A busca por técnicas orientais como yoga, tai chi e outras práticas integrativas no (Sistema Único de Saúde) cresceu 46% entre 2017 e 2018 nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e também nos hospitais e nos centros especializados, segundo o Ministério da Saúde.

No final de 2018, um estudo publicado na “Future Neurology” relacionou a prática de yoga e tai chi na prevenção do AVC (Acidente Vascular Cerebral). De acordo com os pesquisadores australianos, as duas práticas orientais reduzem hipertensão e níveis de açúcar e ácidos graxos no sangue, considerados fatores de risco para o derrame.

Aproximadamente duas em cada cinco pessoas sofrerão outro derrame dentro de 10 anos, diz o artigo: “Os derrames recorrentes são frequentemente mais graves e fatais. As intervenções baseadas na conscientização, como yoga e tai chi, podem oferecer uma estratégia de estilo de vida”.


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“Esses dados do estudo vão ao encontro do que vejo no meu grupo de alunos na UBS”, afirma a terapeuta ocupacional Letícia Pereira dos Santos. “Tenho usuários com histórico de AVC, depressão, quadros de ansiedade e também questões osteomusculares, que apresentaram melhora com a prática.”

Tarika Palmieri, professora do Espaço Kurma, corrobora: “A prática de yoga e de tai chi despertam o desejo de mudanças. É comum ver pessoas pararem de fumar, diminuírem a ingestão de álcool e fazerem novas amizades, a partir do momento em que começam a se conectar com o corpo e escutar suas necessidades”.

Ela mesma diz ter se beneficiado da prática. “Há mais de 15 anos o yoga entrou na minha vida, me ajudou a curar crises fortes de psoríase, que é uma doença autoimune de fundo emocional, e me guiou para o caminho de autoconhecimento, onde pude vivenciar grandes transformações.”

Entenda as 4 técnicas orientais

TAI CHI PAI LIN

A filosofia - “O tai chi pai lin é um conjunto de práticas para a saúde, o movimento e a serenidade. Visam ao treinamento da energia vital e seguem o princípio do equilíbrio e da união do yin/yang, harmonizando o corpo, o espírito, o ser humano e a natureza”, explica Letícia. Foram introduzidas no Brasil pelo mestre Liu Pai Lin.

A prática - O ideal é que o tai chi seja praticado diariamente, pois “a constância dos treinos, baseada nos princípios do vazio [preparação de esvaziar a mente e o coração para fazer a prática], da concentração, da intenção e dos movimentos circulares é que traz a saúde, a serenidade e a longevidade para o corpo”, diz a terapeuta. Uma sequência completa pode durar até 90 minutos. “É mais agradável junto à natureza, preferencialmente até 11h, buscando aproveitar a energia yang do dia que nasceu para potencializar os efeitos no organismo.”

YOGA

A filosofia - "Yoga é consciência, é a transformação da consciência humana em consciência divina", explica Tarika. “Originou-se de uma tradição antiga, que vem do fundo do coração da Índia. Não consiste em substituir o sistema de valores ou mitologia do mundo ocidental por outro exótico, não é religião ou qualquer outro tipo de doutrina. Yoga está dentro de cada um de nós.”

Segundo a professora, a prática aumenta a vitalidade do corpo e da mente, promovendo qualidade de vida e gerenciamento do estresse. Para os 50+, pontua, “vai ajudar a aumentar a força, a flexibilidade e o equilíbrio”. Também trata problemas específicos – como calores, dor nas costas, equilíbrio intestinal, má digestão e manutenção do peso – e previne desequilíbrios hormonais. “Em níveis mais sutis, traz uma profunda conexão com o corpo, respiração e desperta o processo de autoconhecimento.”

A prática – Geralmente, a prática é diária, “mas no mínimo em uma vez por semana já é possível sentir os benefícios”. Segundo ela, “nem todas as formas de yoga são boas para todo mundo: é necessário sentir em seu corpo qual é o melhor tipo de prática para a sua individualidade”.

E, independentemente da prática escolhida, a professora alerta: “Você não vai prevenir ou curar os seus problemas de saúde se não fizer outras mudanças no seu estilo de vida, como continuar a comer mal, dormir pouco e se manter em relacionamentos estressantes na vida pessoal e profissional”.

LIAN GONG

A filosofia – “O lian gong em 18 Terapias é uma prática corporal elaborada na década de 70 pelo médico ortopedista Zhuang Yuan Ming, que viveu em Xangai, na China. São 18 exercícios para prevenir e tratar de dores no corpo. Posteriormente, foram adicionadas mais duas partes: a para prevenir e tratar de dores nas articulações, tenossinovites e disfunções dos órgãos internos; e a para prevenção e tratamento de doenças das vias respiratórias”, explica o instrutor Ricardo Amarante.

O lian gong, diz ele, deveria ser praticado desde a infância, “de forma preventiva para que, quando atingirmos nossos 50 anos, o corpo continue fluindo de forma natural e sem congelamentos e enrijecimentos de músculos, articulações e tendões. Mas podemos iniciar a terapia em qualquer fase da vida, pois, com o tempo, os movimentos vão restaurando o corpo para sua condição natural”.

técnicas orientais

Crédito: Reprodução/Instagram/@ramarante.se

A prática – O ideal são três sessões de 15 minutos ao dia: pela manhã, após um café da manhã leve, após almoço e no fim da tarde, em qualquer lugar. “Eu gosto de usar essa metáfora que praticar o lian gong é como escovar os dentes, tem que ser feito todo dia, não adianta ficar horas escovando os dentes somente aos finais de semana”, diz Ricardo, que está finalizando um curso online sobre a técnica.

A prática, segundo ele, melhora o equilíbrio, reduz a dor e ativa todo sistema neuromuscular, reduzindo o declínio cognitivo. “Com isso ficamos muito mais dispostos e bem-humorados. Com os hormônios fluindo bem em nossos corpos, durante as práticas pode haver liberação de dopamina, endorfina e serotonina e, se praticarmos com amor, também a oxitocina.” 

QI GONG

A filosofia – “É trabalhar o sopro vital à perfeição”, explica Ricardo Luiz Silva, que, desde 1978, passou a se dedicar ao estudo das técnicas orientais como uma atividade antiestresse de seu cotidiano de executivo do mercado financeiro, aprofundado em cinco viagens à China.

“Na cultura chinesa, o qi (alma) circula junto com o sangue. Fatores naturais (calor, frio ou umidade) ou fatores emocionais (raiva, medo, tristeza) podem bloquear a circulação adequada do qi/sangue no corpo, gerando todos os desequilíbrios que chamamos de patologias. O uso de agulhas (acupuntura), calor localizado (moxabustão), massagens (Am Mo Tui Na) e o qi gong são práticas da medicina tradicional chinesa para desbloquear a circulação do qi/sangue e reequilibrar a pessoa”, explica. 

A prática – “São exercícios de respiração que podem ser feitos deitado, sentado, em pé ou acompanhados de movimentos. Assim, o praticante conduz o qi para cada parte do corpo, com sua intenção, podendo levá-lo para pontos específicos que estejam bloqueados.

“Podemos perceber que o simples fato de a pessoa parar, fechando ou não os olhos, e observar sua respiração já é em si um fator de acalmamento. Se ela souber que partes do corpo contrair ou distender enquanto respira e, mais, se souber para onde conduzir a intenção dessa respiração, pode agir sobre seu metabolismo, obtendo resultados de reequilíbrio de seu corpo físico, mental e espiritual”, diz Ricardo.

Ele ressalta que existem estudos promovidos por médicos chineses e indianos, principalmente em universidades norte-americanas e europeias, que comprovam os benefícios das técnicas orientais para bem-estar do corpo e da mente. 

“Eu, pessoalmente, tenho a comprovação empírica, tanto em meu corpo de 70 anos como dos meus alunos ao longo dos últimos 40 anos. Vários com pressão alta tiveram redução a ponto de dispensarem medicamentos para tal. Melhoras nos exames de densitometria óssea; no fluxo intestinal; nas cólicas menstruais; no fortalecimento do equilíbrio e da musculatura; e no humor. Enfim, melhora no estado geral do indivíduo.”

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