Nesta quinta-feira (11) comemora-se o Dia Nacional de Prevenção à Obesidade. Doença crônica, caracterizada pelo acúmulo de gordura corporal, a obesidade afeta hoje cerca de 27 milhões de brasileiros (75 milhões se considerarmos também pessoas acima do peso ideal), podendo causar inúmeros problemas à saúde, como pressão alta, alteração de colesterol, diabetes e, em casos mais extremos, levar à morte do paciente.
O problema pode ser ainda pior em pacientes acima dos 50 anos, quando o metabolismo basal diminui, facilitando o acúmulo de gordura no organismo e, consequentemente, a obesidade.
Mas o que diferencia uma pessoa acima do peso de uma pessoa obesa? De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o excesso de peso é caracterizado pelo Índice de Massa Corporal (IMC) maior do que 25, enquanto que a obesidade acontece quando o IMC ultrapassa 30. O IMC é uma medida internacional desenvolvida no séc. XIX por Lambert Quételet para avaliar o nível de gordura de cada pessoa. Entre 18,5 a 24,9, o indivíduo está em seu peso ideal, com menor risco de algumas doenças.
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Todos esses problemas corriqueiros causados pela obesidade levam a um gasto excessivo por parte do governo com a compra de remédios para abastecer as farmácias populares. Mas de acordo com o diretor nacional da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da USP, Márcio Mancini, grande parte desses problemas poderiam ser atenuados com a adoção de medidas preventivas, como a prestação de informações e esclarecimentos à população.
“O indivíduo fica três, quatro horas esperando uma consulta no posto de saúde, passa por uma consulta com minutos de duração para receber uma receita e ninguém falou para ele que se ele caminhar tantos minutos por dia e comer quatro ou cinco porções de frutas, verduras e legumes, reduzir a quantidade de óleo da comida e não usar muito açúcar, ele vai deixar de ter vários problemas”, observa o endocrinologista. E acrescenta: “E ele ainda recebe uma cesta básica que vem não sei quantos quilos de açúcar e não sei quantos litros de óleo. Então, às vezes, falta mesmo é informação. Usa-se muito óleo e açúcar, muitas vezes por falta de informação”.
Problemas causados pela obesidade
Fora as doenças comuns já citadas, a obesidade também pode levar ao desenvolvimento de doenças que não são raras, mas que são pouco diagnosticadas, como apneia do sono, ronco, problemas respiratórios graves e psicológicos, que podem levar o paciente a cometer suicídio por sofrerem bullying.
Estatísticas mostram que obesos sofrem mais com o bullying do que outros grupos que também são vítimas do preconceito, como negros e homossexuais. Para o especialista, o “politicamente incorreto” ainda não chegou para o obeso. “Fazer piada com gordinho ainda é uma coisa aceita socialmente. Ninguém faz piada com homossexual ou com questões racial, mas com gordinhos, fazem”, alerta.
"Muitos magros são sedentários, comem muito e não ganham peso porque têm uma genética diferente”
E de onde vem isso? Mancini explica que, no pensamento das pessoas, ninguém escolhe ser negro ou homossexual. Mas a obesidade ainda é vista como um descaso do paciente, condição que poderia ser solucionada com uma simples mudança de comportamento. “Isso não é verdade. Muitos magros são sedentários, comem muito e não ganham peso porque têm uma genética diferente”.
A obesidade também pode estimular artrites, lesões em articulações e resistência da atuação da insulina, problemas que são potencializados a partir dos 50 anos. Por isso, médicos alertam para a necessidade de pessoas nessa faixa etária realizarem exames periódicos de acompanhamento das taxas no sangue, de uma alimentação mais saudável e equilibrada e da realização de exercícios físicos.
Também se somam à extensa lista de problemas alguns cânceres, como o de mama, de útero, de fígado e de pâncreas, que são mais comuns em pessoas obesas. Ao contrário do que se imagina, o câncer está mais associado ao excesso de peso do que à magreza.
“Após o tratamento, o paciente fica aliviado quando vê que engordou um pouco, porque associa o câncer à perda de peso. Mas tem a insulina alta, que é um fator de crescimento celular, tem a questão da imunidade mais baixa do obeso, por isso desenvolvem a gripe H1N1 com maior facilidade”, enumera o endocrinologista.
Mancini conta que o organismo fragilizado do obeso tem maior dificuldade de identificar o desenvolvimento de células cancerígenas e de combatê-las, antes que se transformem em um tumor. Alguns especialistas defendem que o ser humano desenvolve células cancerígenas várias vezes ao longo da vida, mas que nosso sistema imunológico identifica e destrói sem que a gente nem fique sabendo. O que pode não acontecer com pessoas que sofrem de obesidade.
Para ele, não existe uma linha que diga: acima desse peso você tem deficiência; abaixo dele, não. Mas sim, uma continuidade: quanto maior for o peso, pior é o quadro de saúde do paciente. Um dos exemplos é a asma que, quando associada à obesidade, pode ter consequências mais graves na vida dos pacientes. “Tem que tomar mais remédio, por vezes corticoide. Quando ele vê, aquele corticoide fez ele ganhar mais peso e ele entra num círculo vicioso que não melhora nunca. Mas se ele consegue perder peso, a asma melhora e ele reduz a quantidade de remédios”, destaca.
Obesidade e o Alzheimer
Um estudo realizado pelo Karolinska Intitutet, na Suécia, comprovou que pessoas acima dos 50 anos que se encontram em um quadro de obesidade ou sobrepeso têm mais chance de desenvolver algum tipo de demência, como a Doença de Alzheimer.
Segundo os pesquisadores, algumas complicações mais comuns em obesos, como diabetes e derrames, aumentam as chances de demência e, por isso, essas pessoas estão mais propensas ao Alzheimer. Além disso, o excesso de gordura no corpo aumenta os níveis de substâncias inflamatórias no sangue, que podem afetar as funções cognitivas.
Isso sem falar no estilo de vida de pessoas obesas e nos hábitos como sedentarismo, consumo excessivo de açúcares e gorduras e uma má alimentação, que aumentam consideravelmente o risco do Alzheimer.
Tratamento da obesidade
“Pra chegar ao ponto de passar por uma cirurgia bariátrica, o paciente precisa ter um IMC igual a 40, que é o que chamamos de obesidade mórbida, embora o termo seja cada vez menos usado”, explica Mancini.
Uma segunda condição para a realização da bariátrica é o paciente já ter passado por um tratamento sem resposta. O problema é que o Sistema único de Saúde (SUS) não oferece o tratamento, apenas a cirurgia.
“Quem fez o tratamento antes de operar pelo SUS, só conseguiu porque tinha convênio ou porque pagou do próprio bolso"
“Quem fez o tratamento antes de operar pelo SUS, só conseguiu porque tinha convênio ou porque pagou do próprio bolso. Mas a maioria foi engordando até o peso de fazer uma bariátrica”, lamenta o endocrinologista. Ele acredita que, em alguns casos, o tratamento prévio poderia eliminar a necessidade de uma intervenção cirúrgica, o que seria menos oneroso para o SUS.
A economia viria no processo como um todo. Além da internação, do material para a cirurgia e de eventuais complicações que poderão ocorrer, o paciente ainda precisará de acompanhamento medicamentoso e de profissionais como nutricionista e psicólogo, além de exames periódicos. “Não é operar e pronto, precisa de todo um acompanhamento para evitar complicações e ajudar o paciente em uma mudança de hábitos, para ter uma vida mais saudável”.
Mancini lembra que muitos pacientes desistem do tratamento por não enxergarem os resultados. “O objetivo do tratamento não é estético, mas fazer com que o paciente perca pouco mais de 10% do seu peso. Isso já melhora muito a saúde do indivíduo e possibilita uma significativa redução dos medicamentos”, conclui.
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