Outro dia vi no Twitter o seguinte comentário:

“Eu não consigo entender tratar como ‘perda’ alguém que morre aos 90 anos”.

A pessoa continuou o pensamento, que prefiro não reproduzir aqui, mas o ponto principal é este: para ela, a morte de alguém com mais de 90 não é digna de sentimento.

Eu fiquei bem incomodada com essa afirmação e, embora não goste de me envolver em brigas on-line, precisava me expressar de alguma forma. E, para mim, é escrevendo.

Sim, a morte é uma certeza em nossas vidas. Assim como é o envelhecimento. Todos nós, a todo instante, estamos envelhecendo. E sim, precisamos nos preparar para o luto, algo sobre o qual, inclusive, falamos aqui no Instituto de Longevidade MAG.

No entanto, por mais preparados que estejamos para a morte de alguém querido, é impossível dizer como de fato agiremos quando o momento chegar. A avalanche de dor e emoção que nos abraça é, normalmente, maior do que achamos que será. Sempre é – e eu digo por experiência própria.

envelhecimento

Crédito: Rogel Silas/Shutterstock

Além disso, sempre é uma “perda” quando alguém querido morre. Seja um familiar, um amigo ou até mesmo um animal de estimação. Às vezes a pessoa não precisa nem ser tão próxima assim, mas a falta dela ainda pode impactar de alguma forma a vida de quem ficou.

O luto é algo muito individual. Não podemos nunca julgar a forma como as pessoas lidam com a morte, pois cada uma lida com ela de forma diferente. E quando dizemos que uma morte não pode ser chamada de “perda”, é ignorar por completo a dor de quem sofreu essa perda ou que acompanhou todo o processo anterior à morte.

É pura e simplesmente falta de empatia.

Idoso e muito bem vivo, obrigado

Agora, entramos em um ponto ainda mais delicado, que é meu incômodo principal com a frase publicada no Twitter.

Por que não devemos chorar a morte de pessoas idosas?

Isso, para mim, é reflexo de um pensamento etarista bem vigente em nossa sociedade, que desmerece por completo a pessoa 60+. Dizer que sua morte não pode ser chamada de perda é dizer que o único caminho do idoso é a morte, ou que ela não passa de um peso para sua família.

Sim, uma pessoa idosa requer alguns cuidados a mais. No entanto, isso não significa que ela não possa ser ativa. Que ela não possa querer estudar, viajar, arrumar um emprego novo ou se relacionar com outras pessoas.

envelhecimento

Crédito: Bricolage/Shutterstock

Não se sensibilizar com a morte de uma pessoa idosa e diminuir por completo a sua significância como ser vivo. O idoso não é um peso e tem muitas contribuições a dar a sua família e a seu entorno.

Nós lutamos por tanta coisa em nossas vidas, mas precisamos também aprender a lutar por quem chegou aqui antes de nós. Precisamos olhar essas pessoas, ouvir, respeitar e aprender com elas. E não tratá-las como um objeto sem valor, que espera apenas pelo dia em que será jogado fora.

As pessoas envelhecem, mas continuam vivas.

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: