Envelhecer é uma conquista, mas também um desafio. E, se todos caminhamos nessa direção, é urgente pensar em como tornamos essa jornada mais humana. Afinal, não basta respeitar quem envelhece: é preciso praticar empatia.

Uma pesquisa realizada pela Vhita, empresa especialista em saúde e longevidade, mostra que 71% dos entrevistados têm mais medo da limitação física e das dores que surgem em idades mais avançadas. Outros receios aparecem logo em seguida: a perda de memória ou clareza mental (66%), a perda da autonomia no dia a dia (58%) e a dependência de outras pessoas (48%).

Esses números revelam que os maiores temores não estão apenas ligados ao corpo, mas também à possibilidade de perder voz, lugar e independência. Algo que todo ser humano pode vir a sentir um dia se a longevidade fizer parte da vida.

Entretanto, também há sinais positivos no envelhecimento. Na mesma pesquisa, 44% das pessoas afirmaram ter mudado suas visões negativas sobre o envelhecer; e 55% já adotam práticas de autocuidado para uma velhice mais saudável. Entre elas, boa alimentação, uso de suplementos e atividades físicas.

Duas mulheres demonstrando empatia uma com a outra, sendo uma mais velha e uma mais nova.Crédito: Dima Berlin/Shutterstock

Respeito não basta: é preciso empatia

Para o psicólogo e gerontólogo Antonio Leitão, gerente do Instituto de Longevidade, é preciso respeito e empatia quando se trata do envelhecer, havendo diferenças importantes entre os termos. “O respeito é uma postura mais formal e distante, baseada em regras sociais. Ou seja, ‘devo tratar bem porque é um idoso’. A empatia vai além: é a capacidade de se colocar genuinamente no lugar do outro, compreendendo suas emoções, necessidades e perspectivas. Enquanto o respeito pode manter distância, a empatia constrói pontes emocionais genuínas", diz.

Segundo ele, muitos idosos relatam que se sentem “respeitados”, mas, na prática, pouco compreendidos. É como se houvesse cordialidade, mas não conexão.

Ao falar sobre a relação entre sociedade e envelhecimento, Antonio é direto: “O que mais falta é a escuta ativa. A sociedade contemporânea, marcada pela velocidade e produtividade, raramente oferece tempo e espaço para que os idosos expressem suas necessidades reais.”

Para ele, a paciência e o reconhecimento — valores frequentemente citados como fundamentais — só nascem a partir da escuta genuína. Sem ouvir de fato, caímos em um círculo vicioso: presumimos o que os idosos precisam, criamos soluções inadequadas e acabamos reforçando o isolamento emocional.

Pequenos gestos que estimulam a empatia no dia a dia

E como transformar essa realidade? O gerente do Instituto de Longevidade sugere exercícios simples. Em casa, por exemplo, vale dedicar dez minutos diários para conversar sem pressa, perguntando “como foi seu dia?” para o idoso e realmente ouvindo. No trabalho, é preciso adaptar o ritmo de comunicação, repetindo informações quando necessário sem demonstrar impaciência. E em espaços públicos, qualquer pessoa pode oferecer ajuda ao perceber sinais não verbais de dificuldade, mas sempre perguntando antes de agir.

Antonio explica que esses pequenos gestos, quando repetidos, têm efeito cumulativo. Ou seja, constroem relações de confiança e reduzem o sentimento de invisibilidade.

Quebrando estereótipos

Boa parte da falta de empatia, segundo Antonio, está ligada a estereótipos que desumanizam a velhice. “Idosos são teimosos, vivem no passado ou são um fardo social. Esses preconceitos funcionam como esquemas cognitivos que filtram nossa percepção, impedindo-nos de ver a individualidade.”

A saída, segundo ele, é buscar contato com narrativas diversas de envelhecimento bem-sucedido, questionar generalizações e criar mais oportunidades de contato entre gerações. A intergeracionalidade é, para ele, uma das chaves para ressignificar o envelhecer e e gerar a empatia, que traz uma série de benefícios emocionais. 

“Quando nos sentimos compreendidos, experimentamos maior autoestima, senso de pertencimento e propósito de vida. A validação empática combate a solidão — uma das principais causas de depressão entre pessoas idosas — e fortalece a resiliência psicológica.”

Esse efeito é particularmente importante em uma fase da vida marcada por mudanças inevitáveis: perdas de pessoas próximas, limitações físicas e adaptações de rotina. 

O Brasil será um país de idosos

De acordo com o IBGE, a população brasileira deve parar de crescer em 2041, e a proporção de pessoas idosas será cada vez maior. Isso significa que a empatia não pode ser vista como gesto opcional: precisa estar no centro de políticas públicas, programas sociais, ambientes urbanos e até da mídia.

“Precisamos revolucionar a narrativa do envelhecimento: de ‘problema’ para ‘recurso social’. Construir uma sociedade empática com idosos é investir no nosso próprio futuro. Precisamos lembrar que todos envelheceremos", ressalta Antonio Leitão.

Um gesto prático para começar hoje

Empatia não exige grandes esforços. Segundo Antonio, qualquer pessoa pode começar com algo simples: “Escolha um idoso em sua vida — familiar, vizinho ou conhecido — e faça uma pergunta genuína sobre sua história: ‘Como era sua juventude?’ ou ‘Qual foi o momento mais marcante de sua vida?’. Depois, apenas escute, sem pressa nem julgamento. Esse ato de dar tempo e atenção é profundamente terapêutico.”

No fim das contas, só quem está vivo envelhece; e a empatia é a chave para que esse processo seja vivido com dignidade, saúde emocional e pertencimento.


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