Em Portugal, a palavra “Aposentado” não existe. Lá, chama-se “Reformado”. O sentido é o mesmo: pessoa que atingiu os requisitos para auferir seus rendimentos via sistema de previdência de governo. Em Portugal, a idade mínima para se “Reformar” hoje é 66 anos, conforme Decreto-Lei 167-E/2013, do Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social. No Brasil, a palavra “Aposentado” carrega um sentido de desconexão, desvalorização e de perda de significância social atrelado a entropia dos sonhos de conquistas da mitigação de objetivos e metas, tanto no campo pessoal quanto profissional. Uma tragédia social!
A palavra “Aposentado” foi usada oficialmente pela primeira vez na Constituição de 1891, que dava direito à inatividade somente a funcionários públicos por invalidez. O certo é que valorizava-se mais a experiência do idoso do que a inovação, em épocas passadas, e assim era maior o status social das pessoas da terceira idade, seja no Brasil ou em Portugal, tanto por razões quantitativas (havia menos idosos), como qualitativas (a opinião do idoso em assuntos importantes era mais ouvida). Com o passar do tempo, a velhice, por si só, não mais conferia esse status, e o papel social perdeu seu prestígio.
Aposentar-se no Brasil traz muito simbolismos de perdas, dores e restrições, a começar pela própria palavra Aposentado que significa sair da “vida social” e ir paras os aposentos fazer nada. É nessa fase da vida que atingimos mais da metade da vida biológica, tomando como referência que o brasileiro tenderá a viver em média até os 90 anos, muito em breve. As pessoas nascidas até os anos 1960, os denominados baby-boomers, carregam essa referência ancestral que a partir da aposentadoria tudo dali para frente é mais escasso, restrito ou mais difícil, em termos de conquistas profissionais, da própria saúde, das relações afetivas e das amizades.
Defendo a ideia no meu livro “APOSENTAR E EMPREENDER – COMO ENXERGAR NOVAS OPORTUNIDADES E GANHAR MAIS SIGNIFICÂNCIA SOCIAL” de que é possível quebrar esse modelo mental pobre em paradigmas “sem sentido e até meio idiota”, prejudicial à autoestima e ao bem-estar de todos na fase da SENIORLESCÊNCIA.
Eu afirmo e defendo a tese que, se há 35 anos não tínhamos experiência profissional, não tínhamos rede de relacionamentos nem conhecimento de como construir melhor as relações interpessoais e profissionais para achar soluções que a vida exigia, além de termos construído bases familiares fortes, imagina agora que temos isso tudo em nosso poder, em nossa “bagagem da vida”. Ninguém pode “jogar a toalha da sua vida”. Ao chegar o momento de “retirar-se de campo”, devemos considerar a chegada da aposentadoria como o fim do primeiro tempo da vida pessoal e profissional, e assim, em seguida, voltar a entrar em campo para o segundo tempo da vida pessoal e profissional, seja namorando mais, cuidando melhor da saúde, voltando a uma faculdade, fazendo um curso técnico para um novo emprego ou mesmo aprendendo sobre empreendedorismo para “ser dono do próprio nariz”.
Agora, uma convocação a todos os brasileiros que estejam engajados em melhorar a vida dos idosos no Brasil: vamos incentivar o novo Congresso que se elegerá em breve a criar uma Lei para eliminar e substituir a palavra APOSENTADO por REFORMADO, criando um novo Estatuto do Idoso, pois assim estaremos preparando o país para envelhecer com mais dignidade, o qual será o maior desafio do Brasil no Século XXI: envelhecer com empoderamento, motivação, saúde, ativismo social e empreendedorismo até o último instante “do jogo da vida”. A palavra REFORMADO é mais forte, coerente e significa: replanejar, resignificar, revigorar, reagir, reapresentar-se, repensar, reafirmar, reconquistar e estar preparado de novo para vida!