Diferentemente do racismo e do sexismo, pouco se fala do ageísmo. Mas ele está só invisível. “É o preconceito mais universal, pois afetará a todos que envelhecem, seja qual for o gênero, a raça, a orientação sexual e a classe social”, alerta o médico e professor Egidio Lima Dórea, membro da comissão de direitos humanos da Universidade de São Paulo (USP).

E as mulheres são as que mais sofrem, diz. Primeiro, “porque têm uma expectativa de vida maior que a do homem – em média, de 5 a 7 anos”. Segundo, “porque, em geral, envelhecem de uma forma mais dependente e sem condições financeiras ou suporte social”. E, por fim, “porque muitas vezes são vítimas do acúmulo de preconceitos: ageísmo e sexismo”.

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Encontrado sob diversas formas – atitudes, práticas e pensamentos discriminatórios –, 6 em cada 10 maiores de 60 anos disseram ter sido vítimas do ageísmo, segundo pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 57 países, com 83 mil participantes. No Brasil, de acordo com o Datafolha, de cada 10 pessoas, 9 acreditam existir esse preconceito.

As consequências de quem sofre ou sofreu discriminação pela idade são muitas, enumera Dórea: “perda da autoestima, aumento do risco de solidão, isolamento, depressão, incapacidade física e demência”. Além disso, “o ageísmo pode reduzir em até 7,5 anos a expectativa de vida”, diz, baseado nas pesquisas de Becca Levy, da Escola de Saúde Pública de Yale.


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No setor de saúde, há estudos que mostram que atitudes preconceituosas acarretaram em maior risco de incapacidade funcional. “Há ensaios clínicos nos quais a faixa etária não é contemplada e profissionais que dedicam menos tempo nas consultas para pacientes acima de 40 anos”, diz.

Ageísmo: campanha convida idoso a se manifestar

Para jogar luz sobre o ageísmo, a USP Aberta à Terceira Idade lança no dia 28 a campanha #OrgulhoPrateado, que vai coletar depoimentos dos 60+. “Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser idoso? Que tipo? Onde? Deixe-nos o seu relato. É importante se fazer escutado. Só assim conseguiremos melhorar como sociedade”, convida.

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“Uma das formas de conscientizarmos e combatermos o ageísmo é o de registrar os depoimentos para verificar em que situações ele ocorre mais frequentemente. Institucional? Pessoal? E de que forma ele se manifesta. Com isso, teremos dados que nos permitirão tomar atitudes mais direcionadas”, explica Dórea.

As peças publicitárias mostram mãos com as marcas do tempo. E, circundando-as, alguns mitos do envelhecimento que, segundo a OMS, fomentam o preconceito – e que precisam ser combatidos:

  • Existe um idoso típico;
  • A diversidade do idoso é aleatória;
  • Todo idoso é dependente;
  • 70 é o novo 60;
  • Boa saúde é ausência de doença;
  • Gastos com população idosa não são um investimento;
  • Aposentadoria mandatória pela idade ajuda a criar empregos para jovens.

“Diversos estudos mostram que a educação e o contato entre as diferentes gerações são as medidas mais efetivas para refletir sobre o processo de envelhecimento e a velhice de forma positiva, despertando o respeito e fortalecimento de vínculos”, defende o médico.

Segundo ele, além de passar mensagens de que o envelhecimento é natural e que pode e deve ser produtivo e enriquecedor, devemos nos orgulhar da nossa idade. “Não neguemos todo um passado construído: ele representa a nossa história, valoriza quem nos tornamos e somos.”

#OrgulhoPrateado tem parceria com a Liga Solidária e a Secretaria Municipal dos Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. Paralelamente, dois simpósios gratuitos discutirão o ageísmo: dia 30, no Centro Universitário Maria Antonia, e dia 31, na Unibes.

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