Mãe de um único filho, a dentista Renata Meirelles, 51 anos, comemorou efusivamente a entrada do jovem em uma universidade pública no interior de São Paulo. Ajudou-o na mudança, na decoração do apartamento, nas primeiras compras. E ligava todos os dias. “Mas, aos poucos, vi que ele não tinha tempo para falar comigo. Foi um choque, caí numa tristeza profunda”, lembra.
O mesmo sentimento invadiu a vida da funcionária pública aposentada Ruth Nepabuceno, 58 anos, no ano passado, quando suas duas filhas se casaram e foram morar em outros Estados. “De repente, acabou a rotina frenética e a casa ficou silenciosa”, conta. “Não tinha mais companhia para nada, estava sozinha e sem vontade, às vezes, até mesmo de sair da cama.”
Renata e Ruth sofrem de uma crise muito específica vivida no momento em que os filhos saem de casa. “Hoje trabalha-se com uma diferenciação entre Síndrome do Ninho Vazio, termo que se refere ao momento em que o último filho sai de casa, e Ninho Vazio, referente à mudança de papel dos pais”, explica Luciana Goulart Mannrich, psicóloga e fundadora da Porvir.
“Se o primeiro momento é agudo, por desestabilizar uma organização estabelecida, o segundo é de adaptação a essa mudança. Como toda crise, causa desestabilização e pode gerar tristeza e angústia. Ela costuma acontecer concomitantemente a outras crises, como menopausa e aposentadoria, que podem torná-la ainda mais difícil de lidar”, avalia.
Os sintomas
E como saber se a Síndrome do Ninho Vazio bateu à sua porta? Como o próprio nome diz, ela diz respeito a um momento vivido pela maioria das pessoas em determinada fase da vida. “Se você está triste com a partida de seu filho, se perguntando qual o sentido de sua vida sem ele e sentindo dificuldade para ter prazer em suas atividades, você provavelmente está passando por ela.”
O início, alerta a psicóloga, é pontual por estar ligado a algo muito específico. “Mas como essa crise se desdobrará depende muito de como a pessoa lida com os momentos difíceis e de sua capacidade para se refazer e encontrar novos interesses”, explica. Foi o que aconteceu com Renata, que passou a se dedicar mais ao casamento e à carreira.
“Quando você se depara com a mudança, a vida te dá todos os recursos para você se adaptar àquela nova etapa. Você tem, na verdade, é que estar muito atento a eles. Eu procuro desenvolver a habilidade de receber bem o novo. Meu filho estudar lá é uma nova etapa. É uma nova vida, para ele e para nós, os pais.”
O tratamento
“Cada pessoa vai lidar com as muitas crises que se apresentam em suas vidas de acordo com as ferramentas de que dispõe”, explica Luciana. Com Ruth, por exemplo, foi diferente. A tristeza caminhou para uma depressão, e ela buscou ajuda psiquiátrica. Fez terapia por um ano e hoje diz que o assunto é página virada: “Me doei a tal ponto que eu já não sabia mais quem eu era”.
O fato é que “a crise desencadeada pela saída dos filhos do lugar principal da vida de uma pessoa pode ser um momento muito rico de descobertas e redirecionamentos”, aponta a psicóloga. “Nunca é tarde para buscar cursos e programas com amigos que possam dar à vida um novo sentido.”
Quando os filhos compreendem que sua saída significa um momento difícil para os pais, podem tentar ser mais compreensivos e pacientes, diz Luciana. “Mas é muito importante que não se culpem por essa crise vivida pelos pais e encarem esse momento como um passo natural e importante em suas vidas.”
A prevenção
A melhor prevenção para é ter uma vida rica de interesses e paixões, com alerta ligado, em todas as fases, para que o cuidado e a atenção dispensados aos filhos não impeçam projetos individuais. “Nossa cultura ainda coloca a mulher como principal responsável pelo cuidado com os filhos, o que muitas vezes a impede de seguir estudando e se aprimorando. Mas é possível seguir com pequenos projetos que ajudem a cultivar a individualidade”, diz a psicóloga.
Para Luciana, o modo como a pessoa experiencia a Síndrome do Ninho Vazio está muito ligado à sua capacidade de elaborar perdas e lutos ao longo da vida. “Estamos sempre perdendo alguma coisa e tendo que aprender a lidar com isso. O envelhecimento e as crises que o acompanham obriga a um reposicionamento frente à vida e ao redirecionamento da energia para novos projetos. Isso pode ser muito custoso para pessoas que não aprenderam a fazer isso ao longo da vida.”