O medo de morrer sozinho tem se tornado uma preocupação crescente entre idosos que vivem sem familiares próximos. O envelhecimento populacional, aliado ao isolamento social, intensifica angústias relacionadas ao fim da vida. Especialistas apontam que cada vez mais pessoas chegam à velhice sem cônjuge, filhos ou vínculos familiares ativos, o que amplia riscos emocionais e de saúde.
Atualmente, mais de 16 milhões de idosos vivem sozinhos nos Estados Unidos. Parte expressiva desse grupo enfrenta rupturas familiares, distanciamento geográfico ou perda de vínculos ao longo da vida. Dados indicam que mais de 15 milhões de pessoas com 55 anos ou mais não têm cônjuge ou filhos biológicos. Além disso, cerca de 2 milhões não contam com nenhum familiar vivo.
O isolamento tende a se aprofundar com o avanço da idade, doenças crônicas e limitações físicas. Dos idosos que não viver em casas de repouso, 20% e 25% não mantêm contato social regular. Pesquisas mostram que esse afastamento se intensifica à medida que a morte se aproxima. Nesse contexto, o medo de morrer sozinho passa a ocupar espaço central nas reflexões pessoais.
Medo de morrer sozinho é uma preocupação crescente
Embora não existam pesquisas que aprofundem esse medo, especialistas confirmam o aumento dessa preocupação. O fenômeno está relacionado ao envelhecimento após viuvez, divórcio ou à escolha de permanecer solteiro e sem filhos. Demógrafos e profissionais de saúde observam que essa realidade se tornou mais frequente nas últimas décadas.
Jairon Johnson, diretor médico de cuidados paliativos e hospice da Presbyterian Healthcare Services, o maior sistema de saúde do Novo México, afirma que o perfil dos pacientes mudou. “Sempre vimos pacientes que estavam essencialmente sozinhos quando fazem a transição para os cuidados de fim de vida, mas eles não eram tão comuns como são agora”, diz.
A pandemia ampliou temporariamente a atenção sobre o tema, quando restrições impediram a presença de familiares em hospitais e instituições. Após esse período, a discussão perdeu espaço, apesar de o problema persistir. Para muitos profissionais de saúde, a perspectiva de morrer sozinho está associada a sentimentos profundos de abandono.
Sarah Cross, professora assistente de medicina paliativa da Escola de Medicina da Universidade Emory, destaca o impacto emocional dessa vivência. “Não consigo imaginar como é, além de uma doença terminal, pensar: ‘Estou morrendo e não tenho ninguém’”, afirma. A pesquisadora observa que mais pessoas estão morrendo em casa atualmente, sem acesso a programas hospitalares de apoio emocional.
Crédito: PeopleImages/Shutterstock
Medo de morrer sozinho e autonegligência no fim da vida
O medo de morrer sozinho também está relacionado ao aumento de casos de autonegligência entre idosos. Especialistas alertam que a ausência de pessoas confiáveis por perto compromete o bem-estar físico e emocional. Com isso, atividades básicas, como alimentação, higiene e administração de medicamentos, tornam-se cada vez mais difíceis.
A maioria dos idosos não dispõe de recursos financeiros para contratar assistência domiciliar contínua. Isso acontece principalmente porque residências assistidas apresentam custos elevados e acesso restrito. Como consequência, muitos idosos permanecem sozinhos mesmo diante de doenças terminais e limitações funcionais.
Alison Butler, doula de fim de vida que vive e atua na região de Washington D.C., acompanha de perto esse cenário. Ela trabalha com pessoas em processo de morte e também vive sozinha há mais de 20 anos. Butler reconhece que a solidão no fim da vida pode ser vivida como rejeição. Segundo ela, essa experiência pode gerar a sensação de que a própria vida “não importa e não importou profundamente”.
Institutições de longa permanência como auxílio do problema
Instituições de cuidados paliativos surgem como alternativa para alguns idosos, mas apresentam limitações importantes. Os serviços de hospice, por exemplo, são destinados a pessoas com expectativa de vida inferior a seis meses. Porém, menos da metade dos idosos com menos de 85 anos utiliza esse tipo de cuidado.
Ashwin Kotwal, professor associado de medicina na divisão de geriatria da Universidade da Califórnia em São Francisco, alerta para equívocos comuns. “Muitas pessoas pensam, erroneamente, que as agências de asilo vão fornecer pessoal no local e ajudar com todos aqueles problemas funcionais ”, diz. Segundo ele, os cuidados costumam ser intermitentes e dependem fortemente de cuidadores familiares.
Algumas agências, inclusive, não aceitam pacientes que não possuam cuidadores disponíveis. Essa restrição aprofunda a vulnerabilidade de quem enfrenta o medo de morrer sozinho. Sem apoio formal ou informal, idosos adoecidos permanecem invisíveis dentro do próprio domicílio.
Shoshana Ungerleider, médica e fundadora da organização End Well, defende intervenções precoces. Ela recomenda identificar idosos gravemente doentes que vivem sozinhos e ampliar redes de apoio social. O contato regular por telefone, vídeo ou mensagens, por exemplo, pode reduzir o isolamento emocional.
A médica ressalta que idosos não compartilham as mesmas prioridades no fim da vida. Algumas pessoas valorizam independência e planejamento antecipado. Outras desejam companhia e suporte constante. Para muitos, enfrentar o medo de morrer sozinho envolve organizar decisões financeiras, legais e funerárias com antecedência.
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