Diabetes e obesidade são duas condições muito prevalentes nos dias atuais. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o excesso de peso representa uma epidemia de abrangência mundial. Por outro lado, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, mais de 13 milhões de brasileiros apresentam diabetes.
Além de apresentarem relevância em números, quando as duas condições caminham juntas a tendência é aumentar os riscos de complicações para o indivíduo que as apresenta.
A cirurgia bariátrica é uma excelente opção para isso. Seus benefícios envolvem diversos aspectos, principalmente quando se trata de diabetes do tipo 2.
Indicações gerais para a cirurgia bariátrica
O principal objetivo da cirurgia bariátrica é a redução do peso. Dessa forma, sua indicação começa a se limitar para indivíduos com baixo grau de obesidade.
Para que tenha maior precisão, é feito o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), que divide o peso do indivíduo pelo quadrado da sua altura. A partir do resultado, é possível inferir se há desnutrição, normalidade no peso ou o excesso dele.
Inicialmente, a cirurgia bariátrica era indicada apenas para obesidade grau 3, com IMC acima de 40. Além disso, também era conduta para obesos de grau 2, com IMC superior a 35, mas que também apresentassem comorbidades associadas, como:
- diabetes mellitus tipo 2 (DM2);
- hipertensão arterial;
- artroses;
- apneia do sono.
O alívio dessas condições é obtido por meio da perda do peso. Para entender melhor, basta imaginar os danos que o excesso de gordura causa em cada caso. No diabetes, por exemplo, o tecido adiposo libera diversos fatores que aumentam a inflamação. Consequentemente, há maior dano nas células produtoras de insulina, que se localizam no pâncreas.
Já na hipertensão, o excesso de gordura aumenta os níveis de colesterol, fator extremamente prejudicial para a vascularização, podendo provocar até mesmo a formação de trombos precursores de infarto.
Os casos de artrose estão mais associados com a sobrecarga óssea, ou seja, com o fato de os ossos precisarem suportar um peso maior do que o ideal.
Por fim, a obesidade também prejudica a respiração impedindo expansão completa dos pulmões, podendo causar um quadro de apneia do sono.
Indicação específica
Baseado nos resultados obtidos em outros países, o Conselho Federal de Medicina brasileiro emitiu uma nota que viabiliza a realização da cirurgia bariátrica em obesos de grau 1, com IMC entre 30 e 34,9, desde que apresentem diabetes mellitus tipo 2 não controlada por meio de medicamentos.
Essa permissão causou certa polêmica, visto que muitos especialistas defendem a necessidade de maiores estudos sobre riscos e que ela ampliaria o número de pessoas indicadas para cirurgia, podendo ser uma medida excessiva em casos que não retratam obesidade mórbida.
Contudo, não basta apenas o desejo da pessoa de realizar a cirurgia bariátrica e um cirurgião para realizá-la: são necessárias 2 indicações partindo da endocrinologia para, de fato, permitir o procedimento.
Método de realização
O procedimento é realizado por videolaparoscopia, sendo minimamente invasivo. São feitas pequenas incisões por onde o cirurgião introduz uma microcâmera que possibilita a análise do espaço intra-abdominal.
Já a técnica utilizada para redução do estômago que mais resulta em benefícios para a pessoa com diabetes é a chamada gastrectomia com reconstrução em Y-de-Roux. Ela reduz o volume gástrico em 5% do original.
Qual tipo de diabetes ela ajuda a controlar?
Como se sabe, no tipo 2 do diabetes mellitus o pâncreas continua produzindo o hormônio, porém em uma produção em quantidades menores do que a necessária. Isso acontece devido à resistência periférica à insulina e, posteriormente, à destruição das células pancreáticas que a produzem.
Vale lembrar que a destruição é consequência da liberação de fatores inflamatórios provenientes do tecido adiposo, ou seja, da gordura. Portanto, a perda de peso pode interromper essa destruição progressiva.
O grande avanço nos estudos sobre cirurgia bariátrica e diabetes foi a descoberta de que a perda peso não é único fator que alivia a condição. Mais do que um procedimento anatômico, ele também é metabólico, ou seja, tem impacto sistêmico que favorece a diminuição nos níveis de glicemia.
Os benefícios da cirurgia
A cirurgia bariátrica vai interferir na produção de alguns hormônios, além da insulina. O primeiro deles é a grelina, que é liberada pelo estômago. Quando estamos com o estômago cheio, não há liberação de grelina. Seus níveis só aumentam no momento de fome. A cirurgia bariátrica reduz os níveis de grelina, mantendo a sensação de saciedade por mais tempo.
Além disso, há um hormônio chamado GLP-1, que é produzido no intestino. Ele é fundamental para a digestão, com papel ainda mais importante nas pessoas que tiveram redução no volume gástrico. Após o procedimento cirúrgico, os níveis desse hormônio aumentam. Como ele incentiva a produção de insulina pelo pâncreas, trará também melhorias no controle da glicemia nos indivíduos operados.