A dona de casa Aparecida Lima Cardoso, 67 anos, perdeu completamente a audição e só consegue ouvir graças à tecnologia de um aparelho auditivo. O processo, porém, não foi repentino e teve início há mais de duas décadas, desencadeado por um zumbido diagnosticado como labirintite. “Demorei a perceber o que estava acontecendo e sofri muito por conta da deficiência pela falta de compreensão da família”, conta. Ela não é a única: existem mais de 15 milhões de pessoas no Brasil na mesma situação, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo o médico Jamal Sobhi Azzam, especialista em otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, embora exista um forte componente hereditário, principalmente nos homens, todos estão sujeitos a perder lentamente a audição, especialmente após os 60 anos de idade. “As perdas acontecem por uma degeneração natural das células auditivas e constituem parte do envelhecimento natural”, afirma.
Estudos mostram uma prevalência de perdas auditivas em percentuais em torno de 60% nos indivíduos acima de 60 anos, e superior a 70 % nos acima dos 65 anos. Mas o problema é mundial, e o ruído das cidades vai tornando a população surda progressivamente. Isso porque qualquer barulho acima de 85 decibéis é prejudicial à saúde, segundo a OMS. Um quadro que leva a traumas imperceptíveis até aparecer o popular zumbido.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Otologia (SBO), entre 15% e 20% dos brasileiros têm zumbido, sintoma que indica perda auditiva. Destes, apenas 15% se sentem incomodados com o barulho e procuram ajuda médica. A entidade também aponta que cerca de 30% a 35% das perdas de audição são creditadas à exposição a sons intensos.
Para se prevenir, a saída é evitar sempre ambientes muito ruidosos. É bom também ter cuidados com o uso excessivo de fones de ouvidos em níveis altos e ter atenção aos protetores auditivos no caso de ambiente profissional que exige a medida protetiva. Azzam, que é membro titular da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, destaca ainda que é fundamental que todas as crianças realizem ao menos uma audiometria (que é o teste da audição) a partir dos 4 anos, além de todos os adultos a partir de 60 anos.
“Se diagnosticada cedo e a depender da causa, existem vários tratamentos. Mesmo que não se consiga curar, pode-se amenizar ou compensar a perda natural”, diz o médico, afirmando que novas tecnologias ajudam muito nesse processo.
Isso porque os aparelhos de amplificação sonora individual estão muito avançados e estão cada vez menores e mais discretos. “Existem vários canais de financiamento de compra dos aparelhos auditivos pelos bancos públicos, a juros muitíssimo baixos, mesmo para os que não são correntistas”.
O mais importante, destaca o médico, é jamais criticar ou denegrir quem não escuta bem. Perda auditiva é um tipo de deficiência física e é preciso entender isso e parar de se irritar com quem não escuta.