Em comum, elas tiveram uniões que duraram mais de 20 anos. Mas o processo de separação foi bem diferente para Fatima Affonso, 56 anos, e para Simone Bolleta, 44 anos. O fim do casamento foi, sim, um processo de luto para ambas. Mas, mais do que o tempo de duração, as duas tiveram recomeços e interesses diferentes.
“Meu processo foi bastante lento”, conta Fatima. “Para mim, não houve luto. Mas eu me sentia morta porque já não havia sexo nem amor entre nós”, diz ela, acrescentando que esse cenário durou oito anos até que culminasse no divórcio.
Fatima é produtora cultural e trabalhava com o então marido. Por isso, a tomada de decisão em direção à separação foi mais traumática: envolveu a vida profissional, além da pessoal.
Mas não foi só isso que a levou a adiar a separação por tantos anos. “Havia uma profunda letargia dos dois. Quando me dei conta disso, fui buscar ajuda terapêutica”, conta. “Nessa parte do processo, comecei a sair sozinha com minhas amigas e a me interessar por outros homens”, lembra.
Motivos
Nessa fase de transição, é importante observar a função que se busca suprir a partir de um novo relacionamento: diminuir a sensação de vazio deixada pelo término? Sair da solidão? Lidar com este momento de maior carência? Buscar outra pessoa para dividir bons momentos?
Para Fátima, nenhuma das respostas incluía uma nova relação, mas sim a busca de uma liberdade que nunca teve – mesmo antes de casar. “O casamento é uma instituição falida. Uma boa amizade colorida pode ser muito mais honesta”, avalia. E faz uma ressalva: “Mas, depois de cinco anos, começo a sentir falto do carinho que uma relação estável pode proporcionar”, reflete.
Primeiro passo
Simone também precisou vivenciar alguns anos de crise – na ponta do lápis, foram dois – antes de conseguir concretizar a separação. O fim do casamento, explica a jornalista, ocorreu por falta de afinidade. “Eu gosto de sair, de fazer mil atividades, e meu ex-marido é um sujeito acomodado, que não topava fazer nada. Isso corroeu nossa relação”, conta.
No entanto, diferentemente de Fátima, Simone conheceu outro homem seis meses depois. Os dois se encontraram em um barzinho que ela frequentava com a irmã e começaram a namorar.
Hoje o casal mora junto. Isso aconteceu naturalmente, ela acredita, porque não deixou de sair com a família após a separação. “Independentemente do passado, é preciso erguer a cabeça e seguir em busca da felicidade”, recomenda.
Relações facilitadas
Conhecer pessoas ficou mais fácil após o fim do casamento. Atualmente, as relações são facilitadas pelas redes sociais e aplicativos de relacionamentos como Tinder e Happn, entre outros. Além disso, é possível expandir os círculos de amizade, contatando colegas e conhecidos, e conhecer pessoas em atividades de interesse, como cursos, exposições e academias.
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A psicóloga Adriana Marques, professora de Psicologia do Centro Universitário Celso Lisboa, destaca que é preciso evitar ansiedade de conhecer logo alguém – e as idealizações que vêm com ela. “Cada indivíduo tem o seu tempo.”
Para construir um novo relacionamento, é necessário respeitar a dor e o luto e também trabalhar a autoestima. “Quanto maior o autoconhecimento, mais embasada em si mesmo serão suas escolhas”, sinaliza.