Manter e aplicar dinheiro na poupança deixou de ser um hábito na vida dos brasileiros por conta da crise financeira. Prejudicada por uma inflação acima da meta e pelo desemprego em nível histórico, grande parte da população recorreu à caderneta para pagar as contas e saldar empréstimos. Segundo dados do Banco Central, em abril os saques superaram os depósitos em R$ 6,305 bilhões no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo.
Gerar uma quantia para a poupança ou até mesmo para um fundo de renda fixa, por menor que o valor seja, não é está fora de cogitação no atual cenário. Basta unir esforços e cortar gastos supérfluos no orçamento doméstico, indicam economistas.
“Cortar um cafezinho [de R$ 3,50] por dia nos cinco dias úteis da semana, por exemplo, possibilita uma economia de R$ 70 em um mês. Ao ano, a economia é de mais de R$ 800, sem considerar rendimentos de uma aplicação financeira”, calcula Juliana Inhasz, sócia-fundadora da consultoria Stokos Economic Research.
Considerando os rendimentos do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), usando o rendimento mensal de abril, os mesmos R$ 800 se transformariam em aproximadamente R$ 7.000 em cinco anos. “É importante pensar no padrão de consumo familiar e cortar o que realmente não fará falta. Também é possível substituir alguns bens por outros de menor custo”, sugere a economista, que também é professora do Insper.
“Duas passagens de ônibus por dia [R$ 3,80 cada], nos cinco dias da semana, totalizam quase R$ 2.000 em um ano. Se o caminho for curto, vale a pena andar para perder peso, ganhar saúde e economizar uma boa quantia”, considera Juliana.
Outros gastos que podem ser limados do orçamento são com cigarro, compras por impulso em supermercado, idas despretensiosas ao shopping, banhos de cães e gatos em pet shop, refeições fora de casa e até uso de energia elétrica sem necessidade.
Para que o dinheiro tenha rendimento, o ideal é que seja investido inicialmente na poupança e, após chegar ao primeiro milhar, seja aplicado em fundos de renda fixa
Segundo os especialistas, para que o dinheiro tenha rendimento, o ideal é que seja investido inicialmente na poupança e, após chegar ao primeiro milhar, seja aplicado em fundos de renda fixa.
Apesar dos benefícios de ter uma poupança, Emilio Alfieri, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), afirma que os brasileiros atualmente cortam gastos e acabam realocando o dinheiro para outras despesas.
“Com a crise, não faltam contas para pagar. O dinheiro extra acaba indo para supermercado e remédios, principalmente no caso dos aposentados.”
Muitos que têm reserva financeira desde jovens estão tendo de sacar parte do dinheiro para complementar a renda ou deixam o dinheiro guardado com muita dificuldade. “É uma situação em que a pessoa escolhe entre pagar juros ou usar a poupança para sair da crise”, define.
A boa notícia, pondera o economista, é que, com hábito financeiros mais enxuto, “os brasileiros aprenderão a viver de uma forma mais simples, sustentável e terão um orçamento familiar mais estável quando a crise passar”.