A maneira como nos alimentamos vai muito além da escolha dos alimentos. O ritmo das refeições, o tempo dedicado a mastigar e a atenção ao ato de comer influenciam processos fundamentais do organismo. Entre eles, a digestão, o controle da glicemia, o metabolismo e, de forma indireta, mas significativa, a saúde do coração.

Em uma rotina cada vez mais acelerada, comer rápido se tornou um hábito comum para grande parte das pessoas. Refeições feitas em poucos minutos, muitas vezes diante de telas ou entre compromissos, reduzem drasticamente o número de mastigações e alteram a resposta do corpo aos alimentos. Esse comportamento, aparentemente inofensivo, pode gerar efeitos cumulativos importantes no decorrer da vida.

A digestão começa na boca

A digestão é um processo complexo que se inicia antes mesmo de o alimento chegar ao estômago. A mastigação adequada tritura os alimentos, aumentando sua superfície de contato e facilitando a ação das enzimas digestivas presentes na saliva, como a amilase, responsável pelo início da digestão dos carboidratos.

Quando o alimento é engolido de forma apressada e pouco mastigado, o estômago e o intestino precisam compensar essa etapa mal executada. Isso pode levar a uma digestão mais lenta ou irregular, sensação de estufamento, refluxo, gases e menor aproveitamento de nutrientes. Além disso, a sobrecarga do sistema digestivo interfere em sinais hormonais relacionados à saciedade e ao metabolismo.

Mastigação, velocidade de absorção e glicemia

Como dito, comer rapidamente altera a forma como os nutrientes são absorvidos. Alimentos pouco mastigados tendem a chegar ao intestino em maior velocidade, favorecendo a absorção abrupta da glicose. O resultado: picos glicêmicos mais intensos após as refeições, especialmente quando há consumo de carboidratos refinados.

Essas elevações rápidas da glicose no sangue exigem maior liberação de insulina pelo organismo. Quando esse estímulo se repete com frequência, aumenta o risco de resistência insulínica, ganho de peso e desenvolvimento do diabetes tipo 2. Mesmo em pessoas sem diagnóstico de diabetes, oscilações glicêmicas recorrentes já estão associadas a maior inflamação sistêmica e alterações metabólicas silenciosas.

A conexão entre glicemia e saúde cardiovascular

O coração e os vasos sanguíneos são diretamente afetados por alterações metabólicas crônicas. Picos glicêmicos repetidos e níveis elevados de insulina favorecem processos inflamatórios, estresse oxidativo e disfunção endotelial (condição em que a parede dos vasos perde sua capacidade de dilatar adequadamente).

Essas alterações contribuem para o desenvolvimento da aterosclerose, aumento da pressão arterial e piora do perfil lipídico, com elevação do colesterol LDL (o chamado colesterol “ruim”) e redução do HDL (o colesterol “bom”). Ao longo do tempo, esse conjunto de fatores aumenta significativamente o risco de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e outras doenças cardiovasculares. Assim, hábitos simples à mesa podem ter repercussões importantes na saúde do coração anos depois.

 em uma senhora idosa e feliz comendo salada em um café enquanto se reúne com um amigo. Imagem para ilustrar a matéria sobre mastigação. Crédito: Olena Yakobchuk/Shutterstock

Comer devagar e o controle do apetite

Outro aspecto fundamental da mastigação é seu papel no controle da saciedade. O corpo precisa de tempo para ativar os mecanismos hormonais que sinalizam ao cérebro que a ingestão de alimentos foi suficiente. Esse processo leva, em média, cerca de 20 minutos.

Quando a refeição é feita rapidamente, esse sinal chega tarde demais, favorecendo o consumo excessivo de calorias. Mastigar mais devagar prolonga a refeição, ajudando o organismo a reconhecer o momento adequado de parar de comer, além de melhorar a percepção do sabor e da textura dos alimentos. Com isso, é possível ter um controle mais efetivo do peso corporal, fator decisivo na prevenção de hipertensão, diabetes e doenças cardíacas.

Mastigação, estresse e sistema nervoso

Comer com pressa também mantém o organismo em estado de alerta, ativando o sistema nervoso simpático, associado ao estresse. A digestão adequada depende da ativação do sistema parassimpático, responsável pelas funções de repouso e recuperação do corpo. Ao desacelerar as refeições, criamos um ambiente fisiológico mais favorável à digestão, ao equilíbrio hormonal e à saúde cardiovascular.

Um hábito simples, mas com impacto duradouro

Mastigar bem os alimentos, comer com atenção e respeitar o tempo das refeições são atitudes simples, sem custo e acessíveis à maioria das pessoas. No entanto, seus efeitos vão muito além do conforto digestivo.

Esse cuidado diário, conforme explicado, ajuda a regular a glicemia, reduz a inflamação, contribui para o controle do peso e protege, de forma indireta, o coração. Portanto, a prevenção cardiovascular não depende apenas de exames, medicamentos ou intervenções pontuais. Ela começa nos hábitos cotidianos.


Quer ter acesso a uma série de benefícios para viver com mais qualidade de vida? Faça parte do Instituto de Longevidade MAG. Tenha acesso a Tele Saúde, descontos em medicamentos, Seguro de Vida, assistência residencial e outros benefícios.

Fale com nossos consultores e saiba mais!

Leia também:

Coração e vacinas: por que evitar doenças infeccionas também beneficia o músculo cardíaco?

Relação entre alimentação e envelhecimento é cada vez mais evidente, apontam estudos

Como certas atitudes na alimentação podem influenciar a saúde cardiovascular?

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: