Pense naquela cena de um almoço de domingo em família. Em meio à macarronada da mama, o pai ou o avô resolve falar com o filho ou a neta sobre preparação para a aposentadoria.
Será que o jovem ou a garota vão se entusiasmar com a conversa ou apenas ignorá-la ou considerá-la chata? Talvez, então, a psicologia de abordagem do tema tenha de ser outra.
E qual seria a forma mais indicada de os mais experientes promoverem essa educação financeira para que as novas gerações familiares tenham uma maturidade mais tranquila em relação ao orçamento?
Segundo Suzi Mateus de Aguiar, consultora em gestão de previdência complementar, carreira e pós-carreira e coach, o segredo do sucesso nessa comunicação intergeracional é falar em projetos e planos não só para um futuro mais distante – o daquele em que o indivíduo supostamente se aposenta – mas também para o curto e o médio prazos.
“Mesmo porque o próprio termo aposentadoria precisa ser revisto, uma vez que as novas gerações não pensam em parar de trabalhar”, confabula.
Aprendizado progressivo na preparação para a aposentadoria
Assim, vamos por etapas. Literalmente. “Não adianta esperar que o jovem faça grandes sacrifícios de consumo no presente para assegurar um futuro longínquo mais estável, não é esse o caminho”, diz a consultora. A solução, assim, é sedimentar aos poucos o aprendizado sobre a necessidade de economizar.
Um exemplo da coach sobre como principiar esse processo de uma maneira que vise a um tempo futuro, mas com uma recompensa quase que imediata, é perguntar ao jovem: “Quais os seus planos para o próximo final de semana?” “Se ele quiser ter um sábado e um domingo bem bacanas na praia, entenderá que, se comer todo dia da semana em um restaurante caro, poderá enfrentar privações monetárias em seu passeio no litoral”, estima.
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Logo, mesmo levando em conta uma realidade de poucos dias, trata-se de uma maneira eficaz de fazer esse jovem perceber que é necessário priorizar escolhas e abrir mão de certas coisas no presente para pode ter outras mais à frente.
Esse horizonte futuro de planejamento, então, pode ser ampliado com o estabelecimento de novas metas. “Se alguém quer escalar uma montanha, não pode fazê-lo do dia para a noite”, compara Suzi. “É necessário preparar-se fisicamente antes para atingir esse objetivo. O mesmo vale para a condição financeira: é preciso planejá-la.”
Benefícios futuros no radar
A consultora salienta que os mais jovens não vão querer “poupar por poupar” ou somente pensando nas necessidades de uma idade bem mais avançada, contexto que, para eles, parece ainda distante demais para suscitar preocupações. Por outro lado, podem adquirir, pouco a pouco, o hábito de guardar dinheiro com o intuito de alcançar benefícios futuros – e isso se tornar, então, uma constante para eles ao longo da vida.
Portanto, ao longo do tempo, os filhos ou netos dos 50+ vão concluir, na prática, que não existe mágica para realizar sonhos ou obter o que se deseja: é necessário reservar fundos para tanto.
“Esse raciocínio valerá também para a realização de um curso no exterior daqui a cinco anos ou uma viagem de intercâmbio”, exemplifica Suzi. “Lembrando que, à medida em que cresce o montante de dinheiro guardado, surge também o dó de gastá-lo. O mais difícil mesmo é começar a economizar.”
Educação financeira começa na infância
Como percebemos, trata-se de um processo de aprendizado que evolui progressivamente. E que, para a neuropsicóloga e coach Elaine Di Sarno, já deve começar de fato na infância.
“A partir dos quatro ou cinco anos, a criança passa a copiar o que os adultos fazem”, afirma. “Se os pais nunca fazem conta para nada, como os filhos vão aprender a economizar ou saber que é preciso de esforço para conseguir alguma coisa?”
Crédito: Pickingpok/Shutterstock
Em paralelo, Elaine ressalta que, nessa fase da vida, os pequenos são muito visuais. “Dessa maneira, um jeito lúdico de ensiná-los que o capital acumulado trará recompensas é guardar moedas em um cofrinho transparente, para que a criança efetivamente enxergue o montante economizado, e depois empregar toda essa quantia em uma compra de impacto, algo maior que dê a noção de que valeu a pena o sacrifício da poupança”, frisa.
Aprender com os erros
No entanto, nunca é tarde para concluir a importância de poupar, ainda que por meio de percalços ou tropeços. “Se o adolescente não guarda nada do que ganha e, nas férias, se vê impedido de viajar com os amigos por falta de dinheiro, isso servirá de lição para ele”, considera Elaine.
Por fim, voltando ao jantar em família, a abordagem do assunto da preparação para a aposentadoria não deve se dar em tom “aversivo, e sim afetivo”, destaca Elaine Di Sarno.
“Em vez de soar como cobrança, deve seguir a linha do ‘Como vamos trabalhar isso juntos?’, orienta. Afinal, os maiores beneficiados por essa conversa serão esses próprios jovens. Eles só precisam se convencer disso.