Perdoar outra pessoa não é uma tarefa simples. Significa abrir mão do ressentimento, se desprender da mágoa e seguir em frente.

Pode não ser fácil, mas o perdão é necessário para nosso bem-estar. Está cientificamente comprovado que é bom para nossa saúde de uma forma geral, tanto física quanto psíquica e emocional. É saudável e faz bem para nosso corpo – principalmente para o coração.

De acordo com a psicoterapeuta, autora do livro O Poder Terapêutico do Perdão e diretora do Núcleo de Aplicação e Pesquisa da Psicologia Positiva (NUAPP), Adriana Santiago, o perdão é essencial para a saúde do coração e para nosso organismo de uma forma mais ampla. “Diversas pesquisas têm sido realizadas para provar esse fato. Agora, o tema deixou a esfera da religião e invadiu a ciência, justamente porque se constatou que quem perdoa vive mais e melhor”, comenta. 

Um remédio contra o infarto

Estudos indicam que perdoar pode reduzir até mesmo o risco de infarto. De acordo com uma pesquisa feita pela psicanalista Suzana Avezum, pessoas que sentem mais dificuldade em perdoar têm mais propensão a sofrer um infarto agudo do miocárdio.

A médica analisou 130 pacientes a fim de avaliar a disposição de cada um para o perdão. Em dois grupos de 65 pessoas cada, ela entregou questionários para entender como cada um responderia a situações diversas envolvendo o perdão, como “quebra de confiança” e “rejeição ou desprezo”.


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Todos os participantes eram bem similares em relação a idade, sexo, condição econômica e estilo de vida, mas um fator separava os dois grupos: no primeiro, nenhuma das pessoas entrevistadas tinha histórico de doença cardiovascular; no segundo grupo, todos os integrantes já haviam sofrido um infarto antes.

O que provocou curiosidade na médica foi o fato de que todos aqueles que sofreram infarto haviam enfrentado situações em que se negaram a perdoar.

Suzana explica que não perdoar gera mágoa e estresse recorrentes, que continuam ao longo da vida sempre que a situação é lembrada. Isso porque o problema nunca é solucionado de fato e a pessoa não consegue dar um ponto final e seguir adiante. Para se defender, o corpo tende a produzir uma quantidade maior de hormônios, que, em excesso, fazem mal e podem prejudicar o coração.

O cortisol, um desses hormônios, ajuda o organismo a controlar o estresse, reduzir inflamações e manter os níveis de açúcar no sangue constantes. No entanto, quando produzido em excesso, estimula a produção de células gordurosas no abdome, criando gordura visceral, que pode aumentar ainda mais risco de doenças cardíacas, como o infarto.

Perdoar pode evitar doenças do coração 

A psicanalista Adriana também afirma que perdoar pode ser um grande aliado contra doenças cardiovasculares. “Não é uma questão de fé. A ciência já provou que, além de prevenir o infarto, deixar de ressentir previne também outras doenças físicas”.

Ela conta que, em um estudo feito por Charlotte Vanoyen Witivliet, pesquisadora do Departamento de Psicologia do Hope College, em Michigan, Estados Unidos, foi comprovado que a falta de perdão ativa respostas no corpo, pois incita a ruminação, ou seja, a repetição de pensamentos nocivos. “A ruminação gera estresse no sistema cardiovascular, sistema nervoso simpático e parassimpático, causando alteração na frequência cardíaca”.

Durante um experimento, Charlotte pediu para que voluntários se recordassem de uma mágoa antiga enquanto conectados a aparelhos para analisar a reação do corpo. Ao longo do teste, a pesquisadora percebeu um aumento da frequência cardíaca e da pressão sanguínea, além de suor excessivo e alteração na musculatura facial, demonstrando raiva ou tristeza.

O contrário também foi observado. Quando confrontados com os motivos pelos quais foram magoados, os voluntários relaxaram e seus corpos responderam de forma positiva fisiologicamente.

Para Adriana, esse estudo é bem claro. “Ele prova o quanto perdoar ou não causa efeitos colaterais, sejam eles emocionais ou fisiológicos, atingindo de forma contundente a nossa saúde”.

Benefícios do perdão

O bem que o perdão proporciona para nossa saúde vai além da prevenção do infarto. Veja abaixo mais alguns motivos para começar a perdoar:

É bom para o coração

De acordo com um estudo da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, pessoas que deixam a raiva de lado são menos propensas a sofrer variações na pressão sanguínea. Já uma pesquisa da revista Journal of Behavioral Medicine relata que o perdão está associado a uma menor frequência cardíaca e pressão arterial. 

Melhora a imunologia

Uma pesquisa realizada pela Universidade Duke, nos Estados Unidos, com pacientes com HIV descobriu que existe uma relação entre o perdão e a melhora no sistema imunológico. Aqueles que perdoaram um mal sofrido anteriormente apresentavam um nível maior de células CD4 no organismo que os demais. Essas células fazem parte do sistema imunológico e são o principal alvo do vírus HIV. Quanto menos células CD4, maior a vulnerabilidade do sistema imunológico e o risco de infecções aumenta.

Restaura o sono

Pesquisadores da Universidade do Tennesse, nos Estados Unidos, revelaram que perdoar pode melhorar a qualidade do sono. Abandonar sentimentos negativos provocados pelo ressentimento pode ajudar até mesmo a reduzir a fadiga.

Diminui o estresse

Um artigo publicado pela revista Journal of Health Psychology em 2014 afirmou que perdoar pode ajudar a liberar sentimentos negativos, ajudando a potencializar sentimentos positivos em relação ao agressor. Por causa disso, o corpo é menos afetado pelo estresse causado pelo envolvimento com o agressor.

É possível aprender a perdoar?

Adriana diz que sim. Para ela, basta apenas começar a decidir. “Muita gente se equivoca achando que perdão é sentimento. Não é! Perdão é decisão”. O primeiro passo é decidir quem você irá perdoar; depois, entender os motivos pelos quais você não perdoou essa pessoa. Esses dois primeiros passos são fundamentais para o processo.

“Tem muita gente que não perdoa, mas nem sabe exatamente o porquê. É preciso delimitar a dor para começar o processo”, comenta Adriana. “É importante entender as razões que levaram o outro a causar tanta mágoa. Esse processo empático não tem a ver com concordar com o agressor, mas entender que naquele momento ele não estava em sua melhor versão – mesmo que essa versão seja péssima e você não concorde com ela”.

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