O uso excessivo de celulares e outras telas tem se tornado um desafio para pessoas de todas as idades, mas um grupo que chama atenção é o de idosos com vício em telas. Esse comportamento, que pode parecer inofensivo, está impactando negativamente a saúde mental e os relacionamentos dessa faixa etária.
Passar várias horas por dia em frente ao celular, abandonar atividades que costumavam trazer prazer ou apresentar irritação quando estão sem internet são indicativos claros de dependência digital. É importante destacar: pessoas idosas não estão imunes.
Segundo estudos, como o realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a dependência de telas está ligada a problemas como estresse, depressão e ansiedade. Para os idosos, o quadro é ainda mais preocupante, já que muitos já enfrentam isolamento social antes mesmo de desenvolverem o vício.
Além disso, diferentemente de crianças, cujo uso exagerado de telas pode gerar sintomas de TDAH, em idosos o uso massivo da internet eleva o risco de diagnósticos como nomofobia. Este é o nome do medo patológico de ficar sem o celular ou sem conexão. Ou seja, a criação de dependência por idosos com vício em telas.
Idosos com vício em telas: o que leva a esse comportamento?
Plataformas de vídeos curtos, como TikTok, Reels e YouTube Shorts, são algumas das principais responsáveis pelo consumo excessivo. Além disso, jogos casuais, como Candy Crush, com mecanismos de recompensa aleatória, também contribuem para o vício.
Para pessoas mais velhas, que não são nativas digitais, é difícil reconhecer que muitos conteúdos são montagens ou que as vidas perfeitas exibidas nas redes são idealizadas. Isso pode levar a uma angústia de comparação entre a realidade do idoso e o que ele vê online, especialmente em relação a convívios familiares maquiados.
Rodrigo Machado, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria (IPq), explica que "atecnologia vem para preencher esse buraco de uma vida que está mais esvaziada de atividades e de vínculos sociais". Ele reforça que "aquele idoso que abusa da tecnologia, muitas vezes já tem sintomas depressivos". Esse comportamento, no entanto, pode agravar sintomas depressivos e prejudicar a interação social.
Entre 2019 e 2023, a porcentagem de idosos brasileiros que usam a internet saltou de 44,8% para 66%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse aumento foi impulsionado, principalmente, durante o período de isolamento imposto pela pandemia da covid-19.
Impactos na saúde e no convívio familiar
O uso excessivo de telas não afeta apenas a saúde mental. Ele também interfere no convívio familiar. Cler Guimarães, estudante de psicologia, relata que seu avô, Ocimar, passou a sair menos de casa após descobrir o TikTok. Ocimar contou à neta que gastou todo seu pacote de dados assistindo vídeos no app e agora cogita colocar Wi-Fi em casa. O item, que antes era dispensável, passou a ter grande valor.
Aderbal Vieira Jr., médico da Unifesp, ressalta que o problema não é o celular em si. Porém, é preciso considerar o que se faz com ele. "O problema do celular é que ele tem internet, é um smartphone. Só que ninguém é viciado em celular ou dependente de celular para fazer ligação telefônica", afirma. Ele também destaca a importância de tratar o ambiente familiar. "O paciente é aquela pessoa que foi identificada com aquele problema, mas você tem uma família doente ao redor, às vezes você precisa fazer intervenção também nessa família", aponta.
Crédito: BlurryMe/Shutterstock
Tratamento e redução de danos
O tratamento para idosos com vício em telas envolve terapia cognitiva comportamental e, em alguns casos, acompanhamento multidisciplinar. A ideia é estimular a autorregulação e reintroduzir atividades que foram abandonadas, como leitura, esportes ou hobbies.
Vieira reforça que a família também deve ser envolvida no processo. "Tratar só aquela pessoa que fica dona do problema, que fica identificada com o problema, pode não bastar. É preciso olhar um pouco mais, ter uma visão angular um pouco maior", diz. Ele também sugere a redução de danos. "Se a pessoa pratica esporte, vamos aumentar o tempo de esporte. Se a pessoa gosta de ler, vamos aumentar o tempo de leitura. Se você troca um padrão de uso muito ruim por um padrão de uso mais adequado, você tratou, você progrediu".
Desinformação e analfabetismo digital
Idosos são especialmente vulneráveis a fake news e golpes online. Muitos não têm familiaridade com configurações básicas de segurança ou critérios para avaliar a veracidade de conteúdos. "A pessoa começa usando redes sociais sem entender como configurar o aparelho, sem saber reconhecer golpes ou até mesmo sem saber utilizar recursos básicos de segurança, alguns não sabem o que é e-mail", alerta Álvaro Sena Filho, presidente e fundador da Abrati (Associação Brasileira de Apoio à Terceira Idade).
A desinformação compartilhada em grupos de WhatsApp ou Facebook pode afetar decisões críticas, como recusa a vacinas ou adoção de tratamentos inadequados.
Idosos com vício em telas: como evitar o problema?
Para prevenir o problema, especialistas recomendam estabelecer limites no uso de dispositivos. Além disso, é necessário buscar atividades offline que promovam interação social e bem-estar. A chave é equilibrar o uso da tecnologia com hábitos saudáveis.
O vício em telas entre idosos é um alerta para a sociedade. Com conscientização e apoio, é possível ajudar essa geração a aproveitar os benefícios da tecnologia sem comprometer a saúde e os relacionamentos.
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