Outro dia vi no Twitter o seguinte comentário:
“Eu não consigo entender tratar como ‘perda’ alguém que morre aos 90 anos”.
A pessoa continuou o pensamento, que prefiro não reproduzir aqui, mas o ponto principal é este: para ela, a morte de alguém com mais de 90 não é digna de sentimento.
Eu fiquei bem incomodada com essa afirmação e, embora não goste de me envolver em brigas on-line, precisava me expressar de alguma forma. E, para mim, é escrevendo.
Sim, a morte é uma certeza em nossas vidas. Assim como é o envelhecimento. Todos nós, a todo instante, estamos envelhecendo. E sim, precisamos nos preparar para o luto, algo sobre o qual, inclusive, falamos aqui no Instituto de Longevidade MAG.
No entanto, por mais preparados que estejamos para a morte de alguém querido, é impossível dizer como de fato agiremos quando o momento chegar. A avalanche de dor e emoção que nos abraça é, normalmente, maior do que achamos que será. Sempre é – e eu digo por experiência própria.
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Além disso, sempre é uma “perda” quando alguém querido morre. Seja um familiar, um amigo ou até mesmo um animal de estimação. Às vezes a pessoa não precisa nem ser tão próxima assim, mas a falta dela ainda pode impactar de alguma forma a vida de quem ficou.
O luto é algo muito individual. Não podemos nunca julgar a forma como as pessoas lidam com a morte, pois cada uma lida com ela de forma diferente. E quando dizemos que uma morte não pode ser chamada de “perda”, é ignorar por completo a dor de quem sofreu essa perda ou que acompanhou todo o processo anterior à morte.
É pura e simplesmente falta de empatia.
Idoso e muito bem vivo, obrigado
Agora, entramos em um ponto ainda mais delicado, que é meu incômodo principal com a frase publicada no Twitter.
Por que não devemos chorar a morte de pessoas idosas?
Isso, para mim, é reflexo de um pensamento etarista bem vigente em nossa sociedade, que desmerece por completo a pessoa 60+. Dizer que sua morte não pode ser chamada de perda é dizer que o único caminho do idoso é a morte, ou que ela não passa de um peso para sua família.
Sim, uma pessoa idosa requer alguns cuidados a mais. No entanto, isso não significa que ela não possa ser ativa. Que ela não possa querer estudar, viajar, arrumar um emprego novo ou se relacionar com outras pessoas.
Crédito: Bricolage/Shutterstock
Não se sensibilizar com a morte de uma pessoa idosa e diminuir por completo a sua significância como ser vivo. O idoso não é um peso e tem muitas contribuições a dar a sua família e a seu entorno.
Nós lutamos por tanta coisa em nossas vidas, mas precisamos também aprender a lutar por quem chegou aqui antes de nós. Precisamos olhar essas pessoas, ouvir, respeitar e aprender com elas. E não tratá-las como um objeto sem valor, que espera apenas pelo dia em que será jogado fora.
As pessoas envelhecem, mas continuam vivas.