Há um antigo ditado que diz que, se você quer preservar a paz e a harmonia em grupos de amigos e familiares, então você deve evitar discussões sobre futebol, religião e política. As diferentes opiniões sobre esses três assuntos, considerados tão polêmicos, pode aumentar – e muito! – as divergências e os conflitos entre as pessoas, caso não haja respeito mútuo na colocação das ideias e na defesa dos pontos de vista.

Agora, experimente somar o ambiente democrático das redes sociais, em que todos são especialistas e defendem suas opiniões com unhas e dentes, ao momento de profunda polarização política e de ânimos exaltados pela proximidade do pleito eleitoral, que acontecerá no próximo domingo, dia 7 de outubro. O que esperar para os próximos dias?

“A polarização aumenta as chances das brigas, de desentendimentos e a troca de mensagens agressivas”, avalia a socióloga e professora do Ibmec Rio Ângela Fatorelli. “E a família não escapa desse mal contemporâneo que nos assola, de falar para sermos ouvidos pelos nossos iguais, só querendo concordância”, analisa.


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Na opinião da socióloga, o problema é que os núcleos familiares são formados por pessoas diferentes e que nem sempre pensam ou agem da mesma forma. “Mesmo entre nossa família, não há só iguais, há quem pense diferente e aí, nesse momento, o que poderia ser diálogo se torna embate”, comenta.

Para o publicitário especialista em Gestão Empresarial e Marketing, Fábio Caiado, são vários os motivos que levam a discussões acirradas na rede, mas os principais são o maior acesso à informação, graças à internet e às redes sociais, e também a disponibilidade de sites e redes sociais que deram voz a todos. “As pessoas estão definitivamente construindo opinião, o que é maravilhoso”, comemora o publicitário.

Ele defende que as redes sociais têm um lado que pode ser considerado muito positivo nesse aspecto da democratização da informação e de facilitador do diálogo e pode ser palco de grandes interações e discussões em diversos temas. “Pessoas que não conheciam um determinado assunto, passam a conhecer, e isso aos poucos vai gerando disseminação de conhecimento. Ao entrar em contato com diversos conteúdos, principalmente antagônicos, o indivíduo pode então pensar, o que é uma coisa fundamental”, justifica.

“Quando a economia vai mal, as pessoas começam a se questionar e a questionar o próximo"

Caiado também aponta a piora na economia brasileira como um dos motivos para tantos embates entre grupos polarizados. “Quando a economia vai mal, as pessoas começam a se ligar em coisas que não se ligavam antes. O maior exemplo disso foi no episódio do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton com a estagiária Monica Lewinsky”, acrescenta. “Ali você tinha escândalo para um ano de consequências, mas o povo norte-americano incrivelmente não ligou muito para o fato, pois a economia do país ia de vento em popa. Quando a economia vai mal, as pessoas começam a se questionar e a questionar o próximo”.

No entanto, discussões são sempre bem-vindas quando acontecem de forma saudável e respeitosa. Apresentar e defender ideias, argumentar e refutar, na opinião do publicitário, é um dos melhores exercícios para a intelectualidade. A seu ver, o motivo de acontecer, em muitas das vezes, desrespeitos e discussões, se deve ao fato de as pessoas ainda estarem se acostumando a usar as ferramentas disponíveis. “Sócrates fazia isso nos primórdios da filosofia. Eu particularmente venho de uma cultura familiar de discussões e divergências. Alguém de fora pensará que os almoços de família lá em casa são uma briga danada, mas não são”, garante.

O publicitário acredita que a polarização, o contraponto e o choque de ideias são extremamente positivos, pois fazem com que as pessoas pensem melhor, reflitam, estudem e se preparem mais, conseguindo se colocar de forma mais clara. “As discussões precisam acontecer com quem pensa diferente, pois com quem pensa igual o assunto nunca será tão proveitoso”, destaca Caiado.

A empresa Internetlab, em parceria com o WhatsApp, desenvolveu uma campanha para alertar sobre o problema e tentar manter a paz e a harmonia nas redes sociais durante o período eleitoral. Assista abaixo ao vídeo da campanha.

Mas nem tudo são flores e muitas vezes a falta de respeito para com as opiniões contrárias levam a brigas homéricas e até mesmo ao término de amizades de longa data. Antes que chegue a esse ponto, a socióloga do Ibmec Rio defende que deva haver um pronunciamento dos administradores do grupo pedindo moderação, calma e até mesmo sugerindo outros temas, já que muitos grupos de bate-papo são criados com um objetivo específico ou para tratar de um determinado tema. “É importante trazer a discussão de volta para o tema nesses momentos, e não só para a política, já que muitas pessoas acabam saindo dos grupos, mas terão que conviver nos ambientes originários dos grupos, a família, academia ou escola”, destaca Ângela.

A especialista também dá algumas dicas para manter a convivência de forma harmoniosa. “Não se exaltar, não tomar tudo como pessoal, apostar no diálogo e, se nada funcionar, pedir licença para sair do grupo e manter apenas a relação no mundo real, limitando o grupo no WhatsApp”, conclui.

Caiado conta que também já teve problemas com amigos que acabaram se distanciando. “Tenho um amigo muito querido que não consegui tal feito, as discussões não foram legais e ele se sentiu ofendido por colocações liberais minhas. Faz parte, acho que as pessoas deveriam sofrer menos neste processo. Mas estou aprendendo, como todo mundo. A verdade é que, se as pessoas sentarem para conversar de coração aberto, vão convergir muito mais que divergir”. E garante: “Pode polarizar que não tem problema algum”.

Seguem abaixo algumas dicas para evitar discussões nas redes sociais:

  • Procure sempre se colocar no lugar do outro e entender seu ponto de vista;
  • Entenda que, o que é bom para você, pode não ser bom para o outro;
  • Se o outro estiver nervoso, acalme-o antes de prosseguir na discussão;
  • Deixe claro seu interesse em saber a opinião do outro, mesmo que isso não vá mudar a sua. Mostre que a pluralidade é válida e super enriquecedora;
  • Não faça julgamentos;
  • Ao expor seu ponto de vista, seja o mais claro possível, usando sempre uma linguagem positiva;
  • Não leve nada para o lado pessoal;
  • Pense duas vezes antes de enviar uma mensagem, principalmente se você estiver com raiva;
  • E o mais importante de todos: quando um não quer, dois não brigam.

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