O que você costuma, ou costumava, conversar com suas avós? Sobre a receita daquela torta que só elas sabem ou sabiam fazer, talvez? Ou, então, a respeito da malha de lã que disseram que iriam tricotar para lhe dar de presente? E, caso seja avô ou avó, qual a pergunta mais inusitada que seus netos já lhe fizeram? É possível dizer, quase com certeza, que eles não foram tão longe quanto a youtuber Sofia Menegon, do canal De Sofia. Por sinal, falar sobre o tema que ela abordou é um ótimo jeito de dar novo significado ao Dia dos Avós.
Isso porque Sofia, uma paulistana mestre em Reike e vegana de 26 anos, é especialista em quebrar tabus. Aliás, essa expertise foi mesmo posta à prova nesse vídeo de bate-papo com suas vovós, Maria, paterna, e Ilná, materna, as duas com 76 anos de idade. O assunto: sexo. E, em particular, a primeira vez de ambas.
Mas não só. A conversa, com 14 minutos de duração, toca em pontos que vão muito além do papai-mamãe – e que podem fazer corar os mais recatados. Mas que se tornam uma verdadeira aula sobre como a sexualidade era vivenciada algumas décadas atrás. E de como pode ser desfrutada na maturidade.
Senão, vejamos. Sofia foi bem direta, sem papas na língua, ao perguntar às avós sobre o hábito da masturbação. Enquanto Maria diz que, para ela, essa prática sempre foi corriqueira, Ilná deixa transparecer o medo de tocar o próprio corpo. Nas searas do sexo anal e do oral, a avó paterna se mostra mais escolada; já a materna nunca experimentou tais variações.
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Em relação à primeira vez, o conservadorismo se inverte: Maria conta que se casou virgem, e Ilná revela que já havia chegado aos “finalmentes” com o avô de Sofia antes de se casarem – no banheiro do escritório em que trabalhavam, quando ainda eram namorados. As avós da youtuber falam também sobre o orgasmo feminino, claro.
Para quem assiste ao vídeo – que já teve 247 mil visualizações no YouTube –, surge logo a curiosidade sobre os bastidores do bate-papo. As preliminares, por assim dizer – ou as negociações para convencer as avós a se abrir em público, por exemplo; bem como as reações do “dia seguinte” – caso dos comentários dos amigos e familiares das duas a respeito de seus depoimentos.
Sobre as estratégias de convencimento, Sofia afirma que não foi nada assim tão complicado levar as avós para a frente das câmeras. “Primeiro almocei com a vó Maria para apresentar a proposta”, diz. “Ela topou muito rapidamente, sempre foi uma avó muito aberta, nunca teve timidez para conversar sobre namorados e afins. Mas eu nunca tinha falado com ela sobre sexo nem sobre a sua primeira vez. Minha outra avó, Ilná, ficou com uma certa vergonha em um primeiro momento, mas eu disse a ela que seria uma conversa tranquila, entre amigas, e ela concordou: ‘Se sua avó Maria for, eu vou’.”
Depois da postagem do vídeo, a youtuber diz ter se surpreendido com as reações de ambas à exposição. “Elas ficaram superorgulhosas do resultado”, avalia. “A vó Ilná mesmo, que é a mais tímida, chegou a me contar que estava até famosa, que todo mundo na academia que frequenta havia visto o vídeo e comentado sobre ele”, afirma. “Ela mesma fez questão de falar sobre esse assunto com a minha família, porque a minha mãe, filha dela, estava com vergonha de conversar a respeito.”
A ideia inicial é que o papo fosse realizado de fato todo em tom de leveza, mesmo para favorecer a desenvoltura na abordagem das temáticas em questão. “Eu não preparei um roteiro de perguntas justamente para que fosse uma conversa muito fluida, sincera, verdadeira”, diz Sofia.
Em determinado momento, no entanto, a menção de uma passagem difícil do casamento da vó Maria quebrou um pouco o clima de descontração: a traição que sofreu. “Senti que esse aspecto acabou pesando um pouco pra ela, e ainda vamos lançar uma parte 2 do vídeo, em que entramos mais nesse assunto. Mesmo assim, o resultado da iniciativa a deixou bastante orgulhosa.”
Aprendizado na prática
Quem vê a firmeza de Sofia Menegon na articulação do colóquio com suas avós pode pensar que ela é uma mulher que não enfrentou preconceitos relativos à sexualidade feminina, mesmo por ser de uma geração mais nova. Ledo engano. “Quando você assiste ao vídeo, imagina que eu sempre tive uma superabertura para falar sobre qualquer tema com a minha família”, diz.
“Na verdade, a história foi um pouco diferente. Eu nunca conversei sobre sexo nem com a minha mãe, e até com a minha irmã, que tem quase a mesma idade que eu, isso era um tabu”, confidencia. “Eu acabei aprendendo sobre as questões sexuais na vida, como outras tantas mulheres. Com as minhas próprias experiências, que nem sempre foram positivas.”
Nesse contexto, a youtuber diz ter sentido falta, ao longo de seu amadurecimento sexual, de mais discussão e orientação. “Se eu tivesse tido a oportunidade de conversar mais abertamente com as mulheres que vieram antes de mim, tiveram suas experiências e possuíam informações para me passar, talvez toda a minha jornada não tivesse sido tão delicada, tão densa como eu acho que foi”, diz.
“Sexualidade pra mim sempre foi um tema bastante complicado, e eu visualizei que isso era a realidade da maioria das mulheres. Falar sobre sexualidade feminina é um supertabu, e a importância desse vídeo é poder fazer isso de uma forma tranquila. E também um jeito de perceber o que mudou de um tempo para cá e o que continua igual, quais os tabus que foram quebrados e os que não foram.”
Quebra dos próprios tabus
E não é que a conversa serviu também para que Sofia se livrasse de alguns preconceitos que ela mesma carregava? “Descobri sobre a sexualidade na terceira idade”, admite. “Eu não fazia ideia de que a minha avó [Ilná], por exemplo, é sexualmente ativa, porque a gente também cria estereótipos. E eu achava que a minha avozinha que preparava comidinha pra mim era alguém que não praticava sexo. Eu quebrei esses tabus dentro da minha própria cabeça.”
Assim, ela constata que o vídeo foi transformador para o seu relacionamento com Ilná e Maria. “Eu passei a enxergá-las com um olhar muito além do que o de simplesmente neta”, analisa. “Muito mais que minhas avós, elas são mulheres com histórias e experiências incríveis e que continuam construindo sua trajetória.”
Além disso, outras interações familiares foram impactadas pela gravação. “A conversa com elas acabou também influenciando a minha relação com as outras mulheres da minha família, com minha mãe, minha irmã e mesmo com meu pai”, diz Sofia. “Abriu-se uma porta para que a gente pudesse falar sobre esse tema [sexualidade] de uma maneira diferente daquela com que ele era tratado durante a minha adolescência e a minha infância.”
O Dia dos Avós pode ser uma ótima oportunidade para ouvir o que eles têm a dizer. Nem é preciso ser youtuber para isso. E os assuntos podem ser variados: vale, sim, falar de comida. E tricô. E sexo, por que não? Afinal, mesmo sobre o que se passa entre quatro paredes, o céu é o limite no que diz respeito a tudo aquilo que eles podem nos ensinar.