Você já deve ter lido muito por aí sobre a relação entre o consumo de sal e a nossa saúde, em especial a cardiovascular. Porém, o que nem todo mundo sabe é que a ingestão de sal em excesso pode prejudicar o coração inclusive de quem é jovem e não tem pressão alta.

Agora, imagine manter este hábito por anos? Sim, as consequências poderão ser graves, principalmente se combinado a outros fatores de risco. O problema do consumo exagerado de sódio é a tendência no aumento da absorção de água pelos tecidos, o que gera uma sensação de sede, por conta da desidratação do organismo, e faz com que o indivíduo beba mais água do que o normal.

Com isso, o volume de sangue circulante será maior, elevando também a pressão arterial. O resultado de todo esse processo de adaptação é o aumento de trabalho do coração. Vale a pena reforçar que nosso coração já tem trabalho suficiente para se manter em pleno funcionamento! Assim, se essa atividade extra se torna recorrente pode gerar danos sérios e prejudicar seu desempenho, comprometendo a saúde de todo o sistema cardiovascular.

O sal entrou no corpo e... 

Ao entrar no corpo, o sal é absorvido pelo intestino e vai para o sangue. Ali, atrai e absorve moléculas de água, ampliando o volume dentro dos vasos sanguíneos. Os vasos arteriais têm uma capacidade de ajuste para a distribuição do sangue pelo organismo. Por isso, quando ocorre uma sobrecarga, eles reagem se contraindo para adequar o fluxo de líquido e restabelecer o estado habitual.

Essa constrição dos vasos faz com que a pressão de bombeamento do coração seja maior, levando à pressão alta. Além disso, o aumento do volume pode lesionar as paredes dos vasos sanguíneos, alterar sua elasticidade, resistência e espessura, podendo gerar entupimento ou até ruptura com o passar dos anos.

As chances dos prejuízos serem ainda mais graves crescem quando o exagero no sal se torna um hábito. Com o tempo, é possível desenvolver a hipertensão arterial, doenças renais (entre alterações na filtração do sangue e até a paralisação dos órgãos) e problemas cardiovasculares, como arritmia, infarto, AVC - acidente vascular cerebral, que estão entre as primeiras causas de internações e mortes, não só no Brasil, mas no mundo.

Hipertensão, uma das doenças que mais preocupa

De todos os problemas mencionados acima, a hipertensão arterial (HA) é um dos que mais merece atenção. Para se ter ideia, as estatísticas apontam que um entre cada quatro brasileiros é portador de HA, ou seja, 25% de nossa população. No mundo, a Organização Mundial de

Saúde (OMS) estima que cerca de 600 milhões de pessoas tenham a doença, com crescimento de 60% dos casos até 2025, além de cerca de 7,1 milhões de mortes anuais. E o mais preocupante: metade dos hipertensos não sabem que têm essa doença, que pode ser silenciosa até que aconteça um infarto ou AVC.

Resumidamente, a hipertensão arterial é definida como um aumento dos níveis da pressão sistólica máxima e mínima de forma constante por um longo período. A pressão ideal é: máxima de 12 e mínima de 8. Para ser considerado um quadro de hipertensão, ela deve alcançar 14 por 9 ou mais. Se isso acontecer, o coração estará trabalhando mais para bombear o sangue na corrente sanguínea, que passa então a circular com velocidade e força além das que seriam recomendáveis. E aí, os danos são perigosos se os níveis não forem controlados.

sal

A HA é tida como grave porque pode desencadear problemas em todo o sistema cardiovascular, entre o desenvolvimento da doença arterial coronária; indução de lesões dentro da camada mais interna das artérias (o endotélio), podendo levar à sua ruptura ou estimulando a aterosclerose; a hipertrofia do ventrículo esquerdo, quadro que pode evoluir para uma insuficiência cardíaca e arritmias; dilatação da aorta, causando o aparecimento de aneurismas, isso sem falar das consequências em outros órgãos, como os rins.

A idade é um fator para aparecimento da hipertensão, mas existe a possibilidade do desenvolvimento da doença em pessoas mais jovens, tanto pelo excesso do consumo de sal, como por outros fatores de risco - sedentarismo, consumo abusivo de álcool, cigarro, estresse, diabetes e histórico familiar.

Desafios virtuais perigosos 

Se o consumo excessivo de sal em longo prazo é prejudicial, imagine quando isso é feito de maneira descontrolada e em curto espaço de tempo? No início deste ano, uma brincadeira inconsequente virou moda em uma rede social. No “desafio do sal”, jovens enchiam a boca com sal de cozinha e tentavam engolir a maior quantidade possível. Essa ingestão exagerada em um período muito curto pode trazer malefícios imediatos para a saúde.

O primeiro sintoma que o corpo apresenta é o processo de desidratação dos tecidos - como explicado acima, porém agora de forma mais intensa. O organismo passa então a “pedir água”. Ao sentir sede, a pessoa começa a ingerir muito líquido, o que acaba sobrecarregando o volume da circulação de sangue, aumentando a pressão arterial e podendo levar à descompensação cardíaca.

É possível sentir também mal-estar em função da hipernatremia (excesso de sódio na circulação sanguínea), o que pode resultar em coma pela elevação acentuada do nível do mineral e ainda desencadear um edema cerebral (quando o cérebro incha pelo excesso de sal e líquido).

Além do ponto neurológico, existe a possibilidade de alterações ventilatórias (quando a respiração fica irregular), quadro que, se não diagnosticado imediatamente, pode levar à alteração do ritmo do coração e uma parada cardíaca. Ou seja, a brincadeira que parece inofensiva pode ter complicações sérias, com risco inclusive de morte.

Sal até nos medicamentos!

O perigo é que em apenas uma refeição, você pode ingerir a quantidade de sódio para um dia inteiro! Assim, uma das maneiras para diminuir o consumo é observar as informações nutricionais no verso das embalagens ao comprar alimentos industrializados. Se a quantidade for superior a 400mg em 100g do produto, ele é considerado rico no nutriente, sendo prejudicial à saúde.

E não são apenas os alimentos. É possível encontrar sódio até em alguns remédios. Medicamentos efervescentes contêm, por exemplo, bicarbonato, substância que geralmente é combinada ao sódio para ajudar na dissolução. Por isso, se você encontrar grandes quantidades do mineral em um medicamento de uso contínuo, procure orientações do seu médico para possíveis alternativas.

Outra mudança que ajuda é substituir o sal no preparo das refeições por outros condimentos, como ervas desidratadas e temperos naturais. Temperos industrializados também devem ser evitados, pois contêm alto ter de sódio. E atenção quando ler um "sal a gosto" em uma receita. Muitas vezes a quantidade adicionada em uma preparação é excessiva.

A recomendação da OMS é que a ingestão de sal (de cozinha) diária não ultrapasse 5 gramas — ou 2 gramas de sódio. Isso corresponde a apenas uma colher de chá rasa, quantidade que deve ser dividida em todas as refeições do dia. O brasileiro ingere quase o dobro disso: em média 9,34 gramas, segundo um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Moderação sempre

Então a saída é cortar todo sal e nunca mais ingerir nenhum grama de sódio? Não! É preciso destacar que, a não ser por expressa recomendação médica, não devemos tirar totalmente o sal da dieta. Isso porque o sódio é essencial para manter o equilíbrio e a distribuição dos líquidos corporais que ficam dentro e fora das células, além de ajudar no relaxamento muscular, na transmissão de impulsos nervosos e do ritmo cardíaco, permitindo o bom funcionamento do cérebro e o controle adequado das funções vitais do organismo.

Uma queda brusca dos níveis de sódio (hiponatremia) também não faz bem e pode causar a diminuição da pressão, confusão mental, letargia, anorexia, convulsões, coma, náuseas, vômitos, câimbras e fraqueza. Portanto, a palavra-chave é moderação!

O importante é diminuir a quantidade usada aos poucos e deixar o paladar se acostumar. O estranhamento da falta de sal na comida dura pouco. A mudança vale a pena e o seu coração agradece. Lembre-se sempre: uma alimentação balanceada pode garantir a sua longevidade - e o mais importante, com saúde!

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