Em uma manhã fria, 17 senhoras e um senhor entraram na Escola Municipal de Ensino Fundamental Guimarães Rosa, na Vila Carrão, em São Paulo. Eles não estavam levando netos para a aula e pareciam um pouco apreensivos, como se fosse a primeira vez que estivessem ali.

Todos fazem parte do núcleo Carrão do Circuito Maior Idade, uma iniciativa da Via Gutenberg. Mais do que atividades semanais, o programa desenvolveu uma tecnologia social que promove protagonismo e desafios para que idosos redescubram paixões e vocações.

Dona Fusako, uma japonesa de 84 anos, e suas amigas foram convidadas a contribuir com a escola, que fica ao lado da biblioteca pública Lenyra Fraccaroli, onde o programa se desenvolve desde 2014. O desafio partiu delas próprias, para que se aproximassem do universo escolar e buscassem interações intergeracionais com aprendizados mútuos.

A coordenadora da biblioteca, Márcia, e a facilitadora do Circuito Maior Idade, Mariam, propuseram o trabalho à instituição de ensino. Para a escola, era uma oportunidade de conectar os alunos ao bairro. Para a biblioteca, um bom resultado reforçaria a missão de estimular a leitura e interação social a partir de livros e histórias.

Marcada a data do primeiro encontro, as senhoras levantaram histórias e resgataram na memória brincadeiras de criança. A preparação, na verdade, começara muitos meses antes com oficinas de teatro, para desenvolver presença de cena; de “parkour”, para trabalhar segurança corporal; e de expressão corporal e alongamento, para equilíbrio e bem-estar corporal.

Cada pessoa foi convidada ainda a contar suas memórias, lembranças e sentimentos e compartilhá-los no grupo em gravações para a Rádio LAB60+, uma rádio digital que será lançada. Na escola, a professora Maria da Penha pediu aos alunos que preparassem perguntas para os visitantes.

No dia 9 de junho deste ano, lá foram eles para a escola. Dividiram-se em seis grupos, para que a interação acontecesse em rodas menores. Num deles, Márcia perguntou a origem dos nomes. Em outro, dona Natalina questionou a origem da família deles. Mas as crianças pareciam não se conectar com esses assuntos.

Quando já olhavam sem saber o que fazer, Dona Fusako começou a fazer exercícios com as mãos. Cada uma ia num sentido diferente – uma circular e outra pendular. Não explicou nada, nem convidou ninguém, apenas fez os movimentos e sorriu.

Com dificuldade, uma criança tentou repetir os gestos. Na sequência, estavam todos em roda, buscando copiar o movimento. E se divertindo. Quando os meninos começavam a dominar os exercícios, dona Fusako fazia outro. Eles caíam na gargalhada, rindo da dificuldade em repeti-los.

A partir daí, surgiu empatia. O grupo passou a conversar sobre brincadeiras de hoje e de antigamente. A meninada questionava como se vivia sem as tecnologias atuais. Assim, a manhã passou rápida e prazerosamente, numa troca intergeracional entre crianças de 10 a 84 anos de vida.

No fim, os alunos perguntaram: “Quando vocês voltam?" Não foi preciso relatório de resultados para ver nos rostos o frescor e a potência daquele encontro. A visita provocou um sentimento de realização e reforçou o quanto idosos podem fazer pela educação de jovens. E como o contato positivo e propositivo com crianças pode ser benéfico para a saúde integral dos mais velhos.

O caso foi relatado no 18º LAB60+Café de São Paulo, realizado em junho, como exemplo de como cidadãos e organizações podem se unir em prol da construção de bairros amigos do idoso e, portanto, de todos. O encontro teve a apresentação de outras cinco iniciativas e terminou com a certeza de que multiplicamos a possibilidade de inovar e contribuir para solucionar questões críticas da longevidade.

Esse é o proposito do movimento LAB60+: abrir espaço para conexões e inovações e criar ambientes de troca e inspiração, com interação com os principais movimentos e instituições, como o Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, que atuam em prol da revolução da longevidade.

Acreditamos que podemos viver mais e melhor. E você?

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