Entenda o que é e como a condição afeta o funcionamento do órgão

Verdade seja dita, celebrar as festas de final de ano com a família e os amigos faz muito bem ao coração! Entretanto, as comilanças e os excessos cometidos nesta época do ano podem trazer consequências não tão agradáveis. O nome do problema: “síndrome do coração festeiro”.

O termo, criado em 1978 pelo pesquisador Philip Ettinger e sua equipe da CMDNJ-New Jersey Medical School (Estados Unidos), até parece algo positivo, porém, reflete justamente o contrário e é capaz de gerar muita “dor de cabeça” para os festeiros de plantão. Isso porque está relacionada ao aumento de problemas cardiovasculares durante o período de Natal, Ano Novo e, para alguns, das tão desejadas férias de verão.

A “síndrome do coração festeiro” reflete a tendência de grande parte das pessoas em sair da dieta e relaxar nos cuidados, cometer extravagâncias no cardápio e, em especial, elevar consideravelmente o consumo de bebidas alcoólicas nas confraternizações e ceias. E dezembro deste ano ainda ganhou um adicional, a Copa do Mundo de Futebol, que tirou muitos da rotina, contribuindo ainda mais para o cenário.

O que ela causa?

O que caracteriza o quadro, de modo geral, é uma disfunção no sistema elétrico do coração, que leva ao aparecimento de um distúrbio agudo do ritmo cardíaco, isto é, uma arritmia. A mais frequente em pacientes acometidos pela síndrome é a fibrilação atrial.

Os batimentos do coração ficam irregulares ou descompassados. Por isso, o primeiro sintoma da síndrome tende a ser o início súbito de palpitações intermitentes ou contínuas, seguidas de dor, pressão ou desconforto no peito. Outros indícios são: fadiga excessiva, vertigem, tontura, desmaio e falta de ar (dificuldade de respirar durante as atividades normais e até mesmo em repouso).

Em curto prazo, a síndrome pode ser simplesmente um efeito colateral alarmante que merece ser monitorado. No entanto, caso o quadro persista e não tenha a devida atenção, é capaz de agravar quadros de hipertensão arterial e arritmias crônicas ou até levar a consequências mais sérias, incluindo a insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC).

Quem é afetado?

É importante destacar que, embora as chances de acometer indivíduos com fatores de risco (como pressão alta, diabetes, colesterol e obesidade) e questões cardiovasculares preexistentes sejam maiores, a “síndrome do coração festeiro” atinge pessoas aparentemente saudáveis, de qualquer idade, sem histórico pessoal ou familiar de palpitações ou arritmias, evidências clínicas ou sintomas de doenças cardíacas.

Com o que devemos nos preocupar:

1. Álcool

Consumir álcool em excesso é capaz de causar muito mais do que uma ressaca no dia seguinte. As bebidas alcoólicas estão no topo da lista quando o assunto é a “síndrome do coração festeiro”. Isso porque nas celebrações de fim de ano há uma tendência à ingestão excessiva em um período curto, um aumento do consumo não só em quantidade, mas também na regularidade.

Cuidado: a “síndrome do coração festeiro” pode atrapalhar o seu fim de ano

Crédito: Roman Samborskyi/shutterstock

A verdade é que, especialmente quando em grande quantidade, o álcool é uma toxina para o organismo. Acelera o metabolismo e aumenta a pressão arterial, fazendo a pessoa suar mais e perder sais minerais. Estimula a liberação de adrenalina e noradrenalina, hormônios que provocam a aceleração da frequência cardíaca. Faz com que o corpo perca muito potássio, tendo em vista o aumento do volume de diurese. Fatores que podem causar distúrbios no ritmo cardíaco e uma sobrecarga ao coração. Isso só para citar alguns exemplos.

Beber demais ainda pode interferir nos níveis de diabetes e triglicérides que, combinado com colesterol, estimula o depósito de gordura na parede das artérias e amplifica o risco de ataque cardíaco e AVC. Vale esclarecer que abuso de álcool é diferente de alcoolismo. Abusar é quando a pessoa bebe em grande quantidade e tem problemas. No caso da “síndrome do coração festeiro” falamos exatamente de casos assim, quando há um consumo excessivo em um curto espaço de tempo e não de forma rotineira e por tempo prologando.

2. Combinações perigosas

O cenário pode ser mais crítico quando o álcool vem acompanhado de um energético, bebida que contém cafeína (estimulante que age no sistema nervoso central) e taurina (aminoácido sintetizado no fígado e cérebro, que trabalha na regulação dos níveis de água e sais minerais do sangue).

Quando misturados, o energético potencializa o risco de arritmia, já que as substâncias de sua composição influenciam na irritação do músculo do coração, o miocárdio. Um agravante adicional é que essa combinação geralmente faz com que o indivíduo tolere uma quantidade de álcool muito maior do que o normal.

Outra combinação que merece atenção é do álcool com medicamentos. No geral, as pessoas não relacionam os efeitos associados da bebida com os remédios, mas eles existem e podem ser perigosos. E não apenas de medicamentos de uso contínuo, como aqueles para hipertensão, diabetes, problemas cardíacos ou depressão. Um simples analgésico, por exemplo, quando misturado com bebida alcoólica em excesso, pode colocar a saúde em risco. As reações vão desde alterações gastrointestinais, como náuseas e vômitos, até dores de cabeça intensas, palpitações, hipotensão, tontura, taquicardia, convulsões, intoxicação aguda, coma e a morte.

3. Alimentos

E não devemos esquecer que os alimentos também têm interferência na saúde do coração. A composição das refeições pode influenciar no funcionamento do órgão. Especialmente para aqueles com algum fator de risco, como diabetes, colesterol ou pressão alta, uma descompensação causada pelo desequilíbrio alimentar e a ingestão abusiva de sal, gorduras, frituras e doces pode desencadear, além das arritmias, retenção hídrica, crise hipertensiva, hiperglicemia, problemas circulatórios e até mesmo algo mais sério, como um infarto.

Dá para prevenir? 

Evitar a “síndrome do coração festeiro” não é tão difícil: a chave a ter em mente é a moderação, tanto em relação aos alimentos como no caso das bebidas alcoólicas. Diabéticos e hipertensos, como sabem, devem ter atenção a ingestão de doces, sal e alimentos embutidos ricos em sódio. Para equilibrar o cardápio, a recomendação para todos é investir em frutas cítricas e vermelhas, castanhas e cereais integrais. E não esquecer: hidratação é fundamental!

Além disso, é preciso investir em aspectos importantes que vão auxiliar o corpo a se recuperar desses momentos de excesso. Tenha atenção ao estresse, mantenha a prática de atividades físicas, reserve algum tempo para descansar e garantir boas noites de sono.

Cuidado: a “síndrome do coração festeiro” pode atrapalhar o seu fim de ano

Crédito: Dragana Gordic/shutterstock

Por fim, é importante deixar claro que a “síndrome do coração festeiro” é, na maior parte dos casos, reversível. O ritmo irregular geralmente desaparece espontaneamente dentro de 24 horas, com controle da dieta e a ingestão de álcool interrompida. De modo geral, o paciente diagnosticado com a condição não precisa de nenhum tratamento específico, a menos que desenvolva sintomas e questões relacionadas ao ritmo cardíaco rápido, como dispneia ou dor no peito (angina).

Em quadros mais graves, é possível que seja necessário o uso de medicamentos antiarrítmicos, como betabloqueadores - porém, sempre com orientação profissional. Por isso, caso a arritmia se estenda por horas e ainda venha acompanhada de outros sinais, é preciso procurar atendimento médico. As doenças cardiovasculares não escolhem datas. Festeje, celebre e curta, mas evite extrapolar! Com consciência e moderação é possível aproveitar sem sustos.

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