Sabe aquela caixinha de remédios que muita gente mantém em casa para tentar aliviar sintomas e tratar questões de saúde recorrentes? Ela pode esconder muito mais riscos do que a maioria imagina! A automedicação, vista como uma solução rápida para questões físicas ou emocionais, é um comportamento perigoso, capaz de levar a consequências graves e duradouras, inclusive potencialmente fatais.

Para entender a dimensão do que estamos falando, segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 1,7 milhão de pessoas procuraram atendimento ambulatorial no Brasil, em 2022, com algum problema por causa de interação medicamentosa ou pelo uso incorreto de remédios. Apesar de ser um hábito arriscado, é quase uma mania nacional.

Uma pesquisa recente do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade, em parceria com o Datafolha, revelou que o número de pessoas com 16 anos ou mais que tomam medicamentos por conta própria passou de 76% em 2014 para 89% no ano passado.

E o alerta não é para quadros de saúde incomuns ou remédios raros. Até aqueles vendidos livremente nas farmácias para, por exemplo, dores de cabeça e musculares, alergia, gripe, resfriado, incômodos na pele e digestivos, mal-estar, febre, tosse são capazes de provocar efeitos adversos.

Consequências para a saúde

Tomar medicamentos envolve uma série de cuidados e pontos de atenção. De modo geral, uma pessoa leiga não tem conhecimento suficiente para avaliar as reais necessidades de cada quadro clínico bem como os possíveis efeitos de cada substância – isoladas ou em combinação com outros remédios, especialmente de uso regular.

Quando não há orientação médica é possível ocorrer à administração e dosagem incorretas (seja por subdosagem ou superdosagem – incluindo uma overdose acidental), interações perigosas (entre remédios ou substâncias, como o álcool), possibilidade de dependência, reações e efeitos colaterais indesejados, confusão ou mascaramento de sintomas e condições subjacentes, diagnóstico errado, atraso na busca e no início de tratamentos, agravamento de doenças, entre outros problemas.

Assim, a lista de consequências para a saúde é extensa: alergias, lesões no fígado, insuficiência nos rins, sangramentos no estômago e nos intestinos, além de desencadear ou agravar doenças e condições que atingem o sistema cardiovascular, como arritmias, insuficiência cardíaca, miocardite, acidente vascular cerebral (AVC) e infarto.

Isso porque alguns medicamentos são capazes de causar o descontrole da pressão arterial, um dos principais fatores de risco para o AVC e o infarto. Dessa forma, para quem já tem alguma condição relacionada, como hipertensão e diabetes, ou uma questão cardíaca diagnosticada, o uso de remédios deve ser sempre orientado por um especialista.

Crédito: Shurkin_son/Shutterstock

Estudos

Um estudo publicado no European Heart Journal relaciona a utilização do diclofenaco sódico e ibuprofeno (anti-inflamatórios que atuam no combate de dores e inflamações) com a probabilidade de uma parada cardíaca. A pesquisa aponta para um risco 30% maior no uso do ibuprofeno e de até 50% no caso do diclofenaco.

Outras análises revelam que o ácido acetilsalicílico, dependendo da quantidade administrada, pode aumentar de maneira excessiva a acidez no sangue e diminuir acentuadamente os níveis de glicose, causando, em quadros mais sérios, choque cardiovascular e insuficiência respiratória.

Alguns remédios de fácil acesso contêm ainda dipirona e paracetamol, mais exemplos entre aqueles que causam possíveis efeitos adversos. Na lista entram: lesões de pele, alterações na pressão, diminuição das células do sangue (como glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas), tonturas e desmaios.

Quando falamos de combinações que trazem risco, podemos mencionar o uso de anti-inflamatórios com analgésicos, medicações corriqueiras que muitas vezes são igualmente adquiridas sem apresentação de receita ou prescrição. A ingestão conjunta desse tipo de remédio, sem a dose ou os cuidados adequados, é capaz de provocar lesões da mucosa gástrica, úlcera aguda, sangramentos, entre outras complicações.

Então mesmo medicamentos liberados geram problemas?

Alguns medicamentos são isentos da exigência de prescrição médica para compra (MIPs) e estão disponíveis nas prateleiras das farmácias. Outros, com tarja preta ou vermelha, exigem receita e ficam atrás dos balcões. E isso não é à toa. A definição é da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) levando em conta alguns aspectos importantes.

Os MIPs estão acessíveis por serem considerados seguros o suficiente quando utilizados de acordo com as instruções presentes na bula e no rótulo. No entanto, mesmo eles, nunca devem ser tomados de forma indiscriminada. Além disso, ainda que seja um medicamento liberado, é essencial verificar com um profissional de saúde se há alguma contraindicação para cada caso específico.

Já os remédios controlados precisam de orientações de um especialista para uso. No caso de um antibiótico, por exemplo, a atenção deve ser redobrada. Seu uso indevido ou excessivo pode causar uma piora do quadro infeccioso e facilitar o aumento da resistência de microrganismos, o que compromete a eficácia dos tratamentos no combate a bactérias nocivas à saúde.

Atenção extra

A hipocondria ou “transtorno de ansiedade por doença” é um distúrbio mental crônico, caracterizado pela preocupação constante e obsessiva com a própria saúde. Os hipocondríacos tendem a interpretar erroneamente questões típicas como um indício de problema sério; ou ainda relatam insistentemente sintomas que não têm explicação para acontecerem. Uma dor de cabeça corriqueira ou resfriado leve chegam a ser considerados sinais de complicações graves.

Há, portanto, um medo irracional, persistente e irreal de ter ou desenvolver uma questão médica grave, inclusive com risco de vida, apesar de pouco ou nenhum indício aparente - e mesmo após a realização de exames para confirmação. Algumas pessoas podem até ter de fato uma doença diagnosticada, mas, devido ao transtorno, acreditam que o caso é muito pior do que realmente é.

Assim, são grandes as chances de um indivíduo com o transtorno de ansiedade por doença começar a tomar medicamentos sem prescrição. Para um hipocondríaco, muitas vezes, a automedicação é a “solução” para uma doença que não existe.

Automedicação responsável

Apesar dos riscos existirem para todos, alguns grupos são mais frágeis ou sensíveis aos efeitos do uso de remédios de forma indiscriminada, entre eles os idosos, hipertensos, portadores de cardiopatias, gestantes, lactantes, bebês e crianças, que precisam de um acompanhamento e controle mais rígidos, bem como aqueles que têm uma tendência maior em se automedicar, como, além dos hipocondríacos, quem sofre com depressão, ansiedade, desordem bipolar, esquizofrenia ou abuso físico e emocional.

Quando falamos de automedicação, não devemos esquecer ainda sobre a questão da data de validade, que sinaliza até quando um produto pode ser usado com eficácia e segurança. Sobretudo para quem mantém remédios em casa, é possível tomar uma substância vencida sem perceber, aumentando o risco de uma reação adversa.

Recomendações finais

A automedicação é tida por alguns como uma forma de autocuidado e de exercer o direito de atuar sobre a própria saúde, mas exige, como vimos, precauções e cautela. Mesmo com orientação e conhecimento sobre sua condição e o medicamento em questão, muitos pacientes extrapolam a dose, alteram a frequência e até o tempo de tratamento.

Portanto, é preciso ter em mente que qualquer remédio precisa ser administrado com responsabilidade. Ao tomar uma medicação e notar que os sintomas persistem, o surgimento de dores agudas ou efeitos colaterais indesejados é fundamental buscar com urgência orientação médica.


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