Os dois últimos anos foram especialmente difíceis por causa dos efeitos da crise sanitária/econômica que assolou não só o Brasil, mas o mundo inteiro. O impacto nas finanças dos brasileiros foi grande. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada em janeiro pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o ano de 2021 registrou média de 70,9% das famílias brasileiras endividadas, ou seja, a maioria absoluta da população iniciou 2022 com algum tipo de dívida que compromete o orçamento.
Até havia uma esperança de melhora do cenário econômico ainda neste ano. E a justificativa para esse “otimismo” estava no alto índice de vacinação dos brasileiros contra a covid-19. Com cerca de 80% da população imunizada, acredita-se ser seguro voltar à normalidade pré-pandemia, o que resultará na geração de mais empregos e, consequentemente, de renda, contribuindo para a redução do endividamento.
Mas não é tão simples assim. Como se não bastassem os problemas já existentes, a instabilidade política e os conflitos internacionais já estão afetando os preços do petróleo, de insumos para a agroindústria e de alimentos em geral. O impacto disso será mundial, e o nosso país não será poupado. Assim, a escalada da inflação, o aumento das taxas de juros e o desemprego serão os principais obstáculos para aqueles que lutam para sair da situação de inadimplência.
Crédito: Pla2na/shutterstock
E quem não está nessa situação tem de tomar muito cuidado para não entrar nela. Em um cenário de perda do poder de compra, é comum famílias, na tentativa de manter o padrão de vida a que estavam acostumadas, acabarem nas mesas de negociação de bancos, financeiras e redes de varejo. Não por acaso, a avaliação da CNC para o alto índice de inadimplência é de que essas famílias recorreram mais ao crédito para sustentar seus níveis de consumo.
Mas como sair do endividamento em um momento tão adverso como este? Essa é a pergunta que muitos têm feito. Os grandes desafios são o planejamento financeiro e a mudança dos hábitos de consumo. Sem planejar os gastos considerando a renda familiar, a tendência é sempre comprar mais do que devia. E aí entra o fator consumo por impulso, extremamente maléfico para o bolso de qualquer pessoa.
E um bom planejamento financeiro exige, pelo menos, uma noção dos efeitos que fatores como inflação, aumento do dólar, aumento da taxa de juros têm sobre a renda. Está aí um outro desafio: ter consciência da diminuição do poder de compra. Para manter o consumo, muitos recorrem ao crédito; porém, com a taxa de juros mais alta, o consumidor pagará um preço muito maior pelo produto adquirido, o que também contribui para a corrosão de seus ganhos. A insistência em manter o padrão pode levar à inadimplência.
O melhor a se fazer, como já foi dito, é planejar as finanças e ser comedido nas compras, evitando supérfluos. A dificuldade de fazer isso está em tomar a iniciativa. A maioria nem sabe por onde começar. Então vão aqui algumas dicas, que valem para todos, mas principalmente para aqueles que estão entre os mais de 70% citados na pesquisa da CNC.
A primeira tarefa é colocar em um papel ou em uma planilha de cálculo todas as dívidas existentes. Organize por valor total de cada uma e também por custo efetivo total (CET), que é formado por todas as taxas, mais os juros, embutidos no empréstimo. Em certas situações, se livrar de uma dívida com CET elevado, mesmo que não seja a maior da lista, é o melhor.
Com essa lista, analise os motivos que culminaram na formação de cada dívida – que fazem sentido e quais foram resultado de compra por impulso – e o peso delas no orçamento doméstico. Tomar consciência dos motivos que levam ao endividamento é fundamental para não repetir o erro. Depois, o melhor é negociar com os credores.
A partir daí, acostume-se a manter mapeados todos os seus custos fixos como aluguel, condomínio, mensalidades escolares, água, luz, gás, entre outros. Assim você saberá quanto sobra para gastos com lazer e poderá se planejar para evitar excessos. Esta é a fase em que começa a reorganização das contas pessoais e familiares. E se o resultado desse controle for uma contenção grande do consumo, muito acima do ideal, o melhor a se fazer é buscar uma renda extra.
Quando a situação estiver sanada e começar a sobrar algum dinheiro, é o momento de poupar para gerar uma reserva de emergência – aquele dinheiro para ser usado apenas em momentos de dificuldade. O ideal é que ela seja equivalente a, no mínimo, seis meses de salário. Assim, em uma situação de desemprego, haverá recursos para manter os gastos até que se consiga a recolocação profissional. Essa reserva também pode ser útil em casos de doenças ou imprevistos.
Ninguém quer passar por situações difíceis como a inadimplência. Mas esses momentos nos trazem lições, e uma delas é que devemos nos preocupar com nossa educação financeira. Aprender a gerir o próprio dinheiro é de suma importância para uma vida com menos percalços. Ela pode ser uma aliada para empoderar e melhorar a relação do indivíduo com o dinheiro. Assim, os desafios de ajustar a vida financeira ficam mais fácil de serem superados.
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