Era assim que eu me sentia cada vez que pensava na aposentadoria. Pensava que nesse momento eu perderia não só minha mesa de trabalho, mas toda uma vida construída longe dos filhos e da família, uma vida somente minha. A minha vida profissional chegaria ao fim e isso me atemorizava.
Ledo engano!
A aposentadoria pra mim tem significado trabalho com prazer.
Caiu por terra a imagem daquela velhinha aposentada que eu imaginei que iria me tornar. Nasceu uma “senhora adolescente” cheia de planos, que faz seus sonhos acontecerem, que só faz o que gosta, que viaja fora de temporada, que assiste aquela série até a hora que bem quiser e que marca seus compromissos preferencialmente depois das dez da manhã.
Administrar o horário conforme a conveniência talvez seja a maior conquista de alguém que lutou contra o relógio uma vida toda. Claro que ainda dá para ser melhor, afinal de contas no mundo real tudo é agendado e tem hora marcada, mas só eu sei o quanto essa quase total liberdade me faz feliz!
Dia desses ouvi vários relatos de pessoas que, pela falta do que fazer, deprimiram ao se aposentar. Aliás, desde criança eu sempre ouvi dizer que era isso que acontecia e confesso que tive receio de ser vítima dessa vidinha chata de aposentada.
Hoje em dia, divido meu tempo cuidando da casa, da família, programando os vídeos do meu canal no Youtube, escrevendo essa coluna, respondendo aos seguidores, palestrando, trabalhando como voluntária, administrando minhas redes sociais, indo de quatro a cinco vezes por semana à academia, aprendendo inglês, encontrando amigos e enfrentando a dura rotina de consultas, exames e aplicação de remédios de uma paciente com câncer.
Essa, realmente, não era a vida monótona de aposentada que eu tanto temia e sim a vida agitada de uma mulher aposentada ativa, que luta para viver uma velhice plena de realizações, sem chefe, sem hora de entrada e saída e com muitas férias durante o ano.
Com dois anos de aposentada, eu percebi que não perdi meu lugar no mundo, como eu achava que seria quando eu me aposentasse. Na verdade, eu conquistei o lugar que eu sempre quis, o lugar no mundo onde eu me sinto livre, feliz e realizada!
O fim da linha é quando desistimos de viver. Ter sido aposentada por invalidez em decorrência do câncer avançado foi mais um convite a vivenciar o melhor dessa vida por mais um dia, um ano ou uma década.
O tempo é relativo, a vida é efêmera e a aposentadoria pode não ser o fim da linha, mas o começo do melhor fim.