É chegada a hora de exercermos a cidadania. Em poucos meses, teremos eleições gerais e vamos votar para muitos cargos, definindo o rumo das políticas do país.

De acordo com a Câmara dos Deputados, a população idosa tem aumentado sua representação política. Os 60+ representarão 20,4% do eleitorado esse ano. Nas eleições anteriores, eram 18,8% e há 20 anos, 13,2%.

Já que os idosos crescem em representatividade eleitoral, faz sentido pensar que essa faixa etária vai ter relevância na decisão de quem vai ocupar o comando do país. Neste artigo, vamos explorar os impactos do crescimento do eleitorado 60+ nas eleições 2022.

Futuras eleições não devem nos levar a uma gerontocracia

Será que o envelhecimento da população pode nos levar a uma gerontocracia? Essa palavra difícil significa um governo exercido por pessoas mais velhas, comparativamente com a média da população.

É verdade que os idosos terão cada vez maior representatividade eleitoral. Se compararmos a quantidade de eleitores acima dos 60 anos com aqueles na faixa etária 16-24 anos, os mais velhos já são maioria desde as eleições de 2014, conforme imagem abaixo.Idosos superam faixa etária até 24 anos desde as eleições 2014. A imagem representa uma projeção para as eleições 2022.

 Idosos superam faixa etária até 24 anos desde as eleições 2014. Fonte: Portal Ecodebate / Crédito: Alex Oliveira 

No entanto, embora o gráfico nos mostre uma disparada no eleitorado 60+ e uma queda no de até 24 anos, todo o segmento intermediário, que representa os eleitores de 25 a 59 anos, vai crescer significativamente também. E esse grupo não é, tecnicamente, idoso.

Mesmo que a tendência seja que continue aumentando numericamente, o eleitorado idoso não vai se tornar uma maioria absoluta. Ou seja, seu peso eleitoral vai continuar crescendo, mas não deverá se tornar uma força política majoritária.

Mas a não constituição de um grupo de maioria absoluta não é a principal razão para que não tenhamos uma gerontocracia.

Nem PAI, nem PAN: idade não faz partido (nem grupo)

O crescimento do número de idosos é muito impressionante. Porém, o quanto os membros desse enorme segmento etário têm realmente de comum entre si?

É um equívoco muito grande – e bastante frequente – supor que, por ter atingido determinada idade, as pessoas passarão a se ver como parte de um mesmo grupo. Mais do que a não constituição de uma maioria absoluta, essa é a razão principal para não termos uma gerontocracia.

Afinal, não é necessário ter uma maioria para influenciar eleições ou decisões na esfera política. Claro que o tamanho conta para a força de um grupo político mas, acima de tudo, é fundamental que ele tenha coesão e homogeneidade na defesa dos seus interesses.

A inexistência desses fatores dentro do “grupo” idoso é revelada pelo fracasso das duas iniciativas de criar partidos políticos em torno dos interesses dos mais velhos. O PAI do Brasil (Partido dos Pensionistas, Aposentados e Idosos do Brasil) nunca saiu do papel e o PAN (Partido dos Aposentados da Nação), de tão inexpressivo, teve que se fundir a outro partido para não sucumbir à cláusula de barreira, em 2007.

Se nem a pauta das aposentadorias, subentendida no nome dos partidos como principal reivindicação social do segmento etário idoso, foi capaz de o tornar um grupo político coeso, dificilmente apenas a idade servirá de fator para isso.

Impacto dos idosos nas eleições 2022 por ora é indecifrável

A gerontocracia como expressão da vontade de uma parcela idosa do eleitorado, significativa numericamente e bem articulada politicamente, não teria nada de ilegítima, em si. Afinal, buscar representar-se faz parte do jogo democrático.

Mas, se a idade apenas não é capaz de dar coesão ao crescente segmento idoso, há algo que possa ser percebido e apontado como impacto do envelhecimento na esfera política?

Os sinais que vêm de eleições recentes mundo afora são inconclusivos. Há casos em que os idosos exibiram posturas mais conservadoras, como na saída da Inglaterra da União Europeia. Já na recente eleição presidencial francesa, os idosos ajudaram Macron a derrotar a candidata de extrema-direita Le Pen.

No Brasil, a toada é parecida. O partido político que tem mais idosos em seu quadro de filiados é o MDB: 4 em 10 são 60+. Símbolo da luta pela redemocratização, na Nova República passou a ser identificado com o chamado “centrão”.

Nas eleições 2022, o partido abriga lideranças pró-Bolsonaro, lideranças pró-Lula e uma candidata própria à Presidência, Simone Tebet.

Talvez esse seja a maior evidência de que o impacto político do crescente eleitorado idoso por ora seja indecifrável.



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