Cena 1: Tiago está no ônibus, na volta do trabalho, quando sente uma dormência nos pés e nas mãos. Passa a tremer e a suar. Imagina que está tendo um enfarte ou um AVC (acidente vascular cerebral) e é levado para o hospital. 

Cena 2: em casa, Luana sente tontura. Os pés formigam e ela começa a ter taquicardia intensa. Não consegue falar direito e sente “um medo insuportável de ter um ataque e morrer”. 

As duas histórias acima são reais. Mas, diferentemente do que pode aparentar, nenhum deles apresentava, naquela ocasião, problemas cardíacos. Os sintomas eram os de ansiedade, em uma de suas formas mais extremas. 

Segundo estudo da Organização Mundial de Saúde divulgado neste ano, o Brasil é o país com a maior taxa de casos de transtorno de ansiedade em todo o mundo. São 9,3% de pessoas que enfrentam alterações físicas, comportamentais e cognitivas. 

Eduardo Shinyashiki, mestre em neuropsicologia, explica que, na ansiedade, “há uma pressão interna grande” – que perturba não apenas a pessoa, mas também quem está à sua volta – e ela reage como se estivesse em perigo iminente. “Parece que os pensamentos ficam muito relacionados a ameaças e situações que podem não dar certo.”

Ele diz que “é como se a pessoa ficasse pensando no que é ruim, no fracasso”. E o cérebro passa a interpretar essa tensão de forma distorcida. 

Há “uma lista gigantesca” de sintomas físicos e mentais trazidos pela ansiedade. Nos primeiros estão dores – no pescoço, na cabeça, na altura dos rins, na cabeça e nas costas –, taquicardia, sudorese, respiração rápida e curta e problemas digestivos, como gastrite, entre outros.  

“Há um sofrimento por algo que não é possível definir, uma sensação de estar perdendo o controle da vida” 

Emocionalmente, a pessoa se mostra mais inquieta, insatisfeita, agitada, desconfortável, inadequada e irritável e tem dificuldade de concentração e de lidar com os problemas. “Há um sofrimento por algo que não é possível definir, uma sensação de estar perdendo o controle da vida.” Essas reações, ressalta o especialista, podem virar um vício neurológico – e a pessoa começar a responder fisiologicamente à ansiedade. 

Em parte, essas respostas são resultado de uma coleção de experiências que foram reproduzidas ao longo da vida e que produzem um modelo mental. Shinyashiki assinala que “em algum momento, a pessoa deixa de se autoperceber, de saciar duas necessidades e começa a gerar respostas que distorcem a realidade”. “E não consegue ver o que precisa ser feito.”  

A boa notícia é que, neurologicamente, é possível mudar. Quem é mais novo e, por isso, tem mais plasticidade cerebral – basta lembrar que, por exemplo, as crianças aprendem novos idiomas com muito mais facilidade que quem tem mais idade – leva vantagem. Mas todos, diz ele, conseguem mudar – só que os seniores terão de ter mais consciência, determinação e comprometimento com o novo.  

Há soluções e paliativos que podem ajudar (leia abaixo). “Quanto mais tempo a gente deixa de viver a vida que merecemos, mais medo a morte a gente alimenta. Por isso é importante que a gente possa ter compromisso grande de colocar em prática a vida que merecemos viver – e não a que a gente tem que ter para agradar as outras pessoas.” E completa: “Todo problema traz consigo a semente da solução”. 

7 passos para lidar com a ansiedade 

1.Procure um especialista – psicólogo ou psiquiatra. Há momentos em que não é possível perceber o grau de ansiedade. Um profissional pode ajudar e recomendar o melhor caminho para o paciente. 

2.Contate os amigos. Shinyashiki destaca que pessoas com ansiedade se afastem de quem mais gostam. Ao perceber isso, é o momento de telefonar e dizer o que precisa. “Todo mundo já quis pedir um colo.” 

3.Faça trabalho voluntário. “Interagir e fortalecer os valores humanos fazem com que nossa dimensão espiritual aumente e a gente comece a compreender o sentimento de serenidade e paz interior. Resgatar os valores humanos nos aproxima mais de nós mesmos.” 

4.Busque fitoterapia. Ele cita suco de maracujá e de alface, chá de camomila e raiz de valeriana.  

5.Invista em exercícios físicos. Eles estimulam o organismo a produzir endorfina, hormônio responsável pela sensação de bem-estar.

6.Procure fazer atividades em grupo. “Há homens e mulheres que redescobriram sua vida” em programas e cursos voltados à mesma faixa etária ou com pessoas que tenham os mesmos interesses. “O novo contexto começou a estimular um novo padrão de pensamento.” 

7.Dedique-se ao autoconhecimento. “É preciso confrontar o conflito e fazer o que precisa ser feito para que a causa não se perpetue. Responder: o que é que está fazendo com que eu aumente a pressão dentro de mim mesmo? Se nada nem ninguém me impedisse, o que é que eu gostaria de fazer? Há respostas surpreendentes para que a pessoa tenha autopercepção do que está fazendo com que ela fique ansiosa”, afirma. 

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