Se você está começando a aplicar seu dinheiro, já deve ter entrado no aplicativo do banco ou no simulador da corretora em busca dos melhores investimentos. E, com certeza, leu ou ouviu de especialistas que o segredo é diversificar a carteira.
Mas, afinal, o que significa isso? “A diversificação permite que o investidor melhore sua condição de risco e retorno num investimento”, explica o planejador financeiro Eduardo Senra Coutinho, coordenador do curso de administração do Ibmec-MG.
E exemplifica com o caso de alguém que comprou 10 ações diferentes e aportou 10% em cada. “Se uma das empresas apresentar uma perda muito grande, esse evento irá afetar apenas 10% do investimento total; o restante poderá compensar.”
Hirbis Girolli, especialista da MAG Investimentos e colunista do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, diz que “o bom senso do ditado retrata bem o problema de não diversificar: se você tivesse só 12 ovos para comer, colocaria todos na mesma cesta?”
O economista lembra o que aconteceu com o Tesouro Direto (plataforma de compra de títulos público): “Mesmo sendo considerado o investimento mais seguro do país, a rentabilidade real de vários títulos caiu drasticamente acompanhando a queda da Selic”.
Melhores investimentos: curto ou longo prazo
Em finanças, afirma o professor do Ibmec-MG, “o mundo se divide em curto prazo, até um ano, e longo prazo, acima de um ano”. Sendo assim, “os objetivos e o tempo para alcançá-los devem ser precedidos de um planejamento cuidadoso para compatibilizar o prazo estabelecido com a capacidade objetiva de a pessoa conseguir o que almeja”.
Girolli lembra, ainda, que “a economia comportamental [que rendeu 2 prêmios Nobel nos últimos anos] já demonstrou que os seres humanos possuem mais chances de manter a disciplina em investir caso tenham objetivos específicos”, seja uma viagem, seja uma aposentadoria tranquila.
Mas ambos são enfáticos em lembrar que, antes de aportar todas as economias em investimentos, é importante ter um fundo de emergência, uma vez que não temos certeza absoluta em relação aos acontecimentos no futuro.
Crédito: ITTIGallery/Shutterstock
“Claro que podemos e devemos traçar um cenário provável, mas sempre haverá uma margem de erro. Assim, quando formos surpreendidos, o melhor é termos uma reserva para fazer frente ao ocorrido sem ter que recorrer a empréstimos bancários com juros elevados”, pontua Coutinho.
Não há um número mágico para o tamanho desse tipo de fundo. “Se o objetivo for se precaver em relação ao desemprego, por exemplo, seis meses de salários são considerados adequados. Deve-se ressaltar que há outras formas de precaução como os seguros”, diz.
“Assegurar a casa, o carro, a saúde e a vida dos provedores de renda são as formas mais econômicas de prevenção de emergências de médio e grande portes”, corrobora o especialista da MAG Investimentos.
Empréstimos, frisa Girolli, “só em último caso, quando a necessidade for enorme, e os juros estiverem dentro do razoável. Cheque especial ou cartão de crédito apenas em situações extremas, pois os juros altíssimos fazem a dívida se multiplicar rapidamente”.
Um dos estágios da longevidade financeira é a independência em relação às dívidas, observa o economista. “A pessoa torna-se mais segura e confiante quando passa da condição de pagadora de juros para recebedora de juros. Mas isso é um processo mais fácil para uns do que para outros.”
Melhores investimentos: renda fixa ou variável?
A recomendação geral é que, quanto mais próximos das metas estabelecidas, mais seguras devem ser as aplicações, ensina o professor do Ibmec. “Além disso, quanto maior a idade, menos risco deve ser assumido, pois haverá menos tempo para recuperar eventuais perdas.”
Com isso, a montagem de uma carteira de investimentos precisa levar em conta fatores individuais, principalmente os objetivos de vida para aquele momento e o perfil de risco do investidor: conservador, moderado ou agressivo. Algumas plataformas, como a da MAG Invest, indicam os melhores investimentos para cada objetivo.
No entanto, adverte Girolli, alguns cuidados devem ser tomados ao investir o seu dinheiro:
- Regra nº 1: nunca opte por pirâmides, que prometem lucros fáceis e alta rentabilidade.
- Regra nº 2: verifique se o rendimento líquido (de taxas e impostos) não está perdendo da inflação.
- Regra nº 3: não invista direto em produtos de renda variável – e até de renda fixa – sem ter estudado bem o assunto previamente e ter disponibilidade para acompanhar tudo e fazer os ajustes necessários periodicamente.
“Se não tiver essa disposição e esse tempo, é melhor entrar em uma plataforma e investir em uma carteira de fundos, que serão administrados por especialistas, que se dedicarão àquela tarefa em tempo integral”, aconselha.
E compara: “Para cozinhar um prato legal, tem que ter tempo e paciência para escolher bem os ingredientes e preparar. Se não tiver, é melhor ir a um restaurante e confiar naquele cozinheiro que cobra um preço justo pelo prato gostoso já pronto”.
São quatro os principais tipos de aplicações:
1. Renda fixa
Investimentos em renda fixa são considerados de baixo risco, porque muitas vezes têm proteção do Fundo Garantidor de Crédito (que ressarce investidores em caso de falências de bancos e outros emissores de investimentos) e estão atrelados a índices econômicos mais estáveis.
Prefixada
Ao fazer um investimento em renda fixa prefixada, é possível saber exatamente qual será o retorno no fim da aplicação. Por exemplo: 6% ao ano.
Exemplos: CDB, LCA (Letras de Crédito do Agronegócio), LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e Tesouro Direto.
Pós-fixada
Nessa aplicação, o rendimento está atrelado a algum índice da economia, como o CDI (taxa comum usada pelos bancos), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ou a Taxa Selic. Ou seja, o investidor receberá o valor emprestado mais os juros, de acordo com a variação de um desses índices. Não se sabe, portanto, o quanto receberá no vencimento do título, já que os índices variam.
Exemplos: caderneta de poupança, CDB, LCA (Letras de Crédito do Agronegócio), LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e Tesouro Direto.
2. Renda variável
Investimentos em renda variável são mais arriscados, mas costumam oferecer retornos mais altos. Os produtos são voláteis e não estão atrelados a um índice específico que garanta um determinado rendimento.
O mais conhecido são as ações, cujo preço segue a lei da oferta e da procura – quanto maior o número de pessoas comprando, mais cara ela tende a ficar, e vice-versa –, além de fatores como desempenho econômico, notícias sobre a empresa, política e economia brasileira e internacional, entre outros.
Os FIIs (Fundos de Investimento Imobiliário), embora sejam menos arriscados que ações, também são classificados como renda variável, pois estão sujeitos às variações do mercado imobiliário.
3. Fundos de investimento
Fundos de investimento são condomínios de cotistas que se juntam para adquirir títulos de renda fixa, renda variável ou ambos. A partir da classificação da Anbima (entidade controlada pelas instituições financeiras que faz a autorregulamentação do mercado), eles se dividem em relação às classes de ativos, riscos e estratégias de investimento.
Nesse primeiro nível de classificação, de ativos, que é o mais abrangente, têm a seguinte classificação:
- Fundos de renda fixa: maior parte dos recursos é investido em títulos de renda fixa;
- Fundos de ações: maior parte dos recursos é investido em ações de empresas negociadas na Bolsa;
- Fundos multimercados: liberdade para alocar nos diferentes mercados, conforme estratégia de cada gestor;
- Fundos cambiais: maior parte dos recursos é investido em títulos que variam de acordo com a cotação do dólar.
4. Previdência privada
São planos com benefícios fiscais voltados para a acumulação de médio e longo prazos. Seu funcionamento é similar ao de fundo de investimento, pois também compra títulos de renda fixa, renda variável ou ambos. A diferença é que o cliente não é cotista direto do fundo: sua vinculação é com o plano da seguradora ou do fundo de pensão.
A grande diferença entre os dois tipos de previdência privada está relacionada à declaração do Imposto de Renda.
VGBL
O VGBL é recomendado para quem usa o modelo simplificado de declaração do IR (cujo desconto é padrão de 20% e não considera deduções). As aplicações feitas no plano de previdência ao longo de ano não podem ser deduzidas do imposto; quando o valor investido for resgatado, entretanto, o IR será pago somente sobre o valor dos rendimentos, e não o total acumulado.
PGBL
Ele é recomendado para os investidores que utilizam o modelo completo de declaração, porque o investidor poderá deduzir do imposto o valor que investiu no plano de previdência ao longo do ano. Entretanto, quando for resgatar o investimento, pagará o IR sobre o total investido e os rendimentos que ele teve no período.