Enfrentar os desafios dos relacionamentos após os 60 anos exige compreensão e adaptação, já que essa fase da vida pode trazer questões únicas, desde saúde até dinâmicas familiares. Relacionamentos maduros envolvem não apenas a união de duas pessoas com suas individualidades, mas também a construção conjunta de uma história repleta de entendimento mútuo. Explorar como navegar por esses desafios é crucial para fortalecer laços amorosos na maturidade.
Um estudo da Universidade de Utah destacou, por exemplo, que muitas mulheres mais velhas temem perder sua independência ao entrar em um novo relacionamento. Isso pode incluir o receio de ter que cuidar de um parceiro ou de assumir responsabilidades financeiras. Algumas, inclusive, preferem a independência no lugar de um relacionamento convencional.
No Brasil, um estudo da Scielo mostrou a importância da sexualidade e do amor na terceira idade, contrariando o estigma de que o interesse por essas questões diminui com o tempo. Inclusive, segundo dados do IBGE, vem ocorrendo um aumento no número de casamentos entre pessoas maduras.
Em 2022, foram 74.798 casamentos entre pessoas com mais de 60. Em 2018, o total havia sido de 60.580. Ou seja, houve um aumento de 23,5%. O fenômeno reflete mudanças culturais e a busca por companheirismo na terceira idade.
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Desafios precisam ser contextualizados
Segundo Filipe Colombini, psicólogo e CEO da Equipe AT, quando se trata de relacionamentos após os 60, há diversos desafios que precisam ser contextualizados nos aspectos individuais, culturais e sociais. E ele explica que, além dos preconceitos alheios, há o preconceito sob a forma de auto-regras e julgamentos da própria pessoa sobre sua capacidade. Alguns destes preconceitos são:
- Preconceitos em relação ao estabelecimento de relações sexuais e afetivas. “É como se a pessoa mais velha não tivesse e não pudesse ter desejos sexuais ou vontade de ter um relacionamento, seja ele temporário ou duradouro”, diz o especialista.
- Preconceitos em relação à idade da pessoa da qual se estabelecerá a relação. “Existe a crença de que pessoas mais velhas não podem se relacionar com pessoas mais novas, pois sempre há outros interesses envolvidos”, exemplifica Filipe.
- Preconceitos em relação ao papel da pessoa mais velha na sociedade. “Se a pessoa não produz renda ela é vista como exploradora, dependente e/ou incapaz de proporcionar mudanças para si mesmo, familiares e outras pessoas ao seu redor. Ou seja, é invalidada socialmente, como se perdesse seus direitos de cidadão”, aponta.
Mudanças sociais e culturais são necessárias para normalizar relacionamentos após os 60
O psicólogo acredita que a maior parte dos preconceitos referentes aos relacionamentos após os 60 são reforçados e propagados pelas mídias. Em sua opinião, elas ajudam a desconsiderar as pessoas idosas como parte do mercado. “A superação, além da mudança social e cultural, pode ser impulsionada individualmente a partir de ações e reflexões das pessoas mais velhas”, aconselha.
Dentre as ferramentas que podem ajudar está a busca por auxílio da rede de suporte, psicoterapia individual e grupos de interação e convivência. Outras alternativas são a busca de atividades no mercado de trabalho e o desenvolvimento de comportamentos relacionados à comunicação e assertividade para a garantia de direitos e contestações. “Tudo isso pode auxiliar a pessoa a estar em contato com o aqui e agora de seus desejos, corpos, motivações, valores pessoais e sensações”, diz o especialista.
Ser mais velho não significa saber tudo
Filipe acredita que ser mais velho não significa necessariamente possuir habilidades importantes para os relacionamentos após os 60. “Observo que tudo dependerá de como foi a história dessa pessoa. Principalmente com relação às habilidades desenvolvidas ao longo dos seus relacionamentos. Ser mais velho não significa, necessariamente, que possui as habilidades importantes para resolver problemas ou tomar decisões. Nem ajuda a ter autocontrole ou se relacionar de forma saudável”, diz. Ele explica que, normalmente, coloca-se a experiência como algo relacionado apenas ao ato de se viver mais, mas não deve ser apenas essa variável.
“Precisamos olhar e considerar as habilidades que essa pessoa desenvolveu ou não ao longo da sua vida. Normalmente, pessoas mais velhas acabam não pedindo ajuda ou se vulnerabilizando porque as outras pessoas a veem (ou ela mesma pode se ver) como alguém que é mais velho. Ou seja, já passou por tudo e, então, consegue lidar com todas as demandas e desafios. E não é assim! Precisamos lidar dia a dia com as nossas inflexibilidades, sejamos mais velhos ou sejamos mais novos. O desenvolvimento da flexibilidade é constante e incessante”, avalia.
É preciso pedir ajuda em relacionamentos após os 60 ou em qualquer fase da vida
Segundo o psicólogo, estar aberto a aprender e pedir ajuda é fundamental em relacionamentos após os 60 ou em qualquer fase. “É importante que a pessoa não se julgue como infalível, conhecedora de tudo e de todos.
E a ajuda, segundo o especialista, pode vir da família, de uma rede de suporte, ou de profissionais. Entre eles, psicólogos, educadores físicos e terapeutas ocupacionais, que possam auxiliar no desenvolvimento de novas habilidades, sensações e traquejos sociais.
Filipe aposta no desenvolvimento de autoconhecimento do início ao fim da vida para que as pessoas se conectem com seus valores pessoais, objetivos e metas. “Isso significa que relacionamentos após os 60 podem ser ótimos para alguns. Outros, porém, podem escolher não ter um relacionamento. Ou, ainda, escolher ter relacionamentos rápidos, temporários ou longos. Ter um relacionamento pode desafiar a pessoa no aprendizado de uma série de habilidades e condições desafiadoras. Também pode mantê-la ativa, pensante, presente, criativa! É fundamental o enriquecimento da vida por uma série de estímulos e novidades”, avalia.
Confira sugestões para tentar encontrar a sua cara-metade após os 60:
- Tente os sites voltados a relacionamentos maduros, como Par Perfeito, Coroa Metade e Solteiros 50
- Participe de grupos ou clubes locais
- Volte a estudar e escolha programas de educação voltados aos mais maduros. Há até mesmo intercâmbios com grupos focados
- Seja voluntário em causas nas quais acredita. Certamente será possível conhecer gente interessante com propósitos similares
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