull, J. , Editor. 2000, Guildford Press: London. p. 334-373.

3 Kelly, J., et al., Representation of age and ageing identities in popular music texts. J Adv Nurs, 2016.

4 Levy, B.R., et al., Facebook as a site for negative age stereotypes. Gerontologist, 2013. 54(2): p. 172-6.

5 Officer, A., et al., Valuing older people: time for a global campaign to combat ageism.

6 Levy B, B.M., Implicit ageism, in Ageism: stereotyping and prejudice against older persons, T. Nelson, Editor. 2002, MIT Press: Cambridge (MA). p. 127–8.

7 Cuddy, A.J.C., M.I. Norton, and S.T. Fiske, This old stereotype: The pervasiveness and persistence of the elderly stereotype. Journal of Social Issues, 2005. 61(2): p. 267-285.

8 Levy, B., Stereotype Embodiment: A Psychosocial Approach to Aging. Curr Dir Psychol Sci, 2009. 18(6): p. 332-336.

9 Applewhite, A., This Chair Rocks: A Manifesto Against Ageism. 2016: Networked Books.

10 Levy, B.R., et al., Association Between Positive Age Stereotypes and Recovery From Disability in Older Persons. Jama-Journal of the American Medical Association, 2012. 308(19): p. 1972-1973.

11 Levy, B.R., et al., Longevity increased by positive self-perceptions of aging. Journal of Personality and Social Psychology, 2002. 83(2): p. 261-270.

12 Cook, J., The socio-economic contribution of older people in the UK. Working with Older People, 2011. 15(4): p. 141-146.

13 Organization, W.H., World report on ageing and health. 2015, Geneva: World Health Organization.

ALANA OFFICER ingressou no Departamento de Envelhecimento e Vida da Organização Mundial de Saúde em julho de 2014 para liderar o desenvolvimento do Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde, publicado em outubro de 2015. Atualmente, ela supervisiona o trabalho da OMS em ambientes amigáveis, incluindo a Rede Global sobre Cidades e Comunidades Amigas da Idade e a Campanha Global de Combate ao Ageismo.

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